Conceito de distorções cognitivas
As distorções cognitivas podem ser entendidas como enviesamentos na forma como o indivíduo processa ou interpreta uma situação. O conceito de distorções cognitivas integra as teorias cognitivas, referindo-se justamente à distorção implícita no modo como o indivíduo “lê” uma situação, quer seja no modo como a explica, interpreta ou as expectativas que apresenta face à mesma. Verifica-se a existência de diversas distorções cognitivas, tais como:
A abstração seletiva – Seleção de certas evidências em detrimento de outras, não atendendo de forma global a situação, e.g. Num relacionamento, tomar atenção unicamente aos momentos em que a outra pessoa não está disponível. A atenção seletiva encontra-se muito relacionada com os estados emocionais, isto é, quando o indivíduo se sente triste (e.g.) pode apresentar tendência para tomar atenção apenas às evidências que consolidam o seu pensamento negativo.
O Pensamento dicotómico – Pensamento tudo ou nada, em que há uma classificação rígida e mutuamente exclusiva da situação (e.g. bom ou mau; competente ou incompetente). O pensamento dicotómico é frequentemente encontrado no perfeccionismo, em que se verifica uma exigência elevada do desempenho do indivíduo, com tendência para as dualidades competência-incompetência, correcto-incorrecto (e.g. “O bom desempenho ou competência implica nunca errar”; Se erro, sou incompetente”).
A Sobregeneralização – Generalização abusiva com base numa situação específica, que é percebida como suficiente para generalizar ao todo, e.g. Ter dificuldade em resolver um problema, generalizando para “Nunca sou capaz de resolver problemas”.
A Desqualificação do positivo – Desconsiderar os aspetos ou acontecimentos positivos, tomando-os como insuficientes ou irrelevantes (e.g. “Receber um elogio pela minha ação não conta, é meu dever”).
A Catastrofização – Exponenciar o resultado/gravidade de uma situação (percebido como insuportável ou intolerável) ou a probabilidade deste ocorrer (e.g. “Não atende o telemóvel, não quer mais falar comigo. Se não quiser mais falar comigo, será o fim da minha vida”).
A Personalização – Responsabilizar-se ou culpabilizar-se por uma situação que não é da sua responsabilidade, atribuindo a si mesmo o resultado. Usualmente a personalização caracteriza-se pela atribuição de resultados negativos ao próprio (e.g. na depressão).
A Inferência arbitrária – Concluir na ausência de fundamentos que sustentem a conclusão. A conclusão precipitada por dever-se a diversos processos, entre eles a leitura da mente, isto é, concluir com base no que o indivíduo pensa que o outro pensa, ou na predição do futuro.
A presença de distorções cognitivas no modo como o indivíduo interpreta uma situação é considerada uma experiência dita normal, isto é, em algum momento todos os indivíduos distorcem a informação, através de uma ou mais distorções cognitivas. Contudo, a rigidez com que um indivíduo distorce a informação apreendida poderá, por sua vez, despoletar um impacto negativo no seu funcionamento cognitivo, emocional e comportamental, podendo facilitar então o desenvolvimento de perturbações psicológicas. A depressão, por exemplo, é caracterizada pela presença de enviesamentos mais inflexíveis, generalizáveis e negativos no modo como o indivíduo se perspetiva, aos outros e ao futuro, sendo importante a intervenção psicológica ao nível cognitivo. Por conseguinte, esta intervenção permite regular a intensidade da experiência emocional (e.g. culpa) e mudar comportamentos (e.g. isolamento social).
Palavras-chave: Distorções cognitivas; terapias cognitivas; pensamento automático; crença disfuncional
References:
Neenan, N., & Dryden, W. (2004). Cognitive Therapy. 100 Keypoints & Techniques. New York: Brunner-Routledge.
Young, J., Rygh, J., Weinberger, A., Beck, A. (2008). Cognitive Therapy for Depression. In D. Barlow (Ed.) Clinical Handbook of Psychological Disorders. A step-by-step treatment manual. New York: Guildford Press