O fenómeno transformista diz respeito à montagem realizada por um indivíduo para se apresentar de acordo com a imagem do sexo oposto, em contexto de trabalho. Diz respeito a uma arte associada ao mundo do espetáculo.
Bortolozzi (2015) fala do fenómeno transformista referindo algumas personagens de novelas que vestiram a pele de um artista da classe, como foi o caso de Sarita, personagem transformista da novela “Explode Coração”. Nas novelas, principalmente brasileiras, quando encontramos um ator que interpreta o papel do transformista, o mesmo apresenta-se com roupas de mulher, com um quotidiano de vida de mulher e, ao mesmo tempo, com trejeitos tanto de um sexo como do outro (Bortolozzi, 2015).
Segundo Coelho (s.d.) verifica-se que as transformistas fazem questão e se aproximar, quando montadas, ao máximo, à realidade feminina no sentido cultural, ou seja, com base no padrão heteronormativo, procurando sempre apelar à beleza, à sensualidade e até mesmo à cada vez maior ousadia da mulher moderna. No entanto é importante não cair no exagero (Coelho, s.d.).
O facto de se tratar de um fenómeno controverso e subjetivo, já que o artista adota atitudes de ambos os géneros, acaba por criar bastante polémica junto da comunidade Lésbica, Gay, Bissexual e Transexual/trangénero (LGBT) (Bortolozzi, 2015).
Algumas das características desta vertente, são o facto de o ator ter formas masculinas, embora se apresente com vestes femininas quando se encontra montado (Bortolozzi, 2015).
De acordo com Coelho (s.d.) quando se fala no fenómeno transformista em que o indivíduo se apresenta montado, referimo-nos a acessórios como brincos, perucas, adereços, cílios postiços, lentes de contato de várias cores, botas, ganchos, coreografias, depilação, mamas de enchimento, sobrancelhas naturais escondidas e redesenhadas, etc.
É sabido que o fenómeno transformista diz respeito a uma roupa de trabalho que o ator utiliza para os seus espetáculos, pelo que, não é comum que se veja um indivíduo praticante da arte, montado, ou seja, vestido de mulher e com trejeitos efeminados, durante o dia (Bortolozzi, 2015). Em algumas situações, fora mesmo de contextos de festas, onde, na maioria das vezes, o indivíduo aparece montado, é comum que a transformista assuma também o seu nome artístico, mesmo que não esteja a trabalhar, portanto, em outros contextos sociais (Coelho. S.d.).
Por vezes é comum na sociedade encontrar alguma tendência para confundir o transformista com o transexual, no entanto, é possível verificar algumas diferenças claras como o ato de transformar o corpo e de assumir a identidade feminina como acontece no caso dos indivíduos transexuais, ao passo que o transformista se apresenta de dia, maioritariamente como um homem, portanto, de género masculino assumido (Bortolozzi, 2015).
Segundo Bortolozzi (2015) dentro do fenómeno transformista, não é incomum que o ator tenha mesmo outro tipo de atividade profissional durante o dia.
Importa ainda não confundir a arte do fenómeno transformista com o fenómeno Drag Queen, uma vez que este segundo, além de adotar toda uma indumentária feminina, ainda coloca acessórios associados ao surrealismo como asas, chifres, etc (Bortolozzi, 2015).
No caso transformista, estes acessórios não aparecem, sendo substituídos por elementos de humor e fantasia (Bortolozzi, 2015).
Apesar de os estudos mostrarem uma acentuada diferença entre o fenómeno transformista e a transsexualidade, não significa que a mesma pessoa não se possa assumir das duas formas, ou seja, ela pode ser transformista na sua profissão, em simultâneo com uma identidade transexual, ou seja identificar-se, enquanto pessoa, com o código do género oposto (Bortolozzi, 2015).
Conclusão
O fenómeno transformista diz respeito a uma arte exercida por um indivíduo, independentemente da sua sexualidade ou da sua identidade sexual, uma vez que o mesmo utiliza o transformismo em contexto de trabalho. O transformista veste-se de mulher, utiliza acessórios associados à indumentária feminina para fazer os seus espetáculos, o que significa que, quando se apresenta com uma personagem feminina e com trejeitos efeminados, está montado. Fora dos espetáculos e no seu dia a dia, é até mesmo comum que o indivíduo tenha qualquer outro tipo de atividade profissional e que se apresente de forma masculina. Compreende-se assim que se trata de uma arte que faz parte do mundo do espetáculo.
References:
- Bortolozzi, R.M. (2015). A Arte Transformista Brasileira: Rotas para uma genealogia decolonial. Quaderns de Psicologia | 2015, Vol. 17, No. 3, 123-134;
- Coelho, J.F.J. (s.d.). GT Gênero, sexualidade, raça e idade. AS PERFORMNCES DE TRAVESTIS, TRANSFORMISTAS E DRAG QUEENS: VISIBILIDADES, AGENCIAMENTOS E SUBJETIVIDADES.