Sabemos da importância da Educação Sexual para a promoção da saúde na adolescência (Evitar Doenças Sexualmente Transmissíveis – DST, gravidez precoce e tomada de atitudes responsáveis). Nesse sentido, procuramos compreender, com esta revisão da literatura, o papel dos professores, dos programas para dinamizar actividades que promovam o envolvimento dos adolescentes na prevenção do risco e na questão da relação entre sexualidade e afectos. Temos ainda como objectivo o foco no tema da orientação sexual, no sentido de compreender o papel da escola quanto à sensibilização para a diferença e para a promoção da inclusão e da igualdade de direitos e deveres.
Palavras-chave: educação sexual; adolescência; afectos: orientação sexual
A implementação da Educação Sexual nas escolas
Altman (2001) refere desde logo a presença da sexualidade nas escolas, incluída nas conversas, aulas, brincadeiras, etc, e que a Educação Sexual faz parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), com vista à prevenção dos comportamentos sexuais de risco como Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e gravidez precoce.
Segundo Neves e Ramos (2014) e Jardim e Brêtas (2006), a implementação da Educação Sexual passa, entre outros elementos, pelos professores, com quem os adolescentes passam a maior parte do tempo, cabendo-lhes informar, pedagogicamente, sobre sexualidade, comportamentos de risco e relações interpessoais.
Almeida e Centra (2009) e Neves e Ramos (2014) falam de como é importante informar, para que os alunos esclareçam as suas dúvidas, num diálogo aberto e tranquilo que permita expor os sentimentos, e reflectir, ao mesmo tempo que se estabelecem limites.
É necessário que os adolescentes compreendam que além dos factores biológicos, existem os factores sentimentais, morais e éticos e que aplicar os conhecimentos relacionados com os mesmos, promove a cidadania (Jardim, & Brêtas, 2006).
O programa de Educação Sexual
O programa de Educação sexual insere-se no âmbito da Educação para a Saúde, com actividades nos Gabinetes de Atendimento para a Saúde, em protocolo com o Centro de Saúde da área escolar, e de acordo com as directrizes da escola (docentes com formação especializada no assunto, com um coordenador responsável e ainda com pessoal docente e não docente especializado) (Marreiros, 2002; Neves, & Ramos, 2014).
Marreiros (2002) lembra das organizações de apoio aos jovens e os grupos comunitários que criam programas promotores das atitudes e actividades saudáveis nos adolescentes e que dão um exemplo positivo de comportamento responsável com estmulação de decisões responsáveis, boa comunicação e bom relacionamento interpessoal.
Jardim e Brêtas (2006) também defendem a abordagem transversal a todas as disciplinas e com professores especializados que sejam capazes de estimular o interesse dos adolescentes em participar.
Sabemos que o indivíduo está em constante aprendizagem sobre este assunto, mesmo que não tenha a formação pedagógica, já que existe a experiência do dia a dia, que influencia as atitudes e as crenças, mas a pedagogia complementa o conhecimento para evitar situações de risco (Neves, & Ramos, 2014). Aliar os meios humanos (professores e educadores) e os meios de informação existentes (internet, livros, revistas) como ferramentas de auxílio, evita crenças erradas e lacunas no conhecimento (Neves, & Ramos, 2014).
Além de todos estes meios, Marreiros (2002), fala do envolvimento activo dos jovens para a promoção da saúde, embora, sendo realista, defenda que são necessários muitos anos de educação comportamental pois todas as estratégias utilizadas até então, não são suficientes.
Quando não se criam estratégias de promoção da saúde, os jovens estão sujeitos a adquirir informações erradas e a aumentar os comportamentos sexuais de risco que vão ter consequências negativas avassaladoras para o indivíduo (Marreiros, 2002).
Na mesma ordem de ideias, Jardim e Brêtas (2006), referem o facto de informação sobre o assunto ser partilhada em todos os meios de comunicação, como a televisão, o rádio e a internet, que, muitas vezes estão erradas.
Educação Sexual: a sexualidade e os afectos
Falar de Educação Sexual, leva-nos, como já tínhamos percebido anteriormente, não só à questão da sexualidade, mas à relação desta com os afectos, uma vez que a sexualidade e os afectos são duas das formas mais comuns e básicas de expressão no comportamento humano e como é na escola que os adolescentes passam a maior parte do tempo, propicia os primeiros relacionamentos afectivos (Neves, & Ramos, 2014).
É por ser o contexto mais frequentado pelos adolescentes que Marreiros (2002) vê a escola como local ideal para criar programas de promoção da saúde e de comportamentos sexuais saudáveis, e privilegia as condições mais adequadas e favoráveis à assimilação de novos hábitos e conhecimentos.
Neves e Ramos (2014) dizem que os professores, psicólogos, pais e educadores escolares são os elementos mais adequados para responder de forma eficaz às dúvidas dos adolescentes. Educar sexualmente promove a saúde ao mesmo tempo se previne a contaminação por DST, gravidez não desejada, problemas sociais, entre outros.
Educação Sexual: a orientação sexual
Já que falamos, no tópico anterior, em mitos, informação errada e DST, Andrade e Monteiro (2013), falam da orientação sexual, acreditando que investir no conhecimento e no comportamento, previne vários problemas como: discriminação, preconceito, estereótipos, relações disfuncionais, contaminação por DST e conflitos, que tantas vezes estão presentes quando se aborda o tema da Educação Sexual, à luz da orientação sexual.
Em outros tempos, como nos anos 20 e 30, os “desvios sexuais” que eram considerados crimes, passaram a ser considerados doenças, e a escola tinha a tarefa de intervir do ponto de vista preventivo, promovendo comportamentos normais (Altmann, 2001). Nos dias de hoje, Altmann (2001) conclui que a orientação sexual é um dos temas a serem trabalhados em todos os ciclos de estudo.
Tal como no que diz respeito à Educação sexual, também quanto à orientação sexual, a maioria dos professores não se encontra preparada e, muitas vezes, os pais, os alunos e eles mesmos, não estão de acordo com a abordagem do assunto, provocando desorientação nos adolescentes (Andrade, & Monteiro, 2013).
Por vezes, na sua juventude, os professores, não tiveram com quem falar das suas dúvidas e esclarecerem-se em relação à sexualidade, o que faz com que a sua capacidade de transmitir conhecimento, se restrinja à biologia e às ciências, abordando apenas a anatomia, a fisiologia, a reprodução humana, a prevenção da gravidez e das DST (Jardim, & Brêtas, 2006; Neves, & Ramos, 2014).
Para colmatar a falha ao nível da orientação sexual, Andrade e Monteiro, (2013) propõem a sensibilização de toda a comunidade escolar para o tema, debate-lo e partilhar informação sobre o mesmo. Procuram evitar constrangimentos (ansiedade, vergonha) de forma responsável, promover o bem-estar e evitar agressividade face à orientação sexual (Andrade, & Monteiro, 2013). É dever da escola garantir o respeito pela individualidade de cada aluno e promover a inclusão de todos, uma vez que ainda há professores e educadores, que negligenciam as questões feitas pelos adolescentes, levando-os a procurar respostas às suas perguntas em meios de comunicação e conversas entre pares que, muitas vezes, englobam mitos e informações erradas, propiciando o risco (Andrade, & Monteiro, 2013).
Perante a revisão que fizemos sobre o aglomerado de questões que envolvem a implementação da Educação Sexual, podemos concluir que os professores são os profissionais mais adequados para garantir a prevenção do risco e a promoção da saúde, por ser com eles que os adolescentes passam a maior parte do tempo escolar. Para além disso, verifica-se a importância de associar a sexualidade aos afectos e de sensibilizar os jovens quanto a esta questão, uma vez que a adolescência é uma fase rica no investimento em relacionamentos afectivos e, por conseguinte, no envolvimento mais íntimo.
Por fim, não nos podemos esquecer da orientação sexual, tendo em conta que nem sempre a comunidade escolar está preparada para abordar o tema, levando a situações de risco e de comportamentos menos adequados. A escola, mais uma vez, por ser o contexto em que os adolescentes passam a maior parte do tempo, deve prever comportamentos de agressividade e de risco, ao mesmo tempo que promove a inclusão e se corrigem crenças erradas e preconceitos.
References:
- Almeida, A.C.C.H, & Centra, M.L. (2009). A família e a educação sexual dos filhos: implicações para a enfermagem. Parentes experience with the sexual education of their children: implications for nursing care. La familia y la educácion sexual de los hijos: implicaciones para la enfermaria. SCIELO – Scientific Electronic Library Online. Acedido em 8 de Outubro, 2015, em http://www.scielo.br/pdf/ape/v22n1/a12v22n1.pdf
- Altmann, H. (2001). Orientação sexual nos parâmetros curruculares nacionais. SCIELO – Scientific Electronic Library Online. Acedido em 24 de Outubro, 2015, em http://www.scielo.br/pdf/ref/v9n2/8641.pdf
- Andrade, J.S.V, & Monteiro, M.M. (2013). A SEXUALIDADE E ORIENTAÇÃO SEXUAL NAS ESCOLAS. [Em linha]. PSICOLOGIA.PT, O PORTAL DOS PSICÓLOGOS. Disponível em http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0823.pdf
- Jardim, D.P, & Brêtas, J.R.S (2006). Orientação sexual na escola: a concepção dos professores de Jandira – SP. Revista Brasileira de Enfermagem REBEn. 157, 157-62. Acedido Outubro, 24, 2015, em http://c3icongresso2013.web.ua.pt/wp-content/uploads/2013/05/Normas_APA6th.Portugues.pdf
- Marreiros, M.C.M.S. (2002). Relações sexuais precoces e comportamentos de risco nos adolescentes. Porto: Serviço de Higiene e Epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
- Neves, R.C.F., & Ramos, S.I.V. (2014). EDUCAÇÃO SEXUAL NAS ESCOLAS. EDUCAR PARA PREVENIR – ESTUDO DE CASO. [Em linha]. PSICOLOGIA.PT, O PORTAL DOS PSICÓLOGOS. Disponível em http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0756.pdf