A violência conjugal lésbica diz respeito à agressão vivida por mulheres em situação de relacionamento afetivo onde se verifica que uma se encontra subjugada ao poder da outra.
De acordo com as pesquisas de Avena (2010) é importante referir que, dentro de um relacionamento conjugal deve imperar o amor, seja qual for a orientação sexual em questão, uma vez que quem ama não agride.
No caso das relações conjugais lésbicas, tal como acontece em outras relações, quando começamos a verificar contornos de violência, há sempre a agressora e a vítima em que a primeira coloca a segunda numa situação de subjugação, anulação de si mesma, intimidação, sofrimento e silencio (Avena, 2010).
Os estudos elaborados mais tarde por Santos (2012) referentes à violência conjugal lésbica começam indicam que este tema em específico emergiu da necessidade de intervir no que diz respeito à violência associada à população LGBT (Lésbica, Gay, Bissexual e Trangénero) em geral. A autora reforça que este foco partiu da Associação de Apoio à Vítima (APAV) e da Associação ILGA Portugal (Santos, 2012). Ambas surgem do cada vez maior número de casos de denúncias telefónicas efetuadas dentro da população LGBT para ambas as associações, pelo que se notou uma necessidade urgente de agir (Santos, 2012).
Contudo, não podemos deixar de mencionar que os estudos existentes e docmentados acerca do tema ainda se mostram muito escassos, principalmente pelo muito maior número de casos conhecidos ser no caso da violência conjugal heterossexual em que, na maioria dos casos denunciados, o agressor é o homem (Avena, 2010).
Apesar de estarmos a falar de situações registadas na realidade portuguesa, não podemos esquecer também que o flagelo da violência conjugal lésbica, especificamente, embora não em exclusividade, acontece numa dimensão internacional (Santos, 2012).
Outros estudos anteriormente relacionados com tema, também elaborados por Avena (2010) indicam que a relação começa, habitualmente, de forma muito carinhosa e amorosa e vai aumentando de tensão até chegar à agressão física, semelhante ao círculo da violência doméstica entre casais heterossexuais.
Segundo os trabalhos de Santos (2012) as mulheres inseridas num clima de violência conjugal de ordem lésbica, sofrem duplamente, principalmente no meio académico visto que não existe, ao nível político, uma base que sustente a garantia de apoio às mesmas.
Assim, procura-se encontrar respostas para estas mulheres que compreendam a experiência vivida pelas mesmas, as representações e as necessidades no que respeita ao tema, seja no sentido institucional seja no sentido político (Santos, 2012).
Sabe-se, de acordo com as pesquisas relacionadas, que as características associadas à violência conjugal, sejam entre casais heterossexuais ou entre casais homossexuais, são traçadas dentro dos mesmos contornos, ou seja, dependência financeira, experiência anterior de abuso, álcool e drogas (Santos, 2012).
Além destas características, encontramos ainda estudos que nos indicam que também se observam problemas de carácter psicológico como ataques de ciúme doentios, manipulações e dominância da agressora para com a vítima de forma a controla-la na totalidade (Avena, 2010).
Quando se trata da violência conjugal lésbica, verifica-se ainda uma enorme evidencia de carácter lesbofóbico e heteronormativo de mãos dadas com a falta de apoio quer por parte da família, amigos e vizinhos, quer pelo isolamento em que a vítima começa a entrar devido à sua condição (Santos, 2012).
Para além destas lacunas existe ainda a vertente falta de preparação por parte dos próprios profissionais de intervenção, devido à homofobia presente em todo o lado, e as ameaças sempre presentes por parte da agressora (Santos, 2012). Todas estas condicionantes colocam a vítima numa situação de isolamento e, por este e todos os motivos acima citados, de sofrimento silencioso (Santos, 2012).
Conclusão
A violência conjugal lésbica parece ser um assunto ainda tabu uma vez que a informação acerca da mesma ainda se mostra muito escassa. Sabe-se que, em termos de características e de fatores que a propiciam não difere muito da violência conjugal entre casais heterossexuais, no entanto, a vítima de violência conjugal lésbica acaba por sofrer de forma dupla. Isso acontece porque além de sofrer com a situação em que se encontra, existe ainda a questão da orientação sexual que ainda está sujeita a muita falta de recursos devido ao preconceito e discriminação a que estas mulheres estão sujeitas.
Por esse motivo, torna-se imperativo procurar encontrar maior número de respostas para o cada vez mais frequente caso de situações existentes.
References:
- Avena, D.T. (2010). A Violência Doméstica Nas Relações Lésbicas: Realidades E Mitos. Revista de arte, mídia e política. N. 7 (2010). Recuperado em 20 de junho de 2018 de https://revistas.pucsp.br/index.php/aurora/article/view/3907/2548;
- Santos, A.C. (2012). “Entre duas mulheres isso não acontece” – Um estudo exploratório sobre violência conjugal lésbica. Revista Crítica de Ciências Sociais [Online], 98 | 2012, colocado online no dia 05 Junho 2013, criado a 30 de Setembro de 2016. URL https://journals.openedition.org/rccs/4988.