A piromania diz respeito à gratificação e ao prazer em atear, propositadamente, fogo e observar as suas consequências.
Segundo Gea (s.d.) o fogo está presente na vida dos seres humanos desde sempre por diferentes motivos tais como a sua utilização para diferentes rituais ou como forma de se defender dos predadores. O que torna o mesmo perigoso para a sociedade é a forma como ele é utilizado, nomeadamente, se for popositado, quando o indivíduo age por impulso para provocar incêndios (Gea, s.d.).
O que reconhecemos por piromania é, precisamente, a necessidade patológica de o fazer sem que o indivíduo tenha a capacidade de se controlar (Gea, s.d.).
De acordo com os critérios do DSM-IV TR, Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (2006) a piromania acontece de forma deliberada e propositada e consiste na fascinação, interesse, curiosidade ou atração pelo fogo.
A piromania, de acordo com os trabalhos de Gea (s.d.) está ainda relacionada com outros tipos de perturbação como é o caso da perturbação de controlo dos impulsos, diagnosticada desde o século xix por Pinel e Esquirol quando começaram a abordar a perturbação do impulso instintivo, inicialmente conceituado como monomania instintiva.
Esta perturbação estava comumente associada a problemas com álcool, piromania e até mesmo homicídio ((DSM-IV-TR, Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 2006; Gea, s.d.).
De acordo com as pesquisas de Gea (s.d.) muitos quadros de piromania e cleptomania foram associados a homicídios e outros tipos de crimes levados a cabo por indivíduos com perturbações de personalidade do foro psicopático.
Assim, é possível compreender a piromania dentro das perturbações do controlo dos impulsos, associada a determinadas características tais como:
- Incapacidade em resistir ao impulso e à tentação de exercer algum ato perigoso para si mesmo e para terceiros, sendo que pode, ou não, estar presente a resistência consciente em controlar-se. Isto significa que o ato pode ou não ser premeditado e planeado;
- Aumento cada vez maior da tensão que leva à ação;
- Prazer e gratificação no ato de levar a cabo o crime cometido, principalmente, ao observar as consequências posteriores, uma vez que o mesmo é levado pelo egoísmo, já que diz respeito a uma necessidade de satisfação imediata. No final do ato ocorrido, o indivíduo pode, ou não, experienciar a sensação de lamentação perante o sucedido, e sentir-se culpado.
O indivíduo que ateia o fogo, fica, com bastante frequência, a observar as consequências do fogo ateado, lança alarmes falsos e mostra um enorme interesse em relação a instituições, equipamentos e pessoas que trabalham de perto com o fogo (DSM-IV-TR, Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 2006). Muitas vezes, o indivíduo que sofre de piromania acaba mesmo por trabalhar nestas instituições por se aproximar das pessoas que nelas trabalham, já com esse intuito, chegando mesmo a tornar-se bombeiros (DSM-IV-TR, Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 2006).
Tendo em conta os contornos sinalizados e associados a piromania, podemos dizer que a mesma está diretamente associada a outras perturbações como a cleptomania, já antes referenciada, o jogo patológico, a perturbação explosiva intermitente, ou a tricotolomania (Gea, s.d.).
Dados os critérios associados à piromania, verifica-se que o fogo posto não se relaciona com delírios nem ideias alucinatórias, nem o seu diagnóstico se deve associar a perturbações do comportamento, episódios maníacos ou perturbação anti-social (DSM-IV-TR, Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 2006).
No entanto, no que diz respeito à maior incidência, parece estar mais relacionada com a hiperatividade com défice de atenção, na fase da adolescência, mais frequentemente no sexo masculino (DSM-IV-TR, Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 2006).
Alguns autores consideram a piromania como uma conduta incendiária sem motivação uma vez que, para se libertar da culpa, o indivíduo não mostra qualquer tipo de motivação para levar a cabo o crime cometido (Gea, s.d.).
Conclusão
Verifica-se que a piromania, apesar de estar associada à incapacidade de controlo dos impulsos e comportamento explosivo, não se associa a perturbações de personalidade, delírio ou comportamentos alucinantes. Na maioria dos casos inicia-se na adolescência, mais frequentemente entre os rapazes e está mais associada a problemas de aprendizagem ou a perturbação de hiperatividade com défice de atenção. Em alguns casos verifica-se histórico de alcoolismo, no entanto, a característica mais marcante da piromania é o prazer e a gratificação pela destruição causada pelo atear propositado do fogo.
References:
- AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. (2006). DSM-IV-TR. MANUAL DE DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICA DAS PERTURBAÇÕES MENTAIS. 4ª Edição. Lisboa: Climepsi editores;
- Gea, P.M. (s.d.). Humanidades Piromanía.