Comunicação na interação com familiares de utentes
A comunicação com os familiares de utentes é fundamental para que se possa fazer um processo de tratamento e de apoio adequado. Este trabalho é imprescindível devido à reorganização a que toda a família terá de realizar.
De acordo com os estudos de Seabra (2013) a comunicação adequada entre a equipa de técnicos de saúde e os familiares, assenta em quatro fatores essenciais:
- Controlo dos sintomas
- Apoio
- Comunicação continuada e eficaz
- Trabalho multidisciplinar
(Seabra, 2013, p.13).
Na comunicação com familiares de utentes é preciso ajuda-los a compreender o desiquilíbrio provocado pela doença, no seio familiar e que todos eles precisam de momentos de descanso por intervalos de tempo (Mendes, Lustosa, & Andrade, 2009).
É importante faze-los compreender que a participação de cada um deles é importante no tratamento mas que não podem estar sempre todos presentes, tendo de intervir cada um no seu devido tempo (Mendes, Lustosa, & Andrade, 2009).
Informar a família sobre o quadro clínico do utente é outro passo fundamental devido ao impacto causado que, por vezes, chega a ser maior do que no próprio enfermo (Mendes, Lustosa, & Andrade, 2009).
Seabra (2013) foca a importância da comunicação nestas situações, por ser esta o palco de interação entre os técnicos de saúde e os familiares, e mesmo dentro do próprio seio familiar.
Normalmente, existe um familiar que vive a doença mais de perto e que é, frequentemente, a esposa ou o marido do/a utente, o que os obriga a tomar decisões sobre a partilha do problema com a restante família, e esse trabalho implica, por vezes, a intervenção do próprio utente, de forma natural, principalmente quando a informação sobre a doença é dada às crianças (Mendes, Lustosa, & Andrade, 2009).
É com este familiar que a aposta numa comunicação eficaz melhor garante a qualidade do processo, pois é através dela que os técnicos de saúde podem responder às necessidades de utentes e familiares (Seabra, 2013).
Também é através da comunicação que Mendes, Lustosa e Andrade (2009) consideram que os familiares podem falar dos seus sentimentos de culpa em relação à doença do elemento em tratamento, e é preciso que falem dos mesmos e dos seus motivos.
A existência de unidades próprias dentro dos hospitais que permitam a acomodação dos familiares, para que descansem, comam, partilhem a sua dor e a sua solidão, na procura de algum consolo através da comunicação entre eles, pode ser uma boa terapia que vai ao encontro destas mesmas necessidades (Mendes, Lustosa, & Andrade, 2009; Seabra, 2013). Para garantir a máxima qualidade destas unidades, o ideal será colocar assistentes sociais e psicólogos à disposição destes, além da visita frequente da equipa de médicos e enfermeiros para que possa m falar acerca dos seus entes enfermos (Mendes, Lustosa, & Andrade, 2009).
Este tipo de apoio procura promover conforto, em busca do melhor bem-estar possível e da dignidade a que eles têm direito (Seabra, 2013).
Em caso de doentes na fase terminal, os familiares passam por vários estágios de adaptação ao processo, pelo que é importante manter uma comunicação funcional e eficaz entre eles e os médicos desde o início pois, quanto mais à vontade estiverem para se expressar, mais suportável será a dor da perda (Mendes, Lustosa, & Andrade, 2009).
De acordo com os autores, o essencial para este tipo de situação é que o médico e a restante equipa estejam sempre disponíveis para prestar todo o tipo de apoio (Mendes, Lustosa, & Andrade, 2009; Seabra, 2013).
A importância do psicólogo
Segundo Mendes, Lustosa e Andrade (2009) a importância do psicólogo no que concerne à comunicação com familiares de utentes é uma peça chave para o processo, uma vez que eles terão de se reajustar na sua família. Falamos de apoio, atenção, compreensão, suporte, sentimentos e melhoria dos vínculos entre familiares (Mendes, Lustosa, & Andrade, 2009).
Seabra (2013) considera fundamental o trabalho do psicólogo no âmbito da comunicação entre o utente, os familiares e os técnicos de saúde, quando o mesmo procura esclarecer dúvidas ao utente e aos familiares e ajudar os técnicos de saúde a adaptar o seu discurso.
Para além de trabalhar os sentimentos dos familiares, o psicólogo deve ainda promover a comunicação entre eles e o próprio doente para que se consiga gerir emoções da forma mais saudável possível para todos (Mendes, Lustosa, & Andrade, 2009; Seabra, 2013).
É comum, nestas situações que situações mal resolvidas, culpas, ressentimentos, relações menos positivas, etc, venham à superfície, o que leva à necessidade de resolver todas estas questões para que se possa fazer um luto menos doloroso em termos de gestão de emoções (Mendes, Lustosa, & Andrade, 2009; Seabra, 2013).
Conclusão
A comunicação com os familiares dos utentes, principalmente em situações de doenças terminais, é fundamental tanto para o processo como para a adaptação da família à nova fase devido à reestruturação que esta vai sofrer. Por esse motivo é preciso que toda a equipa, desde o médico, ao enfermeiro, ao psicólogo ou mesmo ao assistente social, esteja disponível para prestar todo o apoio tanto durante o processo como após a perda, para que os familiares possam partilhar os seus sentimentos e angústias.
A possibilidade de prestar apoio adequado a estes elementos, permite que a sua dor seja um pouco amortecida promovendo algum conforto e procurando o máximo possível de bem-estar da família.
References:
- Mendes, J.A., Lustosa, M.A., & Andrade, M.C.M. (2009). Paciente Terminal, Família e Equipe de Saúde. [em linha] PEPSIC – Periódicos Eletrônicos em Psicologia, pepsic.bvsalud.org/scielo. Rev. SBPH v.12n.1. Acedido a 17 de maio de 2016 em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582009000100011
- Seabra, D.S.C. (2013). Necessidades do familiar cuidador do doente paliativo. Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa – Faculdade de Educação e Psicologia. Porto, Portugal.