Quem é Demna Gvasalia
Demna Gvasalia, designer de moda georgiano normcore, nasceu a 25 de Março de 1981 em Sokhumi, atual Geórgia, antiga União Soviética. Vive entre Paris e Zurique. O director criativo da Balenciaga e Designer Chefe da Vetements é conhecido por democratizar a moda, repensar peças do quotidiano, encapsular o niilismo da juventude e canalizar a energia grunge e cool de Paris.
Dados Biográficos
Nome completo: Demna Gvasalia დემნა გვასალია
Nascimento: 25 de Março de 1981, 37 anos (Sokhumi, Abkhaz ASSR, Georgian SSR, União Soviética)
Nacionalidade: Georgiano
Cargos, Funções, Actividades Profissionais
Áreas em que se distinguiu: Design de Moda
Profissão/cargo: Diretor Criativo da Balenciaga, Designer Chefe da Vetements
Instituições/equipas/marcas: Balenciaga; Vetements; Maison Margiela; Louis Vuitton
Títulos/prémios/distinções: Prémio British Fashion (Vetements 2016); Prémio British Fashion (Balenciaga 2016); Prémio Internacional da CFDA pelo seu trabalho na Vetements e Balenciaga (2017)
“Estou motivado em fazer roupas tanto usáveis quanto financeiramente acessíveis. A moda tem lugar no mundo real.” Demna Gvasalia
Vida e Obra
Depois de uma infância difícil marcada pela Guerra Civil da Geórgia, Demna Gvasalia mudou-se para Odessa – parte da Ucrânia, que entrou recentemente em conflito com a Rússia – e Düsseldorf, na Alemanha.
Segue para Antuérpia para estudar na Royal Academy of Fine Arts, seguindo os passos dos também alunos Dries Van Noten, Ann Demeulemeester e Haider Ackermann. Ganhou rapidamente o reconhecimento dos seus pares e lançou a sua primeira coleção na Semana da Moda de Tóquio em 2007.
Torna-se responsável pela coleções femininas da Maison Margiela a partir de 2009, e trabalha diretamente com Martin Margiela, o fundador da casa e uma profunda influência no trabalho de Demna.
Em conversa com Sarah Mower no painel Vogue Forces of Fashion, Demna disse que trabalhar na Margiela foi uma continuação da sua educação. “A abordagem centrava-se em destruir para construir. Foi assim que passei a usar este método de apropriação: usar o que me rodeia e transformar num novo produto. Já que há tantas peças de roupa por aí (…), achei que não tinha o direito de inventar algo novo, para além de pegar no que já existe e moldá-lo em algo diferente.” [1]
Entre 2013 e 2015 é designer sénior das coleções de pronto a vestir da Louis Vuitton.
Demna funda em 2014, juntamente com 6 designers anónimos, a marca heterodoxa de streetwear Vetements. O anonimato devia-se aos compromissos contratuais que cada um deles tinha com marcas de renome. O nome escolhido, palavra francesa para roupas, transmitia a intenção e frustração do coletivo de criadores: fazer com que os consumidores olhassem para lá do branding (‘da marca’) e da popularidade do designer – tendência que prevalece na moda. A marca rapidamente encontrou força nos consumidores e na indústria.
“A moda está tão superpovoada e repleta de ideias que, em algum momento no futuro, a fama de um designer não será capaz de garantir a credibilidade de seu trabalho. Pelo menos, é isso que esperamos.”, disse o coletivo à revista Tank em 2014. [2]
É uma das marcas de culto a surgir em Paris recentemente e foi finalista do Prémio LVMH Young Fashion Designer em 2015. As peças são desconstruídas e repensadas segundo uma estética urbana, unisexo, anti moda e anti beleza, onde as proporções são superdimensionadas, os materiais não convencionais e os detalhes inesperados. A estética desportiva remete à modernidade do conforto, funcionalidade e tecnicidade.
Gvasalia assume-se publicamente como designer chefe e porta voz da Vetements, mas as coleções resultam de um esforço coletivo. O seu irmão, Guram, lida com o lado comercial do negócio. Ambos são especialistas em publicidade viral de baixo custo.
Em 2018 é avançado por vários jornalistas [3] que a popularidade e vendas da Vetements estão a decrescer devido à falta de novidade e aos preços inflacionados. Em comunicado enviado à WWD, Guram Gvasalia afirma que a empresa está a superar as expectativas do mercado e mostra um crescimento de mais de 50% em comparação ao ano anterior. Vários vendedores da marca confirmam a informação. [4]
“Esta é uma marca e um projeto [Vetements] com o qual estou comprometido por toda a vida.” Demna Gvasalia
Demna Gvasalia torna-se a 7 Outubro de 2015 diretor criativo da Balenciaga, responsável pela imagem e pelas coleções da marca, substituindo o designer norte americano Alexander Wang. Os 3 anos de Wang na casa francesa não representaram crescimento comercial nem aclamação da crítica, para além da dificuldade que Wang teve em balançar a sua marca homônima, baseada em Nova Iorque, com a Balenciaga, baseada em Paris.
IIsabelle Guichot, presidente e CEO da Balenciaga, afirma no comunicado emitido no último dia da Semana da Moda de Paris que o tecnicismo, experiência e conhecimento de Demna Gvasalia “em conjunto com a sua abordagem inovadora e cuidadosamente considerada, adota uma visão única do papel dodesigner hoje e, portanto, lembra a própria visão de Cristobal Balenciaga.” [5]
François-Henri Pinault, presidente e CEO da Kering, acrescenta: Demna Gvasalia é “uma poderosa força emergente no mundo criativo de hoje” e “incorpora uma abordagem única à profissão, marcada por uma observação sociológica dos fundamentos do guarda-roupa e pela forma como ele permanece humilde e rigoroso. Estou convencido de que ele levará a Balenciaga a um futuro de sucesso”. [6]
Foi assim que Gvasalia passou de um designer relativamente desconhecido a um nome incontornável da moda nos últimos anos. Se ele é um dos democratas da moda, Cristobal Balenciaga – que fundou a marca em 1937 em Paris – era um ditador de formas e tendências. Em comum têm o fascínio pelas criações esculturais exigentes, a afinidade por desafiar as regras existentes, a ênfase no realismo, a subtileza da sexualidade subvertida e a preocupação em manter a exclusividade da marca. [7]
A primeira coleção do designer georgiano para a Balenciaga foi apresentada na Semana da Moda de Paris Outono Inverno 2016/17, em Março de 2016. Em 2017 Demna anuncia a mudança do logo: “Concebido internamente, o processo de desenvolvimento foi inspirado pela clareza na sinalização dos transportes públicos. O resultado é um logotipo visualmente minimal e urbano que dá um selo simples e ousado à assinatura de luxo Balenciaga”. [8]
A Fevereiro de 2018 é posta à venda uma coleção unisexo que resulta da colaboração da Vetements com a marca norte americana Tommy Hilfiger. Também em Fevereiro, a marca é responsável por uma instalação numa montra do Harrods, que expõe uma pilha de roupa doada por empregados do departamento comercial e pelo público. Uma crítica ao consumo rápido e desperdício que a moda estimula.
O trabalho de Gvasalia reflete a tendência pragmática e hiper realista de “vestir roupas”, criando peças que se constroem umas sobre as outras, ao invés de criar modas específicas para a estação. A abordagem encontrou sucesso em marcas como Saint Laurent e Gucci, que pertencem à Kering, assim como na Louis Vuitton. Esta viragem destronou a estratégia de reviver o património e a história das marcas de luxo, em que jovens estilistas exploravam os arquivos dos seus antecessores para atrair novos clientes.
Demna Gvasalia adora causar polêmica ao transformar peças e imagética banal do dia a dia em artigos de luxo. A t-shirt DHL da Vetements, o saco de compras Ikea ou as sandálias de plataforma Crocs para a Balenciaga. A casa francesa foi recentemente processada pela empresa de lembranças City Merchandise Inc. por alegada violação de direitos autorais ao copiar um saco estampado da cidade de Nova Iorque.
“A moda para mim é um espelho, uma reflexão do que está a acontecer ao nosso redor. Isso se manifesta nas coleções. O quotidiano é o que fala com as pessoas, a vida quotidiana.” diz Demna em entrevista a Eugénie Trochu da Vogue França. [9]
O criador é particularmente talentoso a repensar o calçado e vários dos seus modelos foram copiados por dezenas de marcas de pronto a vestir: as botas e os ténis meia, os ténis com sola robusta (‘chunky’) e as Crocs. Os ténis de Demna, em particular, são para a geração Millennial um símbolo de status e luxo. Dois dias depois de o ténis Triple S ter sido posto à venda esgotou – disponível a 850 dólares – e as Crocs esgotaram antes de serem lançadas. [10]
O georgiano recruta os seus modelos, a semelhança da dupla portuguesa de designers Marques’ Almeida, entre amigos, colaboradores e pessoas que encontra pelas ruas e redes sociais. O designer foge também ao calendário e obrigatoriedade sazonal dos desfiles de moda. Demna Gvasalia já apresentou coleções numa igreja, num clube de sexo e num restaurante chinês e as suas linhas femininas e masculinas são apresentadas em conjunto.
Na primeira fila dos seus desfiles podem ser vistas personalidades como Anna Wintour da Vogue, Stefano Tonchi da W Magazine, Dennis Freedman do Barneys, Jeffrey Kalinsky da Nordstrom, o músico e produtor Pharrel Williams, o cantor Kanye West e a mulher Kim Kardashian, a apresentadora e cantora Alexa Chung ou a modelo Cara Delevigne.
“Eu quero que exista energia e autenticidade. (…) Se as pessoas estiverem interessadas nas roupas, elas voltam para as olhar mais de perto”. Demna Gvasalia [11]
A última coleção Primavera Verão 2019 da Vetements recorda o momento que a cidade natal de Demna, Sukhumi, foi bombardeada em 1993, obrigando a família do designer a fugir. Um trauma que se manifestou na coleção de forma emotiva e poderosa através de referências militares, citações ofensivas e máscaras que simbolizam a erradicação da identidade. Foram 40 modelos georgianos que desfilaram na parisiense Périphérique, também um paralelismo com a crise de imigração atual.
Demna Gvasalia é conhecido por ser viciado no trabalho, na autenticidade e na tecnologia. Mudou-se para Zurique para “mudar o estilo de vida de clubes e festas de Paris. Zurique é a cidade mais aborrecida na Europa mas é ótima para pensar e desacelerar do ritmo maníaco que as pessoas ficam presas enquanto trabalham nas grandes cidades.” [12]
O designer passa muito tempo sozinho, medita, corre, e diz que é assim que se mantém sano e cheio de ideias.
Gvasalia conquistou em 2015 um lugar na lista dos BoF 500, o índice dos 500 profissionais que moldam a indústria da moda, um negócio que vale 2,4 trilhões de dólares norte americanos. [13]
References:
[1] https://www.vogue.com/article/vogue-forces-of-fashion-demna-gvasalia-vetements-balenciaga
[2] https://www.theguardian.com/fashion/2015/oct/07/balenciaga-demna-gvasalia-new-creative-director
[3] https://www.highsnobiety.com/p/vetements/
[4] https://wwd.com/fashion-news/designer-luxury/vetements-highsnobiety-fake-news-1202641574/
[6] https://www.nytimes.com/2015/10/08/fashion/demna-gvasalia-balenciaga-new-artistic-director.html?_r=0
[8] https://wwd.com/fashion-news/fashion-scoops/balenciaga-new-logo-11011468/
[10] https://elle.abril.com.br/moda/os-polemicos-novos-tenis-da-balenciaga/
[11] https://www.nytimes.com/2015/10/08/fashion/demna-gvasalia-balenciaga-new-artistic-director.html?_r=0
[12] https://www.vogue.com/article/vetements-steps-away-from-fashion-shows
[13] https://www.businessoffashion.com/community/people/demna-gvasalia
https://www.vogue.co.uk/article/balenciaga-new-designer-demna-gvasalia-of-vetements
https://www.vogue.com/article/boundary-breaking-designers-vogue-september-2018-issue
https://www.vogue.com/article/vogue-forces-of-fashion-demna-gvasalia-vetements-balenciaga
https://www.highsnobiety.com/p/denma-gvasalia-everything-you-need-to-know/
https://wwd.com/tag/demna-gvasalia/
https://fashionista.com/designers/demna-gvasalia
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