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Trypanosoma cruzi
Trypanosoma cruzi | ||||||
Taxon não definido | Filo | Classe | Ordem | Família | Género | Espécie |
Excavata | Euglenozoa | Kinetoplastae | Trypanosomatida | Trypanosomatidae | Trypanosoma | T. cruzi |
Distrib. Geográfica | Ciclo de vida | Hospedeiro intermediário | Hospedeiro definitivo | Doenças |
Sul dos EUA e América latina | Heteroxeno | Hemípteros da subfamília Triatominae | Humanos e outros mamíferos | Tripanossomíase americana (Doença de Chagas) |
Características gerais |
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Estrutura | Fusiforme com flagelo e membrana ondulante |
Reprodução | Assexuada por cissiparidade |
Tamanho | 16 – 42 µm |
Formas parasitárias | Amastigota, epimastigota e tripomastigota |
O Trypanosoma cruzi é um protozoário de género Trypanosoma. A sua descoberta deu-se no início de século XX pelo médico bacteriologista Carlos Chagas. A doença causada por este parasita é a Tripanossomíase americana, conhecida como doença de Chagas, uma doença crónica incurável que leva ao falecimento de mais de 10 mil pessoas por ano nas zonas endémicas.
Perspetiva histórica
Evidências da presença do Trypanosoma cruzi no continente americano remontam a 150 milhões de anos. Estudos do genoma deste parasita encontrado em múmias (7.500 AC – 1.500 DC) indicam uma origem pré-columbiana, contrariando a hipótese deste ter sido trazido pelos colonos.
A descoberta e identificação de T. cruzi aconteceu no início do século XX quando o médico bacteriologista brasileiro Carlos Chagas foi enviado ao Norte do estado de Minas Gerais para participar numa campanha de combate à malária. Foi aí confrontado com a presença de percevejos hematófagos (Triatomíneos) que picavam os habitantes durante o sono. Em 1909, Carlos Chagas identificou pela primeira vez a doença causada por este tripanossoma, a tripanossomíase americana ou doença de Chagas, numa menina de dois anos que apresentava febre e o baço, fígado e nódulos linfáticos inchados assim como numerosos tripanossomas na circulação sanguínea. A espécie de tripanossoma foi batizada Trypanosoma cruzi em homenagem a Oswaldo Cruz, mentor de Carlos Chagas.
Vários outros investigadores também contribuíram para a caracterização do T. cruzi e da doença de Chagas. O zoólogo e parasitologista checo Stanislaus von Prowazek, em colaboração com Oswaldo Cruz, identificou e caracterizou o T. cruzi, o patologista brasileiro Gaspar de Oliveira Vianna descreveu a fase intracelular do parasita, a forma amastigota, em células do coração e do músculo-esquelético, o patologista francês Alexandre Brumpt estabeleceu o modo de transmissão tendo chegado à conclusão que a infeção não se dava por inoculação mas por contaminação do local da picada por fezes do triatomíneo e o epidemiologista argentino Salvador Mazza levantou pela primeira vez a possibilidade do T. cruzi poder ser transmitido através de transfusão sanguínea.
Distribuição geográfica
As populações expostas a este parasita vivem da metade sul dos Estados Unidos (EUA) até ao sul da Argentina, sendo o risco de infeção diretamente ligado à presença do vetor no local. O T. cruzi é endémico na América latina, não o sendo nos EUA, onde se verificam ciclos enzoóticos (endémicos em animais). Contudo, o parasita também é detetado no ser humano em zonas não endémicas, tais como nos EUA, na Austrália, no Japão e em quase todos os países da Europa ocidental, principalmente devido a migrações de pessoas infetadas
Vetor
O vetor do T. cruzi é um percevejo hematófago pertencente à subfamília Triatominae (Família Reduviidae). As espécies Triatoma infestans, Rhodnius proxilus e Panstrongylus megistus são dos vetores mais importantes.
Os triatomíneos vivem nas fendas das paredes e dos telhados das casas mais pobres nas zonas rurais e nos subúrbios das cidades. Encontram-se distribuídos da metade sul dos EUA até ao sul da Argentina. No entanto, a Tripanossomíase americana não é endémica nos EUA em parte devido ao acabamento das casas que reduz a presença destes insetos no interior das habitações norte-americanas, reduzindo por sua vez a probabilidade de contaminação dos habitantes.
Foram identificadas 180 espécies de mamíferos como sendo reservatórios do T. cruzi, espécies pertencentes às ordens Artiodactyla, Carnivora, Cingulata, Chiroptera, Didelphimorphia, Lagomorpha, Perissodactyla, Pilosa, Primata e Rodentia.
Ciclo de vida
O Trypanosoma cruzi passa por diferentes fases ao longo do seu ciclo de vida (Fig. 1) apresentando as formas amastigota, epimastigota e tripomastigota.
1- O T. cruzi é um tripanossoma do tipo stercoraria. A forma infetante, o tripomastigota metacíclico, desenvolve-se na região posterior do tubo digestivo do vetor.
É transmitido ao Homem (e a outros mamíferos) quando o triatomíneo se alimenta e defeca perto do local da picada (que ocorre frequentemente na cara de indivíduos adormecidos). A sensação de prurido provocada pela picada faz com que o hospedeiro coce essa zona. As fezes, que contêm tripomastigotas, entram então em contato com o local da picada e os parasitas passam para a corrente sanguínea;
2- Os tripomastigotas invadem as células vizinhas e diferenciam-se em amastigotas intracelulares. Estes multiplicam-se por fissão binária, transformam-se novamente em tripomastigotas e rompem a célula hospedeira;
3- Os tripomastigotas migram através do tecido intersticial e invadem as células vizinhas e /ou circulam pelo sangue e infetam novas células mais longínquas onde se diferenciam novamente em amastigotas. O ciclo de infeção e destruição celular repete-se.
Várias áreas do corpo são afetadas incluindo o coração, a musculatura lisa do tubo digestivo, o fígado e o cérebro. Podem ser observados pseudocistos, por exemplo no músculo cardíaco, formados por células hipertrofiadas cheias de amastigotas.
4- O triatomíneo é infetado quando de alimenta do sangue de um ser humano ou animal que contem tripomastigotas circulantes;
5- Os tripomastigotas ingeridos diferenciam-se em epimastigotas no intestino médio do triatomíneo;
6- Os epimastigotas multiplicam-se por fissão binária no intestino médio originando milhares de parasitas adicionais;
7- Quando atingem o intestino posterior, os epimastigotas diferenciam-se em tripomastigotas metacíclicos. O ciclo inicia novamente quando o inseto infetado se alimentar.
Ao contrário do que acontece no ciclo de vida do Trypanosoma brucei, os tripomastigotas de T. cruzi circulantes no sangue não se multiplicam. A replicação só acontece na forma intracelular amastigota ou quando são ingeridos pelo vetor.
Outros modos de transmissão do T. cruzi incluem a transfusão de sangue, a transmissão congénita, a transmissão sexual, a amamentação e o transplante de órgãos. O T. cruzi também é capaz de atravessar membranas mucosas intactas tais como a conjuntiva ou o epitélio gástrico (no caso da ingestão de comida ou bebida contaminada por ex.).
References:
Center for Disease Control and Prevention. (2013). Parasites – American Trypanosomiasis (also known as Chagas Disease). Available: http://www.cdc.gov/parasites/chagas/index.html. Last accessed 22nd Feb 2016.
Herrera L (2014) Trypanosoma cruzi, the causal agent of Chagas disease: boundaries between wild and domestic cycles in Venezuela. Front. Public Health 2 (259). doi: 10.3389/fpubh.2014.00259
Paniker, C.K. (2013). Haemoflagellates. In: Paniker, C.K. and Ghosh, S. Paniker’s Textbook of Medical Parasitology. 7th ed. New Dehli: Jaypee Brother Medical Publishers. p38-62.
Steverding, D. (2014). The history of Chagas disease. Parasites & Vectors . 7 (317). doi:10.1186/1756-3305-7-317
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Zeibig, E. (2014). Hemoflagelados. In: Zeibig, E. Parasitologia Clínica: Uma abordagem clínico- laboratorial. 2nd ed. Rio de Janeiro: Elsevier. p104-128.