Introdução
O termo jazz designa um tipo de música que passou a usar-se a partir de 1913-1915, nos estados sulistas dos Estados Unidos da América, e que se tornou proeminente na viragem do século em Nova Orleães, sobretudo (mas não exclusivamente) entre os músicos negros. Os elementos que contribuíram para o surgimento do jazz foram os ritmos da África Ocidental, a harmonia europeia e o canto dos gospels americanos.
Não existe uma única definição de jazz. Muito do que se encontra escrito sobre o género versa, precisamente, sobre esta dificuldade. Uma corrente de pensamento afirma, mesmo, que “jazz não é o que se toca, mas sim como se toca”. Existem, no entanto, dois elementos indispensáveis à execução de uma performance de jazz: o swing e a improvisação.
Elementos do jazz
Uma das principais características do jazz é a improvisação. “Nenhuma apresentação ou gravação de jazz está completa se não tiver contiver algum trecho improvisado (…) Fazer jazz significa assumir um risco – o risco de se confrontar com o silêncio e preenchê-lo com um discurso inédito e próprio, o risco de ser um “compositor instantâneo”, como dizia Charles Mingus” (Publico, nd).
Por improvisação entende-se a capacidade de criar variações em torno da estrutura – linha melódica, sequência de acordes, intervalos, tonalidade, etc. – da peça no exacto momento em que se está a tocar. É um conceito facilmente compreendido mas uma capacidade que exige muito anos para se desenvolver plenamente. É também certo que esta liberdade na execução explica a razão pela qual o jazz não possui um registo de vendas em massa. O público está mais habituado a consumir música subordinada à melodia e estrutura.
Outra característica que define o jazz é o swing que, enquanto conceito, não é de fácil precisão. De acordo com o André Francis, no seu livro «Jazz», “tocar com swing, swingar, significa trazer à execução de uma peça um certo estado rítmico que determine a sobreposição de uma tensão de um relaxamento” (Publico, nd). O swing é, portanto, um modo de execução musical no qual as notas têm uma duração ligeiramente reduzida, permitindo que o seu ataque fora do tempo, quase imperceptível, origine um resultado significativamente maior: o aumento da flexibilidade e vitalidade da música. A dificuldade no swing encontra-se, precisamente, na capacidade de atingir este efeito, sem abandonar o sentido de precisão e direcção musical.
Breve história do jazz
O jazz passou por uma sucessão de transformações extraordinárias no espaço de um século, evoluindo de acordo com uma variedade de tendências que se alternavam em direcções opostas.
O termo começou a ser usado no final dos anos 10 e início dos anos 20 para descrever um tipo de música que surgiu, no final do século XIX, em Nova Orleães. Conhecido como ragtime, era um estilo muito sincopado, com a presença predominante do piano (embora alguns tivessem letras e fossem cantados). Entre os expoentes do rag para piano destacam-se Scott Joplin, Jelly Roll Morton e J.P. Johnson. Alguns dos rags foram escritos – por exemplo, «Maple Leaf Rag» de Joplin – mas eram sobretudo improvisados, pelo que não existem muitos registos.
No início do século XX, assistiu-se ao início da loucura dos blues. Com origem nos espirituais negros, é uma forma largamente vocal, que exige um estado de espírito melancólico por parte do intérprete. Os instrumentos mais proeminentes eram o trompete, o cornetim, o saxofone ou o trombone. Uma das principais figuras dos blues foi o compositor W.C. Hardy, que criou clássicos de jazz como «Memphis Blues» (1909) e «St Louis Blues» (1914). Bessie Smith e, mais tarde, Billie Holiday, foram cantoras de blues excepcionais.
A partir de 1912 surgiu um estilo conhecido como dixieland, que usa elementos tanto de ragtime como de blues, e possui a característica de improvisação do grupo dirigida pelo trompetista. Os seus expoentes são considerados “oficialmente” os primeiros músicos de jazz: a Original Dixieland Jass Band do cornetista Nick LaRocca, o pianista Jelly Roll Morton, o cornetista King Oliver com a Original Creole Jazz Band e o clarinetista e sax-sopranista Sidney Bechet. Em Chicago encontravam-se os trompetistas Louis Armstrong e Bix Beiderbecke e em Nova Iorque o pianista Fats Waller.
Nos anos 20 o jazz tornou-se mais sofisticado e espalhou-se enquanto moda social. Deu-se a emergência do arranjador de jazz e, com ele, das big bands. A harmonia tornou-se mais convencional e as melodias eram tocadas pela secção instrumental completa com os solos como peças centrais de exibição. Estas bandas possuíam estilos individuais marcados. Paul Whiteman, por exemplo, popularizou o «jazz sinfónico» usando violinos e arranjos elaborados. Noutro extremo, encontrava-se o estilo negro de Duke Ellington, o primeiro grande compositor jazz.
Em meados dos anos 30 surge o primeiro estilo maciçamente popular do género, o swing. As bandas de “swing” – dirigidas por virtuosos como Benny Goodman (clarinete), Jimmy Dorsey (saxofone alto), Gene Krupa (bateria), Glenn Miller (trombone), Tommy Dorsey (trombone), Artie Shaw (clarinete) – focavam-se na precisão, no arranjo e no trabalho do conjunto. Embora a banda de Ellington fosse influenciada pelo swing, os seus membros eram executantes tão soberbos e individualistas que as improvisações mantiveram um papel muito importante em grande parte das suas composições.
Em 1945 surgiu um estilo muito mais radical, não tão palatável ao gosto popular, o bebop, que seria revisto, radicalizado e ampliado nos anos 50 com o hard bebop. As características principais do bebop eram o ritmo, o scat-singing (vocalização sobre sílabas sem sentido) e o facto de ser interpretado por grupos pequenos. O executante dominante deste período foi o saxofonista Charlie Parker. Outras figuras importantes foram o trompetista Dizzy Gillespie, o saxofonista tenor Stan Getz e os bateristas Kenny Clarke e Max Roach.
Nos anos 50, surgiu o cool jazz, em resposta à agressividade do bebop e do hard bebop. Esta corrente, ritmicamente mais simples, embora preservasse harmonia do estilo precedente, era dirigida pelos trompetista Miles Davis e pelo pianista Lennie Tristano. Mais tarde, o cool jazz de músicos como Chet Baker, Bill Evans, Stan Getz e Gerry Mulligan ficou conhecido como west coast jazz (porque nasceu em Los Angeles).
Com o início dos anos 60, deram-se as primeiras manifestações do free jazz, que dava voz às perplexidades e incertezas da época. A cena jazzística foi ensombrada pela emergência da pop e do rock. Deste modo, no final dos anos 60, deu-se a fusão entre o jazz e o rock, resultando num primeiro momento em obras vigorosas e inovadoras.
Já nos anos 80 surgiu uma nova forma, mais comercial, de jazz fusion, chamada smooth jazz, que se tornou muito popular através da rádio. Surgiram, entretanto, outras formas, derivadas da fusão entre o jazz e estilos de música diversos, como o jazz latino ou o afro-cuban jazz. Actualmente existe espaço para cultivar todos os géneros jazz, desde o dixieland até ao experimentalismo free.
References:
Conceito de jazz. Em http://conceito.de/jazz
Elementos do Jazz. Publico. Em http://static.publico.pt/coleccoes/jazz/drt.elementos.asp
Historia do Jazz. Publico. Em http://static.publico.pt/coleccoes/jazz/drt.historia.asp
Kennedy, M. (1994). Dicionário Oxford de Música. Publicações Dom Quixote.