Gaguez na infância
A gaguez na infância define-se por quebra ou irregularidade na produção das palavras, prejudicando a fluência verbal.
De acordo com o DSM-IV (1995, cit in Silva, Martins-Reis, Leite, & Celeste, 2011) a gaguez é originada por uma quebra ou agitação na fluência verbal cujos episódios aparecem com bastante frequência.
Merçon e Nemr (2007) mencionam a importância de distinguir entre uma gaguez normal na infância e uma gaguez patológica que afeta o desenvolvimento saudável da criança, no que concerne à fala e à linguagem, pelo que o ideal é que o diagnóstico seja feito o mais rápido possível. Esta necessidade deve-se ao facto de que a gaguez, muitas vezes, torna-se crónica e provoca consequências negativas nas relações da criança e na sua comunicação (Merçon, & Nemr, 2007).
É habitual que ocorra, temporariamente, durante a infância, uma fase de episódios de gaguez, definidos como disfluência normal da infância (Merçon, & Nemr, 2007; STUMM, 2001, cit in Silva, Martins-Reis, Leite, & Celeste, 2011) aquando do ajuste da linguagem. Estes episódios por fases temporárias, são naturais, no entanto, quando falamos de gaguez patológica, devemos ter em conta vários pontos contextuais da vida da criança que são orgânicos, genéticos, sociais e emocionais (Merçon, & Nemr, 2007).
Os estudos levados a cabo por Silva, Martins-Reis, Leite e Celeste (2011) corroboram esta investigação, na medida em que, como já foi mencionado, referem as habituais fases de gaguez passageira, fruto da aquisição de competências de linguagem, características da infância, que podem amenizar e extinguir-se ao longo do tempo, ou então, tornar-se crónicas. Para que a gaguez provocada por disfluência normal da infância, seja considerada normal e passageira, a mesma deve extinguir-se em seis meses (Silva, Martins-Reis, Leite, & Celeste, 2011).
Falamos de maturação fisiológica e neuroanatómica, na fase pré-escolar e que se associa às capacidades metalinguísticas, pelo que, de acordo com a investigação científica, podemos verificar que a gaguez é originada nos múltiplos centros cerebrais de linguagem (Merçon, & Nemr, 2007).
Silva, Martins-Reis, Leite e Celeste (2011) mencionam os contornos do foro fonoarticulatório, que, quando está comprometido, prejudica a fluência da fala, principalmente quando existe um interlocutor, problemas psicológicos e conflitos internos inerentes à criança.
Para Andrade (2004, cit in Silva, Martins-Reis, Leite, & Celeste, 2011) existem três tipos de gaguez, sendo eles a gaguez neurogênica, a gaguez psicogênica e a gaguez idiopática, ou do desenvolvimento. A primeira advém de uma lesão cerebral, proveniente de situação traumática ou vascular, a segunda devido a algum acontecimento do foro psicológico, com contornos emocionais ou psiquiátricos e a terceira, de origem desenvolvimental, que se inicia entre os 18 meses e os 7 anos e que pode prolongar-se até aos 12 anos (Silva, Martins-Reis, Leite, & Celeste, 2011). No que refere a esta última, devido à sua origem, pode estar relacionada como sistema nervoso central com base genética e pode prejudicar a vida psicossocial do indivíduo, sendo que a incidência da mesma é de 80% dos casos, na infância, tornando-se crónica em 20% deles (Silva, Martins-Reis, Leite, & Celeste, 2011).
Nesse sentido, Merçon e Nemr (2007) consideram a importância de um ambiente acolhedor, para que a manifestação de gaguez na criança, não se verifique de forma tão acentuada, muito embora o mesmo não seja decisivo no surgimento ou não desta. É importante, por isso, que se faça uma avaliação adequada, para que o clínico possa observar em que situações se encontram mais episódios de gaguéz e a forma como a criança lida com essas dificuldades (Merçon, & Nemr, 2007).
Nos casos em que os episódios de gaguez se mostram normais, com contornos apenas de alguma dificuldade na fala, o clínico terá apenas de orientar os pais e/ou educadores, para que estes sejam capazes de proporcionar à criança melhores condições de comunicação, tais como, evitar exigências exageradas acerca da sua capacidade de diálogo, focando-se naquilo que ela diz e não na forma como o diz, para que o seu desenvolvimento possa ocorrer na normalidade (Merçon, & Nemr, 2007).
Conclusão
A gaguez na infância pode ser passageira ou tornar-se crónica, uma vez que, na maioria dos casos, a mesma acontece, pelo menos durante um espaço de tempo. A diferença entre um tipo de gaguez e o outro é que, durante o período em que a criança está a adquirir competências verbais e, em algum momento apresenta episódios de disfluência verbal, os mesmos corrigem-se naturalmente, com orientação do fonoaudiólogo e dos pais. No caso da gaguez crónica, a mesma prolonga-se ao longo do tempo e torna-se cada vez mais frequente.
References:
- Merçon, Suzana Maria de Amarante, & Nemr, Katia. (2007). GAGUEIRA E DISFLUÊNCIA COUM NA INFÂNCIA: ANÁLISE DAS MANIFETAÇÕES CLÍNICAS NOS SEUS ASPECTOS QUALITATIVOS E QUANTITATIVOS. Rev CEFAC, São Paulo, v.9, n.2, 174-9, abr-jun;
- Silva, Fabiane Pereira, Martns-Res, Vanessa, Leite, Rita de Cássia, & Celeste, Letícia Correa. (2011). PERCEPÇÕES E ATITUDES SOCAIS DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE BELO HORIZONTE SOBRE DISFLUÊNCIA NORMAL DA INFÂNCIA E GAGUEIRA. Revista Pedagógica-UNOCHAPECÓ – Ano 14 – n.26 vol.01 – jan/jun. Retirado a 25 de agosto de 2016 de http://bell.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/pedagogica/article/view/1275/705.