Perturbação mental
A perturbação mental diz respeito à existência de um quadro clínico patológico ao nível mental, que tem repercussões na qualidade de vida do doente.
De acordo com os trabalhos de Dimenstein, Severo, Brito, Pimenta, Medeiros e Bezerra (2009) o tema da perturbação mental sofreu algumas alterações, nos últimos anos, dos pontos de vista culturais, sociais, políticos, familiares e governamentais.
Trata-se de uma questão de saúde do foro da psiquiatria em que importa não afastar o indivíduo do seu meio, isto é, evitar que ele fique circunscrito ao espaço hospitalar, abordando e intervindo ao nível familiar (Dimenstein et al, 2009).
Segundo Kim-Cohen, Caspi, Moffit, Harrington, Milne e Poulton (2016), a ciência já contempla, também, a informação e a evolução que permitem intervir ao nível da prevenção da perturbação mental, começando por questionar o doente em relação ao tempo que sofre os sintomas. Este levantamento de informação através da anamnese, vem no sentido de compreender a origem da perturbação, já que, na maioria das vezes, a mesma tem bases na infância da pessoa (Kim-Cohen et al, 2016).
No entanto, além da anamnese e da importância da prevenção, é fundamental que o doente portador de perturbação mental, seja sempre acompanhado por uma equipa multidisciplinar, aquando do ato de diagnóstico e intervenção (Dimenstein et al, 2009).
“Segundo o Ministério de Saúde (Brasil, 2005), os principais desafios da Reforma Psiquiátrica é que 3% da população necessita de cuidados contínuos em saúde mental, o que exige uma rede de assistência densa, diversificada e efetiva.” (Dimenstein et al, 2009, p.65).
Algumas das formas mais eficazes de promover um atendimento multidisciplinar é através da articulação entre os cuidados médicos, psicológicos, de aconselhamento, de grupo, entre outros (Dimenstein et al, 2009).
Todos estes cuidados têm por base a reforma a que se assistiu, dentro das instituições de saúde, no que concerne ao tratamento dado aos doentes, já que nem sempre os portadores de perturbação mental foram tratados da mesma forma, antes e depois da Segunda Guerra Mundial (Dimenstein et al, 2009).
Durante o período pós Guerra, as instituições de saúde mental, começaram a focar mais a sua intervenção na produção da mesma, propriamente dita (Dimenstein et al, 2009). Esta alteração em relação à perturbação mental, implicou uma reformulação completa de toda a estrutura associada ao internamento na área da saúde mental (Dimenstein et al, 2009).
A importância desta reformulação em relação à intervenção em perturbação mental, deveu-se à necessidade de extinguir a alienação destes pacientes, possibilitando-lhes uma reinserção em sociedade, que permita que os mesmos não vivam limitados à ala psiquiátrica e aos cuidados apenas dos profissionais de saúde envolvidos (Dimenstein et al, 2009).
Todo o processo teve como objetivo intervir ao nível da qualidade de vida (qdv) do doente focando o acompanhamento na questão do acolhimento, cosofrim respeito pelo mento do mesmo e da família (Dimenstein et al, 2009).
De acordo com a importância de todo o contexto em que o paciente se insere, os estudos levados a cabo por Kim-Cohen et al (2016) sugerem também a importância de rastrear, não só o histórico de perturbações mentais, sofridos pelo indivíduo, como ainda compreender em que medida é que as mesmas tiveram o devido acompanhamento, principalmente na infância e na adolescência, aquando do seu diagnóstico.
Quanto ao método interventivo propriamente dito, deve privilegiar tanto o acompanhamento ao doente em contexto hospitalar, como também nos outros contextos que fazem parte do seu dia a dia (Dimenstein et al, 2009).
Este tipo de cuidado de saúde, implica que os profissionais se envolvam, totalmente, com o tratamento do doente, criando vínculos também com os seus familiares e amigos (Dimenstein et al, 2009).
A atenção dada ao contexto em que o portador de perturbação mental se insere, permite intervir de uma forma mais positiva e eficaz, além de promover a sua qdv (Dimenstein et al, 2009).
O motivo de compreender todo o meio envolvente que faz parte da vida do doente, tem como base o facto de, na maioria dos casos de perturbação mental, tais como depressão, ansiedade, personalidade antissocial, etc, evoluíram de quadros clínicos associados à hiperatividade com défice de atenção infantil, a qual, não teve o acompanhamento adequado (Kim-Cohen et al, 2016).
Conclusão
O estudo da perturbação mental tem como base, não só a intervenção, propriamente dita, como a anamnese, ou seja, a histórica de vida, já que, na maioria dos casos, se verifica que o quadro clínico está associado a problemas provenientes da infância que não foram alvo do acompanhamento adequado. Além disso, é fundamental que se intervenha ao nível de todos os contextos da vida do doente, além do momento em que ele se encontra na instituição de saúde, já que, a compreensão da forma como vive o seu dia a dia, permite perceber a sua qdv. Por último, é importante ainda compreender o doente não apenas de forma individual, mas nos diferentes contextos, isto é, familiar, social e laboral. De referir ainda que o acompanhamento deve ser feito, sempre, de forma multidisciplinar e articulada para garantir a sua maior eficácia.
References:
- Dimenstein, M., Severo, A.K., Brito, M., Pimenta, A.L., Medeiros, V., & Bezerra, E. (2009). O Apoio Matricial em Unidades de Saúde da Família: experimentando inovações em saúde mental. Saúde Soc. São Paulo, v.18, n.1. p.63-74. 2009 http://www.revistas.usp.br/sausoc/article/view/29512/31374;
- Kim-Cohen, Julia, Caspi, Avshalom, Moffit, Terrie E., Harrington, HonaLee, Milne Barry J., & Poulton, Richie. (2016). Prior Juvenile Diagnoses in Adults With Mental Disorder. Arch Gen Psychiatry /Vol 60, july 2003. http://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/fullarticle/207619?resultclick=1.