Gestão do stresse profissional em saúde
A gestão do stresse a nível profissional em saúde é algo imprescindível para quem lida diariamente com pacientes e as suas enfermidades. Deve ser feita ao longo do tempo e abarcar todas as pessoas que coabitam no mesmo espaço hospitalar, ao serviço dos pacientes.
Os profissionais de saúde constituem um grupo, cuja atividade profissional se inclui nas chamadas profissões de ajuda e cuja atividade é caracterizada, essencialmente, por apresentar exigências múltiplas, quer a nível físico, quer a nível psicológico (Sacadura-Leite, & Sousa-Uva, s.d.). São essas últimas exigências que parecem contribuir para estados de stresse relacionado com o trabalho e também de burnout neste setor de atividade (Sacadura-Leite, & Sousa-Uva, s.d.).
O estado de stresse relacionado com o trabalho parece ser influenciado pela personalidade do indivíduo e também por outros fatores individuais ou comuns a um determinado grupo de pessoas em que esta variável atua da mesma forma (SPECTOR, 1999, ci in Leite, & Uva, s.d.).
Sacadura-Leite e Sousa-Uva (2007) consideram, na mesma linha de ideias, que a indução de estados de stresse, acontece de acordo com o que percecionamos em determinada circunstância externa, o que a torna decisiva para provocar essa reação.
As situações geradoras de stresse no trabalho dos profissionais de saúde, embora sejam por muito reconhecidas, têm sido um pouco abandonadas nos estudos de investigação, pois sabemos que os serviços de saúde e os hospitais em particular constituem organizações muito peculiares, concebidas quase exclusivamente em função das necessidades dos utentes (Sacadura-Leite, & Sousa-Uva, s.d.).
As organizações hospitalares são sistemas complexos compostos por diferentes departamentos e profissões, tornando-se sobretudo organizações de pessoas que enfrentam, todos os dias, situações emocionalmente muito intensas (Sacadura-Leite, & Sousa-Uva, s.d.). Com efeito, nos últimos anos, muito se tem falado de humanização hospitalar verificando-se que, os estudos desenvolvidos têm como objetivo primordial a qualidade de serviços prestados a quem procura e necessita de cuidados hospitalares, ou seja, os utentes (Sacadura-Leite, & Sousa-Uva, s.d.).
As condições de trabalho, a motivação e o bem-estar dos profissionais de saúde têm sido passados para segundo plano (Martins, 2009, cit in Sacadura-Leite, & Sousa-Uva, s.d.).
Os estudos demonstram que as instituições de saúde, especialmente os hospitais e os centros de saúde, constituem ambientes de trabalho contendo caraterísticas organizacionais geralmente associadas com o stresse: heterogeneidade de pessoal, interdependência de responsabilidade e especialização profissional (Ferreira, 2010). Recentemente, outros aspetos têm sido associados aos profissionais de saúde para explicar os níveis de stresse elevados, sugerindo que a responsabilidade por pessoas é geradora de mais stresse do que a responsabilidade por coisas, englobando aqui, a responsabilidade perante os doentes, familiares, equipa, pessoal administrativo e organizações profissionais (Ferreira, 2010).
Compreende-se que não pode haver vida sem exigências e sem necessidade de adaptações os desafios são inerentes ao estar vivo, e são a motivação e são essenciais para gerar ações (Ferreira, 2010). O stresse não é necessariamente disfuncional e é uma condição indispensável à vida, desde que dentro de determinados limites, porque impulsiona o indivíduo a realizar uma análise mais prudente das suas necessidades, levando-o a procurar soluções e possíveis alternativas (Ferreira, 2010). Esta atitude permite a reformulação de problemas com consequente oportunidade de recuperar o equilíbrio em que esta dimensão positiva dos estímulos é também conhecida por eustresse conferindo maior vitalidade, entusiasmo, otimismo, criatividade, participação, produtividade, motivação, autorealização e melhor resistência à doença (Frasquilho, 2003, cit in Ferreira, 2010).
Múltiplos estudos, predominantemente descritivos e transversais, identificaram como fator indutor de estado de stresse predominante em profissionais de saúde a carga de trabalho elevada (Sacadura-Leite, & Sousa-Uva, s.d.). Outros fatores, tais como os conflitos interpessoais, a falta de suporte social, o contato com doentes terminais e as exigências emocionais dos doentes e dos seus familiares têm sido repetidamente identificados (Sacadura-Leite, & Sousa-Uva, s.d.). Contudo, estados de stresse relacionado com o trabalho em profissionais de saúde podem estar relacionados com múltiplas fontes, dependendo da organização, do setor específico, das funções desempenhadas e da resposta individual às possíveis circunstâncias indutoras das reações de stresse (Sacadura-Leite, & Sousa-Uva, s.d.).
Conclusão
A gestão do stresse em profissionais de saúde é inevitável uma vez que diz respeito às profissões que mais contatam diretamente com pessoas e as suas vidas. Por esse motivo, o profissional de saúde convive diariamente com os mais variados tipos de exigências, personalidades e realidades, o que o leva a ter, obrigatoriamente de conseguir gerir constantemente as suas emoções, reações, estado psicológico, etc. Todos estes fatores podem ser muito desgastantes devido à natural complexidade da condição física e psicológica humana.
References:
- Ferreira, A.S.S. (2010). A GESTÃO DO STRESS OCUPACIONAL EM ENFERMEIROS INTENSIVISTAS. Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Vila Real, Portugal;
- Sacadura-Leite, E., & Sousa-Uva, A. (s.d.). Fatores Indutores de Stress em Profissionais de Saúde.