Intervenção psicoterapêutica
A intervenção psicoterapêutica, em saúde, pretende estimular o indivíduo a expressar sentimentos e pensamentos que lhe causam sofrimento. Pretende-se orientar o paciente no sentido da reorganização mental das suas emoções acerca das suas experiências de vida.
De acordo com os estudos de Schmidt, Gabarra e Gonçalves (2011) a intervenção psicoterapeuta em contexto de saúde começou a ganhar terreno a partir da década de 70, altura em que a profissão do psicólogo passou a ter a importante tarefa de apoiar esclarecer e informar adequadamente os utentes acerca das suas patologias, integrando, deste modo, uma equipa multidisciplinar.
Uma das situações em que a intervenção psicoterapeuta se mostrava mais importante era em casos de doenças terminais cuja patologia levava a que toda a família se tornasse foco de intervenção uma vez que a doença trazia sofrimento para todos os membros (Schmidt, Gabarrra, & Gonçalves, 2011).
Deste modo, instituiu-se a unidade de cuidados de família para dar resposta a estas demandas (Schmidt, Gabarrra, & Gonçalves, 2011).
Na mesma linha teórica, os estudos de Oliveira, Santos e Mastropietro (2010) já vinham mencionando o boom da intervenção psicoterapêutica e a sua importância, ao longo da década de 90, junto de pacientes oncológicos e das suas famílias.
No entanto e apesar de o psicólogo ter uma participação bastante significativa no que concerne à intervenção junto de doentes terminais, o assunto da morte continua a ser tratado com tabu, mesmo ao longo dos cursos de pós graduação de especialização na área (Schmidt, Gabarrra, & Gonçalves, 2011).
A propósito da dificuldade de se falar sobre a morte, mesmo em contexto de formação especializada, deve-se ao facto de o ser humano ser o único animal que tem consciência acerca do fim da vida, o que ele associa à solidão, ao desprendimento das ligações afetivas que construiu ao longo da vida, aos relacionamentos interpessoais e ao sofrimento associado à ideia de morte enquanto caminho sem saída (Oliveira, Santos, & Mastropietro, 2010).
Quanto à intervenção psicoterapêutica no âmbito hospitalar, a principal função do profissional é garantir a possibilidade de os utentes poderem expressar-se, de acordo com aquilo que sentem, o que se mostra como uma estratégia que melhora a qualidade de vida dos mesmos e permite trabalhar a capacidade de comunicação (Oliveira, Santos, & Mastropietro, 2010; Schmidt, Gabarrra, & Gonçalves, 2011).
A importância deste recurso, além de todos os pontos já mencionados deve-se à necessidade de enfrentar a fase terminal, depois de todos os recursos que mantêm viva a pessoa enferma, já terem sido esgotados (Oliveira, Santos, & Mastropietro, 2010).
Este tipo de intervenção deve ainda ser acessível a todos os membros da família, ou seja, tanto ao paciente como aos restantes membros, para que se possa prevenir patologias futuras associadas a quadros de depressão e ansiedade decorrentes de um luto mal cumprido (Schmidt, Gabarrra, & Gonçalves, 2011).
Uma outra questão a explorar é a capacidade de todos os familiares poderem resolver assuntos que estão menos bem esclarecidos entre eles e que lhes possam causar mal-estar, para que se possa reorganizar o ambiente familiar após a partida do ente próximo (Schmidt, Gabarrra, & Gonçalves, 2011).
Este tipo de intervenção psicoterapêutica deve incluir todos os membros da família, todos devem partilhar sentimentos entre si, incluindo as crianças que também devem ter uma participação ativa no processo (Schmidt, Gabarrra, & Gonçalves, 2011).
A intervenção psicoterapêutica associada às doenças terminais, acarreta, por si só, um peso bastante grande, pelo que é muito importante que o psicólogo seja capaz de estimular a partilha de pensamentos e sentimentos entre os membros da família, de forma empática e sem deixar transparecer qualquer tipo de impressão acerca da situação (Oliveira, Santos, & Mastropietro, 2010).
De uma forma geral a intervenção psicoterapêutica deve ocorrer, essencialmente, com a capacidade de desprendimento no que concerne a sentimentos, valores, crenças, preconceitos, e até mesmo vontade de impor determinado ponto de vista (Oliveira, Santos, & Mastropietro, 2010). Este cuidado visa não influenciar o outro segundo a perspectiva do próprio psicólogo, uma vez que o objetivo principal é o alivio da dor emocional, principalmente do paciente que está enfermo (Oliveira, Santos, & Mastropietro, 2010).
Conclusão
A intervenção psicoterapêutica, em contexto hospitalar, destina-se à partilha de sentimentos, pensamentos e emoções, partilhados pelos pacientes e seus familiares no sentido de aliviar qualquer sentimento de dor ou de sofrimento que estejam a viver. Uma das situações em que se recorre cada vez mais à ajuda do psicólogo é no caso da intervenção junto de doentes terminais e suas famílias, tanto no sentido de preparar a família para a partida do ente querido como no sentido de ajudar os vários elementos a conseguir reorganizar-se após a morte.
References:
- Oliveira, Érika Arantes de, Santos, Manoel Antônio dos, & Mastropietro, Ana Paula. (2010). APOIO PSICOLÍGICO NA TERMINALIDADE: ENSINAMENTOS PARA A VIDA. Psicologia em Estudo, Maringá, v.15, n.2, p.235-244, abr/jun, 2010. Recuperado a 08 de outubro de 2016 de http://www.producao.usp.br/handle/BDPI/6703?show=full
- Schmidt, Beatriz, Gabarra, Letícia Macedo, & Gonçalves, Jadete Rodrigues. (2011). Intervenção psicológica em terminalidade e morte: relato de experiência. Paidéia, 21 (50), 423-430.