A luteína é um pigmento de cor amarela lipossolúvel (isto é, solúvel em gordura) com propriedades antioxidantes. Quimicamente, a luteína pertence a uma classe de compostos chamados xantofilas que, por sua vez, pertence a um grupo ainda mais abrangente chamado de carotenoides.
Este pigmento, juntamente com a zeaxantina, formam os carotenoides predominantes que se acumulam na retina do olho.
Luteína – química
A luteína (C40H56O2) contém 40 átomos de carbono, por isso é considerado um tetraterpenoide. Tem 568.87 g/mol de massa molecular.
A estrutura bioquímica de luteína (ver Figura 1) é composta por ligações duplas conjugadas alternadas com ligações simples ao longo da cadeia de polieno. A molécula é terminada por um anel contendo oxigénio em cada lado.
Luteína e a saúde ocular
Existem cerca de 700 carotenóides que foram caracterizados na natureza. Destes foram identificados aproximadamente entre 20 a 30 no sangue e nos tecidos humanos, mas apenas a luteína e a zeaxantina (outra xantofila) são encontradas no olho.
A luteína em conjunto com a zeaxantina e o isómero meso-zeaxantina acumulam-se na retina do olho e compõem o pigmento macular. A luteína concentra-se preferencialmente na periferia da mácula do olho.
O pigmento macular melhora o desempenho visual, protege contra os efeitos nocivos da luz e ajuda a prevenir a degeneração da mácula relacionada com a idade.
A luteína filtra a luz azul que é prejudicial e neutraliza espécies reativas de oxigénio.
Fontes alimentares da luteína
A luteína não é sintetizada no organismo humano e, por isso, deve ser obtida através da ingestão diária de alimentos que a contenham.
Mesmo assim, não existe atualmente doses diárias recomendadas oficiais para a luteína. No entanto, sugere-se uma ingestão de 6 mg por dia tanto para homens como para mulheres para reduzir o risco de degeneração macular relacionada com a idade.
A luteína aparece em abundância em vegetais de folhas verdes, como a couve kale e o espinafre, onde a sua cor amarela alaranjada é mascarada pela cor verde dominante da clorofila.
A tabela seguinte mostra o teor de luteína na forma trans (µg por 100 g) em diversos alimentos. Fonte Eisenhauer, B., 2017.
Alimento | Luteína (µg por 100 g) |
Alface crua |
3824 |
Brócolos cozidos |
772 |
Couve Kale cozida |
8884 |
Espargos cozidos |
991 |
Espinafres cozidos |
12.640 |
Espinafres crus |
6603 |
Feijão verde cozido |
306 |
Gema de ovo cozida |
645 |
Gema de ovo crua |
787 |
Milho cozido |
202 |
Ovo inteiro cozido |
237 |
Ovo inteiro cru |
288 |
Pimenta laranja crua |
208 |
Pistachio cru |
1405 |
Salsa crua |
4326 |
Biodisponibilidade da luteína
Para além da quantidade total de luteína consumida, é necessário ter em conta a sua biodisponibilidade.
O consumo de lípidos (e.g. azeite) em simultâneo com alimentos ricos em carotenóides (e.g, salada de vegetais crus ou legumes cozidos) aumenta a absorção dos carotenóides.
A biodisponibilidade dos carotenóides pode ser diminuída devido à competição pela absorção dos carotenóides entre si quando consumidos na mesma refeição.
A fibra alimentar proveniente de alimentos vegetais, como a pectina e a goma de guar, reduz a absorção de carotenóides.
O cozimento dos alimentos vegetais contendo carotenóides pode diminuir o seu conteúdo, no entanto, aumenta a sua biodisponibilidade.
A biodisponibilidade da luteína no ovo é maior do que nos vegetais e poderá ser devido à presença de lípidos da gema do ovo.
Absorção e transporte da luteína
Os carotenóides alimentares são libertados dos alimentos ingeridos e incorporados em micelas lipídicas.
As glicoproteínas SR-BI (scavenger receptor class B member 1) e CD36 localizadas na superfície de células intestinais facilitam a absorção e o transporte dos carotenoides.
No fígado, os carotenóides poderão ser modificados antes de serem libertados para a corrente sanguínea.
A luteína é transportada no sangue preferencialmente pela HDL (lipoproteína de alta densidade).
O SR-BI do epitélio pigmentar da retina facilita a absorção da luteína e da zeaxantina para a célula.
A proteína de ligação ao interfotorreceptor retinóide (IRBP) pode facilitar o transporte de luteína e zeaxantina para as células da retina.
Porém, a especificidade na absorção é impulsionada por proteínas de ligação seletiva tais como a GSTP1 (glutathione S-transferase P1) e a STARD3 (steroidogenic acute regulatory domain protein 3).
References:
- Bernstein, P.S. et al. (2016). Lutein, Zeaxanthin , an d meso-zeaxanthin: The basic and clinical science underlying carotenoid-based nutritional interventions against ocular disease. Progress in Retinal and Eye Research, 50: 34-
- Canovas, Renata, Cypel, Marcela, Farah, Michel Eid, & Belfort Jr, Rubens. (2009). Pigmentos maculares. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, 72(6), 839-844
- Eisenhauer, B. et al. (2017). Lutein and Zeaxanthin—Food Sources, Bioavailability and Dietary Variety in Age-Related Macular Degeneration Protection. Nutrients, 9(120):1-14.
- Kalariya, N.M. et al. (2012). Focus on Molecules: Lutein. Experimental Eye Research, 102: 107-108.