O desenho da criança é, desde há muito tempo, uma das melhores formas de avaliar clinicamente indivíduos na fase infantil. Deste modo, pretendemos compreender de que modo o mesmo pode ser uma mais valia para nos dar uma vasta variedade de informações acerca do seu diagnóstico clínico.
De acordo com Santos (2013) vários estudos falam sobre a importância do desenho da criança como forma de obter informações acerca de si e da sua estrutura familiar.
Por esse motivo Souza (2011) considera que o desenho pode ser utilizado como instrumento técnico de avaliação psicológica projetiva, já que a criança demonstra a sua personalidade e dinâmica familiar nos símbolos gráficos representados no papel.
Estes estudos demonstram que o desenho é uma ferramenta de grande importância para fazer uma avaliação clínica da criança porque é a forma mais comum de ela comunicar, e que pode ser analisado através da forma como é elaborado, uma vez que vem cheio de simbolismos e permite perceber muita informação também no seu resultado final (Santos, 2013).
Na sua abordagem sobre a teoria freudiana, no que concerne ao desenho, Souza (2011) foca esta questão dos símbolos gráficos contidos na figura, que nos dão acesso a informações sobre sonhos, mitos e fantasias do mundo de cada criança, tanto do ponto de vista do contexto em que ela está inserida como do ponto de vista da organização das imagens no papel, que irão dar um resultado final.
Uma das informações que os estudos nos indicam que facilmente podemos percepcionar com esta técnica, é o grau de maturação em que a criança se encontra, de acordo com a evolução da sua capacidade para desenhar (Santos, 2013).
Esta permite-nos compreender ainda a sua capacidade cognitiva, como por exemplo, diferenças entre crianças perturbadas mentalmente e crianças saudáveis (Santos, 2013).
Algumas das informações que podemos obter a partir do desenho de uma criança são os seus medos, as suas angústias, os seus anseios, etc, tanto no caso das crianças perturbadas mentalmente como no caso das saudáveis (Santos, 2013).
Outra das características da técnica do desenho vista na literatura por Santos (2013) é que, uma vez que as crianças se expressam mais desenhando do que falando, elas utilizam o desenho com o intuito de expressar graficamente as dificuldades que ainda não foram ultrapassadas. O material escolhido especificamente permite que o psicólogo perceba sentimentos projetados no desenho, tais como aqueles anteriormente mencionados.
As crianças desenham, por norma, aquilo de que mais gostam e o que é mais importante para elas, de maneira que lhes permita relacionar os seus dois mundos (interior e exterior), transparecendo assim, à luz do olho clínico, a sua maturidade cognitiva e emocional (Santos, 2013).
Comumente, crianças saudáveis de seis/sete anos, desenham coisas que as fazem sentir-se confortáveis e felizes, tais como flores, árvores, casinhas, família, etc, habitualmente coloridas como representação da harmonia existente (Santos, 2013).
Quando utilizamos o desenho da família, uma das informações que também podemos obter é a dinâmica existente, pela ordem e tamanho das figuras, como por exemplo, se a criança se desenha mais pequena, seguida da mãe e posteriormente o pai, isto pode demonstrar maior proximidade da mãe e um pai como responsável pelo sustento da família (Santos, 2013).
A forma como a criança coloca a folha no espaço e como usufrui do espaço existente na mesma, bem como o tipo de traços que faz, permitem que o psicólogo perceba como ela se organiza, isto é, se ocupa toda a folha, no sentido de não deixar nenhum espaço vazio, ou se, pelo contrário, utiliza uma pequena parte da mesma, deixando muito espaço em branco (Souza, 2011).
Da mesma forma é importante perceber se o espaço ocupado na folha se adequa ao que está disponível ou se é muito díspar e se a criança tem ou não consciência disso, bem como, o tamanho dos desenhos que ela faz, pequenos ou grandes, se divide o desenho por secções e ainda as vezes que apaga e retoca o desenho até ao resultado final, bem como a sua (in)satisfação com o desenho (Souza, 2011).
Para podermos fazer uma boa análise interpretativa utilizando a técnica do desenho, é preciso que sejamos capazes de estimular a criatividade da criança, respeitando e observando as suas características pessoais e analisando cada uma delas detalhadamente (Santos, 2013).
Conclusão
A técnica do desenho da criança é uma das melhores e mais ricas formas de ter acesso tanto à sua personalidade, como à sua maturação cognitiva, bem como à dinâmica familiar que a envolve.
O desenho livre e o desenho da família são das técnicas de avaliação projetiva mais utilizadas porque podemos encontrar informação não só no caso de crianças com algum tipo de perturbação como em caso de crianças saudáveis, através de todo o contexto em que o desenho é elaborado pelas mesmas.
References:
- Santos, S (2013). Estudo de caso – A interpretação do desenho infantil. Educareducere, nº1 – II série;
- Souza, A.S.L. (2011). O DESENHO COMO INSTRUMENTO DIAGNÓSTICO: REFLEXÕES A PARTIR DA PSICANÁLISE. Boletim de Psicologia. Vol. LXI, nº125: 207-215. Acedido a 7 de abril de 2016 em http://pepsic.bvsalud.org/pdf/bolpsi/v61n135/v61n135a07.pdf