Eutanásia
A eutanásia suscita grande capacidade de sensibilização e responsabilidade por parte de quem a administra, pois acarreta uma decisão irreversível para quem decide morrer.
“… livre escolha do indivíduo em morrer de uma forma considerada digna e sem sofrimento.”
(Vaz, 2009, cit in Souza, & Maioral, 2015).
Os estudos de vários autores, conceituam a eutanásia como “boa morte” uma vez que se referem ao direito do paciente a morrer em paz, acabando de vez com o sofrimento continuado e insuportável a que ele e a família estão sujeitos (Cardona, Cabal, & Álvarez, 2009; Souza, & Maioral, 2015; Vilches, 2001).
A eutanásia, habitualmente escolhida por doentes em fase terminal, apesar de ter como objectivo o fim do sofrimento, não garante que o doente não sofrerá de todo, uma vez sendo-lhe administrada a mesma (Souza, & Maioral, 2015).
Do mesmo modo, outros estudos vêem a eutanásia como um acto voluntário não improvisado nem irreflectido de terminar com a vida de alguém a pedido dessa pessoa (Vilches, 2001).
Devido ao sofrimento a que está sempre exposta de forma irreversível (Fonnegra, 2006, cit in Cardona, Cabal, & Álvarez, 2009).
Apesar de ser maioritariamente escolhida nestas circunstâncias, algumas pessoas que com doenças terminais que lhes incapacitam a qualidade de vida digna, também optam pela mesma (Souza, & Maioral, 2015).
Falamos de doentes de esclerose múltipla em estado muito avançado, vítimas de acidentes que ficam tetraplégicas, pessoas com doenças crónicas que sofrem em demasia, etc, uma vez que a doença acarreta consequências para o doente e para a família (Souza, & Maioral, 2015).
De acordo com Vilches (2001) os estudos referem a importância da família no que concerne ao direito do doente à dignidade e autonomia de escolher, quando se trata de morrer em casa, junto dos seus entes queridos.
Outros estudos concordam com estas teorias, referindo que a eutanásia é aceite em diferentes países a partir do momento em que a doença não tem cura e provoca sofrimento extremo, ao ponto de a pessoa sentir que prolongar a sua vida não faz mais sentido (Vilches, 2001).
Com o avanço da ciência e da medicina, a própria morte adquiriu um novo conceito, sendo vista como “ocorrência súbita caracterizada pela interrupção do funcionamento dos órgãos vitais” (Souza, & Maioral, 2015, p.2).
Quanto à eutanásia em si, ela pode ser activa ou passiva, segundo as pesquisas de Souza e Maioral (2015) e de Cardona, Cabal e Álvarez (2009) que descrevem a activa como forma de ajudar o doente a morrer, induzindo-lhe o estado de coma profundo com anestésicos, injecções letais, etc.
Vilches (2015) chama a este tipo de eutanásia “suicídio assistido”.
Tendo em conta que este é um processo de indução da morte, alguns autores chamam a atenção para a necessidade de dar a noção ao doente de que a sua decisão é irreversível, uma vez que se trata de voluntariamente, priva-lo de viver (Vilches, 2001).
A eutanásia passiva, de acordo com os estudos realizados pelos autores, passa por deixar o doente morrer naturalmente, ou desligar-lhe as máquinas que o mantêm vivo (Cardona, Cabal, & Álvarez, 2009; Souza, & Maioral, 2015).
Vilches (2001) descreve a eutanásia passiva como o simples facto de deixar de dar os medicamentos ao doente, que poderiam prolongar a sua vida.
No entanto, há ainda casos em que a eutanásia se dá quando o estado de doença é negligenciado por uma questão de falta de cuidados ou por ausência de recursos (Vilches, 2001).
Segundo as pesquisas de Cardona, Cabal e Álvarez (2009) há ainda alguns aspectos a ter em conta que, só quando todos eles são preenchidos, se pode falar de eutanásia. São eles:
- Intenção de terminar com a vida de um ser humano;
- O sofrimento do indivíduo é intenso e insuportável, sem qualquer tratamento possível;
- Estado terminal;
- Pedido consciente e reiterado da pessoa para que se acabe com a sua vida e se ponha fim ao seu sofrimento.
(Cardona, Cabal, & Álvarez, 2009, p.5).
É importante compreender que a eutanásia não se trata de uma defesa da morte mas sim de dar ao doente o direito de escolher essa opção no sentido de terminar o seu sofrimento (Souza, & Maioral, 2015).
Importa ainda referir o papel do psicólogo no que concerne à decisão pela eutanásia, uma vez que a sua intervenção paliativa é fundamental devido ao estado emocional dos pacientes bem como ao seu avançado estado de depressão (Cardona, Cabal, & Álvarez, 2009).
Conclusão
Quando falamos de eutanásia, referimo-nos a um assunto muito delicado, uma vez que está directamente ligada ao conceito de morte, isto é, de desaparecimento daquele indivíduo. Esta situação irá afectar, na maioria dos casos, todas as pessoas próximas ao mesmo, razão pela qual é preciso prepara-los para a decisão do doente em terminar com a sua vida, explicando o processo de decisão da eutanásia, bem como a eutanásia em si. Convém referir que a mesma é aceite apenas em situações de doença terminal irreversível, em que o doente não tem qualquer qualidade de vida e em que a dor é insuportável, ou em situação de doença crónica cujo desfecho é, mais uma vez, a ausência de qualquer qualidade de vida, ambas as situações, quando o estado do doente afecta também a família toda.
References:
- Cardona, G.P., Cabal, A.N., & Álvarez, C.Z. (2010). EL ROL PSICÓLOGO EM LAS POLITICAS PÚBLICAS ACERCA DE LA EUTANASIA. CUADERNOS HISPANOAMERICANOS DE PSICOLOGÍA. Vol.1 10 nº2, 61-74. Acedido a 8 de Fevereiro de 2016 em http://www.uelbosque.edu.co/sites/default/files/publicaciones/revistas/cuadernos_hispanoamericanos_psicologia/volumen10_numero2/articulo_5.pdf
- Souza, C.O., & Maioral, D.F. (2015). REFLEXÕES SOBRE EUTANÁSIA. [em linha] O PORTAL DOS PSICÓLOGOS, psicologia.pt. Acedido a 8 de Fevereiro de 2016 em http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0939.pdf
- Vilches, L. (2001). Sobre la Eutanasia. On Eutanasia. Revista de Psicologia de la Universidad de Chile. Vol. X, nº1. Acedido a 8 de Fevereiro de 2016 em http://www.revistapsicologia.uchile.cl/index.php/RDP/article/viewFile/18561/19601