Saúde mental de cuidadores
Devido à elevada sobrecarga, é comum desenvolver-se alterações na saúde mental dos cuidadores de indivíduos dependentes. Por esse motivo torna-se imperativo criar programas que visem melhorar a sua qualidade de vida para que possam ter qualidade de vida e consequentemente dar melhores respostas aos seus dependentes.
Pelos estudos de Cerqueira e Oliveira (2002) uma das principais conclusões que tiramos acerca dos cuidadores de alguém que está dependente, principalmente, dos idosos, é que são maioritariamente mulheres, filhas e esposas do doente.
Habitualmente estas pessoas ficam com o conjugue a seu cargo, , quando se trata da esposa, o que lhes proporciona uma sobrecarga emocional e psicológica enorme, sentimento de culpa e elevados níveis de stresse (Bocchi, 2004).
Esta tarefa é excessivamente exigente, pelo que é necessário proporcional cuidados de saúde adequados a estes cuidadores para que não se tornem eles mesmos, também necessitados de cuidados (Cerqueira, & Oliveira, 2002).
Frequentemente, estes cuidadores ficam demasiado sobrecarregados quando o doente é dependente físico (Bocchi, 2004).
Uma das intervenções fundamentais é garantir que o cuidador tenha acompanhamento no que diz respeito ao campo físico, psicológico, social, financeiro e das emoções, no sentido de prevenir consequências negativas nas mesmas que afetam diretamente a sua qualidade de vida e a da pessoa que têm a seu cargo (Bocchi, 2004; Cerqueira, & Oliveira, 2002).
Por vezes, quando o nível de exigência é demasiado alto e a sobrecarga é demasiada e o cuidador precisa de ajuda mas tem relutância em aceitar, por questões de insegurança enquanto cuidador, medo de abandonar o doente e ele piorar sem a sua presença, entre outros (Bocchi, 2004).
Todos estes fatores associados, acarretam, muitas vezes, sintomas de depressão e outros problemas psiquiátricos porque as atividades pelas quais se responsabilizam, não os permitem ter uma vida social saudável, têm mais dificuldades no trabalho e mais conflitos com a família devido aos seus métodos de cuidar do doente (Bocchi, 2004; Cerqueira, & Oliveira, 2002).
Por outro lado, em alguns casos, o fato de ter um parente dependente da família, leva a que os cuidadores e restantes familiares acabem por se aproximar e unir mais, embora a frequência de convivência com amigos comece a diminuir (Bocchi, 2004).
A par destes problemas encontram-se ainda as exigências da rotina diária bem como os cuidados a ter com as crianças que também estão a cargo, que levam inevitavelmente a que os cuidadores entrem em isolamento social (Bocchi, 2004).
A primeira coisa a fazer deve ser estudar a reação do cuidador face ao stresse, no sentido de encontrar programas que se adequem às suas necessidades (Cerqueira, & Oliveira, 2002).
No que concerne ao cuidador de um idoso, alguns dos aspectos a ter em conta na intervenção, são:
- Informar sobre perturbações inerentes ao processo de envelhecimento e qual a melhor forma de as tratar;
- Informar sobre diagnósticos e tratamentos;
- Informar sobre os serviços de saúde disponíveis;
- Dar estratégias clinicas de como lidar com o comportamento do idoso, promovendo a qualidade de vida de ambos;
- Oferecer meios de favorecer a promoção da qualidade de vida de ambos;
Como conseguir estes objetivos?
- Divulgar a informação pertinente junto dos profissionais de saúde responsáveis e promover competências nos mesmos para que possam dar formação sobre cuidados aos próprios cuidadores;
- Convocar os cuidadores para colocar os programas em prática.
Alguns dos sentimentos mais comuns associados ao fato de ter um doente a cargo são raiva, culpa, perda e luto, solidão, etc, pelo que este tipo de programas permite que o cuidador se expresse e partilhe os seus medos e angústias, no sentido de procurar respostas para aliviar a sua sobrecarga (Cerqueira, & Oliveira, 2002).
Os estudos de Bocchi (2004) vêm precisamente explorar esta sobrecarga dividindo a mesma em duas facetas distintas, a sobrecarga objetiva e a sobrecarga subjetiva. A primeira refere-se ao comportamento do paciente no campo psiquiátrico, bem como ao seu ambiente social, a segunda refere-se às consequências familiares que este comportamento acarreta.
Muitas vezes, os sintomas patológicos nos cuidadores de idosos acontecem porque as próprias perturbações mentais dos doentes aumentam a sobrecarga deles (Cerqueira, & Oliveira, 2002).
Devido à preocupação com o doente, o cuidador vê-se na dificuldade de arranjar tempo para cuidar de si pelo que, quando tem um período de descanso, não consegue usufruir plenamente do mesmo criando insatisfação antecipada (Bocchi, 2004).
Esta incapacidade para aproveitar intervalos de descanso, faz comque o cuidador desenvolva dificuldades em aceitar ajuda quando lhe é oferecida, até mesmo quando é convidado a passar o dia inteiro de folga (Bocchi, 2004).
Conclusão
Devido ao nível de exigência demasiado elevado que acarreta ser cuidador de alguém dependente, é comum que estes indivíduos precisem eles mesmos de cuidados para si, no sentido de aliviar a sobrecarga que lhes é imposta. É comum que os mesmos desenvolvam sentimentos de angústia, medo, e insegurança quanto à auto avaliação das competências enquanto cuidadores, bem como depressão, ansiedade, problemas emocionais e psicológicos e stresse acumulado. Por estes motivos é fundamental criar programas que permitam melhorar a qualidade de vida dos cuidadores de indivíduos dependentes, para que se possa dar resposta às suas necessidades, no sentido de também proporcionar melhores cuidados ao próprio dependente a cargo.
References:
- Bocchi, S.C.M. (2004). VIVENCIANDO A SOBRECARGA AO VIR-A-SER UM CUIDADOR FAMILIAR DE PESSOA COM ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC): UMA ANÁLISE DO CONHECIMENTO. LIVING THE BURDEN IN BECOMING A FAMILY CAREGIVER FOR CEREBROVASCULAR ACCIDENT SURVIVOR: KNOWLEDGE ANALYSYS. VIVIENDO LA SOBRECARGA AL CONVERTIRSE EN CUIDADOR FAMILIAR DE PERSONAS CON ACCIDENTE CEREBROVASCULAR: ANÁLISIS DEL CONOCIMIENTO. [em linha]. SCIELO – scielo.br. Rev Latino-am Enfermagem. 12(1): 115-21. Acedido a 26 de abril de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/rlae/v12n1/v12n1a16.pdf
- Cerqueira, A.T.A.R., & Oliveira, N.I.L. (2002). PROGRAMA DE APOIO A CUIDADORES: UMA AÇÃO TERAPÊUTICA E PREVENTIVA NA ATENÇÃO À SAÚDE DOS IDOSOS. Psicologia USP, Vol.13, Nº1, 133-150.