O feminismo transgénero é um movimento que pretende dar voz ao assumir do género com que a mulher se identifica, independentemente do sexo com que nasceu. Em contraponto com o género binário, procura a igualdade no que diz respeito à identidade de género entre mulheres transgénero.
Pelos estudos de Jesus e Alves (2012) podemos entender o feminismo transgénero como uma filosofia que pretende colocar em prática a identidade de género feminista. Este conceito visa levar a cabo um movimento feito por mulheres e para mulheres no sentido de permitir a liberdade das mesmas face à identidade de género (Jesus, & Alves, 2012).
Segundo Jesus (2014) o feminismo transgénero pretende, de forma feminista, discutir acerca da subordinação do indivíduo do sexo feminino ao seu género biológico, o qual, de acordo com a mesma teoria, é imposto por questões históricas e psicossociais. Esta crítica contrapõe a definição do sexo binário, ou seja, do sexo feminino e sexo masculino, pressupostos a partir do órgão com que a pessoa nasceu, pénis/vagina (Jesus, 2014).
O feminismo transgénero pretende, não só, contrapor esta imposição como ainda chamar a atenção para a condição de mulheres cisgénero histerectomizadas e/ou mastectomizadas, ou homens na mesma situação, isto é cisgnénero orquitectomizados e/ou emasculados, bem como casais heterossexuais com comportamentos quer sexuais quer de afeto que não se enquadram nos tradicionais (Jesus, 2014).
É de referir que, ao contrário das mulheres cisgénero, as mulheres que se enquadravam no feminismo transgénero, inicialmente não eram consideradas mulheres de verdade (Jesus, & Alves, 2012)
Este conceito procura distinguir género de sexo, entendendo que a condição biológica não é forçosamente aquela com que a pessoa se vai identificar no que concerne à questão do género (Jesus, 2014).
O mesmo baseia-se em diferentes campos do saber, tendo sido construído, em parte, pelo feminismo negro bem como outras correntes provenientes do feminismo (Jesus, 2014).
O movimento emergiu, incialmente, do efeito da emancipação da mulher, nos anos 70 do século XX, contudo, nesta fase, ainda não levava em conta a emancipação da mulher negra, pelo que, no começo, abarcava apenas os direitos das mulheres brancas (Jesus, & Alves, 2012)
Tal como no caso das pessoas cisgénero, estas pessoas também debatem o conceito social de género, entendendo que este pode mesmo ser vivido de formas diversas (Jesus, 2014).
De acordo com a sua investigação acerca do tema, Jaqueline Gomes de Jesus percebeu, em muitas das suas pesquisas, que as mulheres transsexuais, eram frequentemente consideradas menos mulheres devido à sua condição, por não terem útero (Jesus, 2014).
“(…) a de que seriam menos mulheres – ou que não seriam mulheres – por não terem a essência feminina supracitada atribuída a um órgão reprodutivo, o útero” (Jesus, 2014).
Esta forma o feminismo transgénero pretende dar voz à compreensão da identidade de género destas mulheres, em oposição ao conceito binário, já anteriormente mencionado, pelo que, dentro dos grupos feministas, as mesmas possam assumir livremente a sua identidade, de acordo com o género com o qual se identificam e sendo aceites como tal (Jesus, 2014).
Vários estudos pretendem desta forma lutar pelo direito das mulheres feministas em definir a sua própria identidade, em liberdade e de modo a serem respeitadas por isso (Jesus, & Alves, 2012). Além da luta pelo direito à identidade de género, o feminismo transgénero também pretende que a mulher tenha o direito de tomar as suas próprias decisões acerca do seu corpo sem qualquer imposição limitativa seja de ordem política, médica ou religiosa (Jesus, & Alves, 2012).
Conclusão
O feminismo transgénero visa colocar em prática os direitos das mulheres de forma mais ampla e diversificada, ou seja, além de procurar lutar pelos direitos das mulheres em sociedade, também pretende que os mesmos abarquem a sua identidade de género. As mulheres feministas transgénero procuram o direito a serem respeitadas pelo género com que se identificam, sem se limitarem, por imposições de ordem política, médica ou religiosa, ao sexo binário. É esperado, com este movimento, que os grupos feministas transgénero tenham a liberdade de se assumir da forma como se reconhecem, sem ser, obrigatoriamente, em consonância com o sexo biológico com que nasceram.
References:
- Gomes de Jesus, Jaqueline. (2014). Género sem essencialismo: feminismo transgénero como crítica do sexo. Universitas Humanística, (78), 241-257. Retrieved August 21, 2018, from http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0120-48072014000200011&lng=en&tlng=pt.;
- Jesus, J.G., & Alvs, H. (2012). Feminismo transgenero e movimentos de mulheres transexuais. REVISTA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA UFRN | DOSSIÊS | 9. https://periodicos.ufrn.br/cronos/article/download/2150/pdf