Paternidade na adolescência diz respeito a situação de ter um filho na fase entre os dez e os vinte anos, aproximadamente. Trata-se de um estágio de desenvolvimento em que o jovem ainda procura a sua identidade pessoal e que, por consequência da nova condição, tem de se adaptar e adquirir responsabilidades que seriam para assumir na fase adulta.
Segundo as palavras de Levandowski e Picchini (2004) há uma grande falha no que diz respeito aos estudos sobre a paternidade na adolescência, porque a maioria deles apenas contempla o lado materno, embora haja cada vez mais casais de adolescentes a assumir a educação de um bebé. Por este motivo, há necessidade de colmatar a falha e prestar atenção, também, ao pai adolescente (Levandowki, & Picchini, 2004).
A revisão bibliográfica levada a cabo por Paulino, Patias e Dias (2013), corrobora esta teoria, quando refere que, a mesma ênfase dada nos estudos à maternidade na adolescente, deve também ser dada no caso da paternidade já que também os adolescentes do sexo masculino vêm a sua vida transformada aquando de uma gravidez.
Alguns autores definem a adolescência como uma fase que acontece antes de o jovem completar 20 anos de idade, contudo, “Ser pai prematuramente, segundo alguns convenções culturais, pode causar preocupação e resistência no meio social, pois a adolescência, de maneira geral, é concebida como um período no qual o indivíduo ainda se encontra em formação tanto biologicamente quanto psicologicamente” (Paulino, Patias, & Dias, 2013, p.2).
É importante perceber que a adolescência se caracteriza por ser uma fase de desenvolvimento das mais complexas, de vários pontos de vista, tis como o biológico, o psicológico e o social (Knobel, 1981, cit in Levandowki, & Picchini, 2004).
Uma vez que falamos de uma fase de desenvolvimento complexo e que o papel do pai é de extrema importância na nossa sociedade, é natural que, quando a paternidade chega antes do tempo, isso possa ser um fator gerador de bastante stresse (Levandowki, & Picchini, 2004).
Além disso, a adolescência é pautada, principalmente pela construção da autonomia, por parte do indivíduo em relação aos pais, contudo, a partir do momento em que estamos perante uma situação de paternidade, essa autonomia acaba por ser afetada porque o adolescente acaba por não ter a possibilidade de a construir gradativamente, já que o apoio dos pais se torna imprescindível (Levandowki, & Picchini, 2004).
É importante compreender que o adolescente está, nesta fase, numa maior busca pela sua própria identidade, e, por conseguinte, a desenvolver competências de intimidade, o que significa que ele deve conhecer-se bem a si mesmo antes de entrar em relações afetivas (Levandowki, & Picchini, 2004). Quando isso não acontece e, ao mesmo tempo, ele se depara com uma situação de paternidade, as consequências podem trazer falta de sensibilidade no que concerne aos cuidados a ter com o bebé (Levandowki, & Picchini, 2004).
A respeito disto Paulino, Patias e Dias (2013) dizem que a adolescência, como fase de muitas mudanças cognitivas, físicas, sociais e psicológicas, por excelência, não é o momento em que o indivíduo está mais preparado para encarar as responsabilidades inerentes à paternidade, uma vez que a mesma está diretamente ligada ao estádio adulto.
Também a própria adolescência em si, devido a todas as modificações que lhe são características já é uma fase de procura de identidade e alguns conflitos interiores, por si mesma (Paulino, Patias, & Dias, 2013).
A falta de preparação para a paternidade está também relacionada com lacunas acerca da informação pertinente sobre os métodos contraceptivos que também é bastante comum na fase adolescente e é essa lacuna, uma das maiores responsáveis pelo número de adolescentes grávidas. (Levandowki, & Picchini, 2004).
No entanto, não podemos deixar de referir que, uma vez tornando-se pais, os adolescentes têm por hábito, na maioria dos casos, desenvolver sentimentos de proteção, cumplicidade e compromisso com as mães dos seus filhos, quando se mantêm juntos (Paulino, Patias, & Dias, 2013). Por esta fase, é comum que estes pais comecem a adotar comportamentos mais adultos devido à nova condição em que se encontram (Paulino, Patias, & Dias, 2013).
Em outro tipo de situação, como aquela em que o pai adolescente já não se encontra com a mãe da criança, a forma de lidar com a situação é completamente diferente, uma vez que a tendência é para se preocupar menos tanto com o bebé como com a mãe, devido ao medo que a situação acarreta (Paulino, Patias, & Dias, 2013).
Conclusão
A paternidade na adolescência mostra-se complexa na medida em que, tanto como no caso da maternidade, ela também aparece numa fase de grandes mudanças e de procura de identidade por parte do indivíduo. Vale, no entanto, dizer que é comum estes jovens adotarem comportamentos adultos, principalmente quando se encontram junto da mãe da criança e que, apesar de não terem ainda a sua independência e de precisarem muito do apoio dos pais, eles não deixam de se preocupar e responsabilizar tanto com a mãe como com o filho.
References:
- Levandowski, Daniela. C.L., & Piccinini, Cesar A. PATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA: ASPECTOS TEÓRICOS E EMPÍRICOS. Rev Bras. Cres. E Desenv. Hum. [online], S.Paulo, 14(1), 2004 [citado 2016-07-20]. 51-67. Disponível em revistas.usp.br/jhgd/article/download/39792/42654;
- Paulino, Geanne Pereira Alves, Patias, Naiana Dapieve, & Dias, Ana Cristina Garcia. Paternidade Adolescente: Um Estudo sobre Autopercepções do Fenômeno. Psicologia em Pesquisa [online] UFJF | 7(2) [citado 2016-07-20] 230-241. Disponível em pepsic.bvsalud.org/pdf/psipesq/v7n2/11.pdf.