Saúde na transexualidade

A saúde na transexualidade visa o correto acompanhamento do indivíduo que pretende iniciar o processo de mudança de sexo.

Saúde na transexualidade

A saúde na transexualidade visa o correto acompanhamento do indivíduo que pretende iniciar o processo de mudança de sexo. O processo é de extrema complexidade e sensibilidade pelo que é fundamental ter em conta diferentes condições quando se faz a avaliação para o diagnóstico e respetiva intervenção.

 

Para falar sobre o fenómeno da transexualidade, podemos remeter a alguns estudos levados a cabo no século xx, no âmbito da biologia, cujo autor, Christian Hamburger, sugeria a não diferenciação entre masculino e feminino, na totalidade, observando o sexo através das seguintes componentes: cromossoma, genética, anatomia ou morfologia, genitália, gonádica, legal, germinal, endocrinológica, psicológica e ainda social (Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008).

A partir daqui o sexo definir-se-ia pela predominância de uma das características, sobre a outra (Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008).

Arán, Murta e Lionço (2009) indicam mais tarde que a saúde no âmbito da transexualidade deve ser vista do ponto de vista terapêutico, isto é, o paciente tem um desvio psicológico que compromete a sua identidade sexual, o que o leva a rejeitar o fenótipo de origem e a proceder à automutilação da sua própria genitália.

Os estudos levados a cabo por Arán, Zaidhaft e Murta (2008) já haviam referido as benesses do procedimento cirúrgico junto de pacientes transexuais uma vez que permite ao indivíduo encontrar uma integração entre o corpo e a condição psíquica.

Por esse motivo, a cirurgia passou a ser legal em países como o Brasil no sentido de promover a saúde física e psíquica do paciente, mediante um acompanhamento multidisciplinar de, no mínimo, dois anos em que se confirme a presença de todos os critérios de diagnóstico que dizem respeito ao carácter transexual da perturbação (Arán, Murta, & Lionço, 2009; Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008).

Após a legalização do processo cirúrgico, muitos pacientes procuraram profissionais de medicina especializados na área, relatando altos níveis de sofrimento provenientes da condição biológica, o que fez nascer vários programas de assistência a estas populações (Arán, Murta, & Lionço, 2009).

Estes indicadores remetem para 2002, ano em que o Conselho Federal de Medicina (CFM) permitiu a alteração do fenótipo para aquele no qual o indivíduo se identifica, em hospitais públicos e provados (Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008).

Em qualquer circunstância Arán, Zaidhaft e Murta (2008) referem que é fundamental garantir a integridade do indivíduo desde o acompanhamento a realizar no que concerne ao processo de transexualização propriamente dito até aos cuidados de saúde disponíveis, no geral.

Quando se fala em acompanhamento para com indivíduos transexuais há que ter em conta diferentes etapas, sendo elas:

  • Avaliação e acompanhamento psiquiátrico separados por determinado intervalo de tempo, no sentido de confirmar o diagnóstico
  • Psicoterapia de grupo e individual
  • Terapia hormonal com o intuito de produzir características sexuais associadas à identidade sexual do paciente
  • Avaliação genética
  • Tratamento cirúrgico

(Arán, Murta, & Lionço, 2009, p.1142).

Tendo em conta as diferentes etapas podemos compreender o carácter psiquiátrico do processo de mudança de sexo, o qual, para além disso, devido aos contornos associados à identificação legal do indivíduo, acarreta questões de ordem médica, psicológica mas também jurídica (Arán, Murta, & Lionço, 2009).

“… é importante salientar a necessidade de psiquiatrização da transexualidade como condição de acesso à saúde pública…”

Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008, p.71).

A transexualidade, ao nível da saúde, é, por estas razões, uma condição de extrema sensibilidade, o que leva à necessidade prioritária de intervir para com o paciente transexual, do ponto de vista da cidadania, ou seja uma vez que o diagnóstico patologiza a condição da pessoa, a mesma passa, de imediato, para o risco de estigmatização, por questões históricas, políticas e subjetivas, as quais devem ser tratadas com o máximo cuidado (Arán, Murta, & Lionço, 2009).

De referir ainda a visão do indivíduo que se encontra em processo de mudança de sexo, uma vez que a expectativa em relação a esta cirurgia é encarada de forma peculiar, já que há a tendência para ver a alteração como uma forma de colocar o corpo físico em conformidade com a estrutura psíquica (Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008). Nesse sentido, a operação é a resposta para a liberdade em relação a um corpo que não é encarado como sendo “o seu” (Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008).

Conclusão

A saúde no âmbito da transexualidade mostra-se uma área bastante sensível uma vez que acarreta vários fatores importantes tais como a psicologia, a biologia, a medicina, a psiquiatria e o direito, cujos profissionais devem trabalhar em equipa para fazer o acompanhamento adequado do paciente. O processo é de extrema complexidade, levando um mínimo e dois anos, pelo que o paciente é encaminhado para cirurgia após o reconhecimento das benesses associadas à mudança de sexo aquando da intervenção multidisciplinar.

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References:

  • Arán, Márcia, Murta, Daniela, & Lionço, Tatiana. (2009). Transexualidade e saúde pública no Brasil. Ciência & Saúde coletiva, 2009 – SCIELO Pulic Health;
  • Arán, Márcia, Zaidhaft, Sérgio, & Murta, Daniela. (2008). TRANSEXUALIDADE: CORPO, SUBJETIVIDADE E SAÚDE COLETIVA. Psicologia & Sociedade; 20(1):70-79, 2008.

 

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