Relações nocivas começam a ser construídas na infância e traduzem-se em relações semelhantes na vida adulta. Por esse motivo é necessário compreender de que tipo de relação falamos, através das falhas afetivas vividas durante os primeiros anos de vida.
Segundo Rodrigues e Chalhub (2009) as relações nocivas começam na infância e provocam consequências na vida adulta, quando o vínculo com a principal figura cuidadora é mal constituído. Neste tipo de relação o indivíduo desenvolve relações nocivas baseadas na insegurança porque procuram nos respetivos parceiros o afeto que ficou fragmentado na infância (Rodrigues, & Chalhub, 2009).
Apesar da influência dos vínculos nas relações infantis, nem sempre o processo se traduz em relações nocivas, pelo que as pessoas reagem de formas diferentes a diferentes situações, devido ao fato de serem todas diferentes (Rodrigues, & Chalhub, 2009).
Sentimentos como o medo de perder, a ansiedade de separação, a ilusão da permanência, entre outros também nocivos, são alguns dos que constituem as relações nocivas iniciadas na infância com os familiares ou cuidadores mais próximos (Rodrigues, & Chalhub, 2009).
De acordo com a teoria de Bowlby (2002, cit in Rodrigues, & Chalhub, 2009) o amor recebido, habitualmente através dos pais, é a garantia da criança de receber cuidados tais como alimentação, abrigo, afeto e tudo aquilo que garante a sobrevivência.
Para falar de relações nocivas é necessário compreender o comportamento de apego inserido no comportamento social e semelhante ao comportamento parental, que pode assumir contornos seguros ou inseguros, e ambivalentes (Rodrigues, & Chalhub, 2009). A diferença entre um comportamento de apego seguro e inseguro está no acesso do indivíduo aos cuidados maternos, durante a infância; no caso do comportamento de apego ambivalente, verifica-se dificuldade em construir relações duradouras e comprometidas, por questões de baixa autoestima, o que gera sentimentos de solidão (Rodrigues, & Chalhub, 2009).
Indivíduos que constroem relações ambivalentes, são instáveis porque misturam comportamentos de segurança com comportamentos de insegurança, pautados pela necessidade de conquista ao mesmo tempo que possuem medo da perda, o que os leva ao constante estado de alerta emocional, sem a capacidade de visualizar um futuro saudável e duradouro para as suas relações afetivas (Rodrigues, & Chalhub, 2009).
Tal como já foi dito, o sentimento de apego ambivalente provém de uma relação nociva na infância em que a vinculação com a figura cuidadora não ficou bem estabelecida, o que gera conflitos nas relações mais tardias e provocam insatisfação e dependência de terceiros (Rodrigues, & Chalhub, 2009).
Relações nocivas na infância provocam, desta forma, ansiedade, depressão, instabilidade emocional, frieza e dificuldades nas interações sociais (Rodrigues, & Chalhub, 2009).
Uma das situações que pode criar uma relação nociva é a separação entre a mãe e a criança pequena, levando a uma quebra emocional para ambas, com fortes consequências na vida futura da criança (Rodrigues, & Chalhub, 2009). São estes os vínculos onde se verifica maior incidência de relações nocivas na vida adulta (Rodrigues, & Chalhub, 2009).
Pelo contrário, indivíduos cujo vínculo com a figura mais próxima na infância, foi devidamente construído, apresentam competências nas relações adultas, mais saudáveis porque a interação nunca constituiu um obstáculo para eles (Rodrigues, & Chalhub, 2009).
No caso de indivíduos cujo comportamento é pautado pela ambivalência, as relações na vida adulta são inconstantes devido à confusão emocional, que os leva a depositar a sua atenção no outro em primeiro lugar ao mesmo tempo que a sua autoestima se mantem em níveis inferiores, traduzindo-se em relação nociva com o outro (Rodrigues, & Chalhub, 2009). Perante estes aspetos, parece evidente a grande importância das relações familiares para compreender o desenvolvimento da personalidade do indivíduo ao nível das relações interpessoais (Rodrigues, & Chalhub, 2009).
Personalidades perturbadas reduzem a capacidade do indivíduo para discernir acerca da sua posição perante os outros e vice versa (Rodrigues, & Chalhub, 2009).
O DSM-IV (2003, p.83-84, cit in Rodrigues, & Chalhub, 2009) define ” transtorno de apego reativo na infância, um tipo de vínculo social acentuadamente perturbado e improprio para o nível de desenvolvimento na maioria dos contextos inciando antes dos cinco anos”. Pode ver-se aqui um apego inseguro na infância a criar laços nocivos nas relações adultas (Rodrigues, & Chalhub, 2009).
Conclusão
As relações nocivas têm, habitualmente, origem na construção de vínculos afetivos durante a infância. Isto significa a presença de falhas nos cuidados prestados, normalmente pela mãe, ou por outra figura mais próxima, seja no afeto, na alimentação, nos cuidados de saúde, etc. Este comportamento inadequado adotado pela figura que cuida, leva a consequências nefastas na vida adulta do indivíduo cujo tipo de relação que estabelece com os outros, principalmente com o par afetivo, tende para ser nocivo porque se baseia em dependência emocional, na tentativa de colmatar a falha da infância.
References:
- Rodrigues, S., & Chalhub, A. (2009). AMOR COM DEPENDÊNCIA: UM OLHAR SOBRE A TEORIA DO APEGO. [em linha] PT, O PORTAL DOS PSICÓLOGOS. www.psicologia.com.pt. Acedido a 14 de junho de 2016 em www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0155.pdf.