Síndrome de La Tourette
A Síndrome de La Tourette caracteriza-se por movimentos voluntários e tiques compulsivos, no sentido de aliviar o desconforto que provoca. Está associada a perturbações psicológicas como a Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA) e Perturbaçao Obsessivo-Compulsiva (POC) pelo que se verifica necessidade de intervenção especializada.
Fen, Barbosa e Miguel (2001) e Teixeira, Júnior, Neto, Targino, Palheta e Silva (2011) definem a Síndrome de Gilles de La Tourette como uma perturbação do foro neuropsiquiátrico com início nos primeiros anos de vida cujos sintomas se revelam ao nível motor e vocal e cuja explicação ainda não está bem esclarecida, pelo que mesmo na área da saúde, só há pouco tempo se descobriram as causas orgânicas. O nome da síndrome foi categorizado quando o aluno Gilles de La Tourette, no Hospital de la Salpêtrière, descreveu a patologia como múltiplos tiques, entre eles o uso involuntário de palavras obscenas (coprolalia) ou a repetição involuntária de sons, palavras ou frases de alguém (ecolalia) (Teixeira et al, 2011). A par destes sintomas, Teixeira et al (2011) referem ainda ecopraxia e copropraxia.
A primeira vez que a síndrome foi descrita, foi por Jean Marc Gaspard Itard, em 1825, que atribuiu a mesma à maldição dos tiques na Marquesa de Dampierre (Teixeira et al, 2011).
Duas das características mais relevantes da perturbação são a PHDA e a POC, além de sintomas sensoriais que atenuam com os movimentos motores a que se chama de tiques (Fen, Barbosa, & Miguel,2001; Teixeira et al, 2011).
De acordo com estas características, Teixeira et al (2011) consideram que a síndrome abarca problemas emocionais e de comportamento, embora, em alguns casos, os sintomas sejam leves, o que faz com que os indivíduos não procurem ajuda.
A Síndrome de La Tourette tem ainda a característica de maior incidência em indivíduos do sexo masculino, contudo, com maior facilidade de cura, com contornos diferentes de acordo com a fase de desenvolvimento (infância e adultez) (Fen, Barbosa, & Miguel,2001). A par disso, Teixeira et al (2011) fazem referência ao fato de a Síndrome de La Tourette se manifestar em qualquer estrato social, independentemente da raça, etnia ou mesmo país, diferindo apenas no fato de se observar muito mais em crianças do que em adultos.
No que concerne à associação a outras perturbações, os estudos de Fen, Barbosa e Miguel (2001) demonstram a evidência de maior incidência de POC nos homens do que nas mulheres e que os sintomas começam por se revelar sob a expressão de uma PHDA.
Quanto à questão dos tiques, a maioria dos indivíduos indica que sente menos desconforto quando os realiza, o que demonstra que os mesmos, como uma forma de alívio, são voluntários e quanto mais avançada for a idade, maior é a percepção dos mesmos (Fen, Barbosa, & Miguel,2001).
Um dos maiores problemas da síndrome é a questão social, pois os indivíduos, devido aos contornos da mesma, têm dificuldade de se adaptar em alguns contextos porque são discriminados, principalmente na infância e na adolescência, o que se traduz em défices de desenvolvimento psicossocial e perturbação de prersonalidade (Teixeira et al, 2011).
Ao nível do fenómeno sensorial verifica-se ainda, segundo as pesquisas de Fen, Barbosa e Miguel (2001) que o mesmo é mais comum em indivíduos com sintomas de POC a iniciar por volta dos seis a sete anos.
A respeito dos tiques mais complexos, os autores salientam a coprolalia que é típica mas não obrigatória e que quase metade dos indivíduos manifesta sintomas da mesma (Fen, Barbosa, & Miguel,2001).
Observa-se ainda maior probabilidade de Síndrome de La Tourette em indivíduos com histórico familiar de POC ou de tique, o que significa que a doença é de caris genético (Fen, Barbosa, & Miguel,2001; Teixeira et al, 2011).
Além destes fatores associados, Teixeira et al (2011) referem ainda stresse agravado durante a gestação, traumatismo crânio-encefálico, toxicodependência, desmame de tratamentos farmacológicos, entre outros d origem fisiológica.
Os sintomas começam por ganhar forma em movimentos anormais, clónicos, breves, rápidos, súbitos, despropositados e irresistíveis, provenientes de situações de ansiedade e tensão emocional, diminuindo de grau à medida que o indivíduo necessita de maior concentração (Teixeira et al, 2011).
No que concerne aos meios de tratamento, habitualmente faz-se uma combinação da farmacologia com o acompanhamento psicológico e o mais precocemente possível, procurando sempre abarcar toda a família mais próxima, embora não exista cura mas apenas um alívio dos sintomas (Teixeira et al, 2011).
Conclusão
Apesar de ainda sujeita a vários estudos exploratórios, verifica-se que a Síndrome de La Tourette tem várias características já conhecidas, pelo que é possível aliviar os sintomas, embora não haja cura. Movimentos voluntários, tiques e estímulos sensoriais estão entre as características mais conhecidas. A par disso verifica-se maior incidência no sexo masculino, embora com maior taxa de sucesso do que no sexo feminino, quando se investe no tratamento. Este último é habitualmente realizado com a combinação de fármacos e acompanhamento psicológico, abarcando a família mais próxima já que a doença acarreta fatores genéticos.
References:
- Fen, C.H., Barbosa, E.R., & Miguel, E.C. (2001). SÍNDROME DE GILLES DE LA TOURETTE. Estudo clínico com 58 casos. [em linha] SCIELO Brasil, scielo.br. Arquivos de Neuro-Psiquiatria. Vol.59, no3. Acedido a 14 de junho de 2016 em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X2001000500015;
- Teixeira, L.L.C., Júnior, J.M.S.P., Neto, F.X.P., Targino, M.N., Palheta, A.C.P., & Silva, F.A (2011). Síndrome de La Tourette: revisão de literatura. Tourette syndrome: review of literature. [em linha] SCIELO Brasil, scielo.br. Arquivos Internacionais de Otorrinolaringologia. Vol.15 no.4 São Paulo Oct/Dec. Acedido a 14 de junho de 2016 em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-48722011000400014.