A perturbação da consciência está associada a diferentes tipos de psicopatologia que estão, frequentemente, associados entre si. Fala-se aqui de perturbações ao nível da construção de identidade, de personalidade, de despersonalização, entre outros tipos de patologia que vão influenciar, significativamente, toda a construção do Eu do indivíduo e, consequentemente, o seu quotidiano.
Algumas considerações históricas…
Segundo Berrios (2011), na primeira metade do século xix, a perturbação da consciência dava pelo nome de delírium ou turvação da consciência. Mais tarde, ela tornou-se mais associada a um estado de confusão devido aos contornos limitativos ao nível intelectual que demonstra (Berrios, 2011). O autor distingue a confusão do delírium na medida em que a confusão se associa mais especificamente à incoerência de ideias que o indivíduo apresenta ao passo que o delírium está associado a duas áreas diferentes, ou seja, a perturbação perceptiva e a perturbação motora (Berrios, 2011).
De referir ainda que existe um denominador comum entre o delírium e a confusão, sendo que, para Berrios (2011), ambos têm a característica de turvação da consciência e desorientação temporoespacial.
Para Chaslin (1920 cit in Berrios, 2011) a confusão é caracterizada pela complexidade de funções que afeta como as intelectuais, as afetivas e as volitivas.
Nos dias de hoje…
No que concerne a conceptualizações mais atuais, a perturbação da consciência associa-se a diferentes limitações ao nível da personalidade, com as quais o indivíduo tem de viver, caracterizadas por vários focos como a instabilidade no que concerne à sua autoimagem, ao relacionamento interpessoal, à perturbação da própria identidade, entre outros (Gonçalves, & Vasco, 2001).
Em muitas situações diz mesmo respeito a quadros de perturbação da personalidade como é o caso dos quadros de borderline (Gonçalves, & Vasco, 2001).
De acordo com Gonçalves e Vasco (2001) a perturbação da consciência está ainda associada a diferentes patologias como a perturbação de identidade, a impulsividade, a ideação paranóide transitória, a co-morbilidade, entre outras.
Nestes casos, o indivíduo sofre várias lacunas no que diz respeito à forma como constrói a sua identidade, de uma forma muito fraca e instável, o que, consequentemente, o leva a confundir situações como objetivos e prioridades (Gonçalves, & Vasco, 2001).
Consequentemente surge uma grande tendência para a desmotivação, a baixa persistência em relação aos objetivos a alcançar e a dificuldade em colocar expetativas de sucesso face a situações que coloquem obstáculos à realização dos objetivos e das metas (Gonçalves, & Vasco, 2001).
Para fazer o diagnóstico, os estudos levados a cabo pelos autores indicam que é necessário fazer uma avaliação cuidadosa tendo em conta diferentes variáveis como:
- Características do paciente e do problema
- Crenças e distorções cognitivas
- Défices comportamentais
- Problemas interpessoais e emocionais
(Gonçalves, & Vasco, 2001).
Estes indivíduos tendem à necessidade patológica de procurar proteção e, ao mesmo tempo, à dificuldade em encontrar meios de sobrevivência para colmatar essa mesma necessidade (Gonçalves, & Vasco, 2001). Esta situação gera, muitas vezes, a sensação de raiva de a agressividade para com os elementos mais próximos (Gonçalves, & Vasco, 2001).
Tendo em conta que estamos no âmbito das perturbações de personalidade, é fundamental que a aliança terapêutica entre o paciente e o psicólogo seja positiva pelo que há que haver sentimentos eficazes de transferência e de contra-transferência, ou seja, o paciente tem de ser capaz de confiar no psicólogo (Gonçalves, & Vasco, 2001).
Conclusão
Verifica-se que a perturbação da consciência assume diferentes contornos em termos patológicos que vão levar a diferentes diagnósticos como perturbações de personalidade, despersonalização, perturbação de identidade, quadros de borderline, entre outros.
Devido à sua complexidade e às características que lhe são inerentes, é imprescindível que, indivíduos diagnosticados com este tipo de perturbação, sejam acompanhados de uma forma meticulosa, a qual, deve ter início logo na relação terapêutica, uma vez que o processo de recuperação só acontecerá de forma eficaz a partir do momento em que se estabeleça uma aliança terapêutica sustentável e adequada.
References:
- Berrios, G.E. (2011). Delirium e confusão mental no século xix: uma história conceitual. Revista latino-americana de psicopatologia. São Paulo, v.14, n.1, p.166-189, março 2011. Recuperado em 2 de novembro de 2017 de http://www.redalyc.org/html/2330/233018495012/;
- Gonçalves, Isabel C., & Vasco, António Branco. (2001). Estudo de caso de uma “perturbação Borderline” de personalidade do modelo de “complementaridade paradigmática”. Psicologia, 15(2), 227-266. Recuperado em 2 de novembro de 2017 de http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20492001000200002.