Franz Liszt

Biografia do compositor e pianista húngaro Franz Liszt (1811-1886), o maior virtuoso do seu tempo e uma das maiores figuras do romantismo na música.

Nascimento 22 de Outubro de 1811, Raiding, Hungria
Morte 31 de Julho de 1886, Bayreuth, Alemanha
Família Filhos: Blandine (1835-1862), Cosima (1836-1930) e Daniel (1839-1859)
Ocupação Compositor, pianista (virtuoso) e professor
Principais obras 12 poemas sinfónicos; «6 Rapsódias Húngaras» para orquestra; sinfonias «Dante» e «Fausto»; oratórias «Christus» e «Lenda de S.Isabel»; «Missa da Coroação Húngara»; «Les Morts»; para piano, «6 estudos de execução transcendente sobre Paganini», «Estudos Transcendentais», «Années de Pèlerinage», «Harmonies poétiques et réligieuses», «Consolations», «Rapsódias Húngaras» etc.

Primeiros anos

Franz Liszt nasceu em 22 de Outubro de 1811, em Raiding, na Hungria, na altura parte do Império Austríaco. O pai do músico, Adam Liszt, estava ao serviço do príncipe Nikolaus II de Esterházy, cujo palácio era frequentado por músicos de renome como Haydn, Hummel  e Beethoven, e o próprio Adam, enquanto músico amador, tocava piano, violino, violoncelo e guitarra. Este ambiente influenciou certamente o despertar do pequeno Liszt que começou a aprender a tocar piano com sete anos, com oito anos iniciou-se na composição e, aos nove anos de idade, realizou os seus primeiros recitais.

Depois destes concertos, um grupo de magnatas húngaros ofereceu-se para financiar os estudos musicais de Franz em Viena. Adam obteve então uma dispensa do seu serviço e levou a família para a Viena. Deste modo, Liszt teve a oportunidade de receber lições de piano com o compositor e pianista Carl Czerny e lições de composição com Antonio Salieri, então director musical da corte de Viena.

O pianista apresentou-se em público com grande sucesso em Viena e, em 1823, mudou-se com a família para Paris, dando concertos na Alemanha pelo caminho. Embora lhe tenha sido recusada a entrada no Conservatório de Paris, porque era estrangeiro, continuou a sua educação musical com o teórico Anton Reicha e o director do Théâtre-Italien e compositor de óperas ligeiras Ferdinando Paer. A sua estreia em Paris, em 7 de Março de 1824, obteve um sucesso estrondoso, pelo que rapidamente se seguiram outros concertos, bem como uma visita a Inglaterra, um prelúdio para a digressão que realizaria nesse país no ano seguinte. Nesta digressão, além de tocar no Castelo de Windsor para o rei Jorge IV, estreou a abertura da sua ópera de um acto, «Dom Sanche», produzida depois na capital francesa, em 17 de Outubro de 1825. Regressou à estrada em 1826, iniciando uma nova tour, desta vez por França, Suíça, e, mais uma vez, Inglaterra.

Em 1827, depois de sofrer de uma exaustão nervosa, o pai acompanhou-o a Boulogne-su-Mer, junto ao mar, para que Liszt se restabelecesse. Numa reviravolta inesperada, Adam faleceu ali devido à febre tifóide.

Adolescência em Paris

Regressou a Paris, onde viveu com a mãe num pequeno apartamento nos cinco anos subsequentes à morte do pai, vivendo maioritariamente daquilo que recebia enquanto professor de piano.

Em 1828, Liszt apaixonou-se por uma das suas alunas mas o pai desta insistiu no fim do relacionamento. Como resultado, o compositor adoeceu. Superada a doença, enfrentou um período depressivo, marcado por um certo pessimismo religioso. Embora tenha manifestado o desejo de seguir o sacerdócio, acabou sendo dissuadido pela mãe.

O certo é que ao distanciar-se da carreira de virtuoso, permitiu-se a compensar a sua educação incompleta, até então voltada somente para a música, através da leitura. Deste modo, entrou em contacto com importantes autores da época, entre os quais Alphonse de Lamartine, Victor Hugo e Heinrich Heine. Em 1830, depois da Revolução de Julho, esboçou a «Sinfonia Revolucionária», regressando assim ao universo da música.

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Berlioz, Paganini e Chopin

Entre 1830 e 1832, Liszt conheceu os músicos que mais influência exerceram no seu estilo artístico.

No final de 1830, conheceu Hector Berlioz e esteve presente na estreia da «Sinfonia Fantástica». Deste herdou a habilidade para conduzir uma orquestra romântica. Ao mesmo tempo, transcreveu a «Sinfonia Fantástica» para piano, auxiliando Berlioz em transcrições do género e divulgando a sua obra nos seus recitais.

Em Março de 1831, assistiu ao concerto de Niccolò Paganini na Ópera de Paris. A técnica do músico italiano, o maior virtuoso do violino na história da música, fascinou-o de tal modo que Liszt redobrou a exigência do seu próprio estudo, explorando uma nova série de procedimentos artísticos, com o objectivo de conferir ao piano uma sonoridade orquestral. Desta relação, quase de competição poderá dizer-se, com a obra de Paganini resultaram a fantasia para piano «La Campanella» e os «Seis estudos sobre Paganini».

Por último, o compositor conheceu também Frédéric Chopin, cujo estilo poético exerceu uma profunda influência na sua obra.

Condessa Marie d’Agoult

Em 1833, Liszt conheceu a condessa Marie d’Agoult, com que iniciou uma relação, embora esta fossemarie casada. Em 1835, a condessa abandonou o marido e juntou-se ao compositor na Suiça, onde nasceu a primeira filha do casal, Blandine. Dois anos depois, nasceu Cosima. O casal viveu durante quatro anos na Suiça e na Itália. O compositor ensinava na altura no Conservatório de Genebra.

Este período da sua vida, a lado de Marie d’Agoult, encontra-se celebrado nos primeiros dois livros de peças para piano colectivamente chamadas de «Années de pèlerinage», que são, nada mais nada menos, do que evocações poéticas de paisagens/cenas suíças e italianas.

Em 1839, e apesar do nascimento do terceiro filho de ambos, Daniel, a relação começou a enfrentar dificuldades. Nesta altura, ao saber que um memorial a Beethoven corria o risco de não ser concluído por falta de fundos, Liszt, com o objectivo de angariar fundos, retomou a vida intensa de virtuoso. Enquanto este dava concertos em Viena e na Hungria, Marie d’Agoult regressou a Paris com os filhos.

Nos oito anos seguintes continuou a viajar por toda a Europa, fazendo receitas em países distantes do centro europeu como Irlanda, Portugal, Turquia ou Rússia. Continuava, no entanto, a passar s férias de Verão com a Madame d’Agoult e as crianças na ilha de Nonnenweth. Finalmente, em 1844, separaram-se e Liszt levou os filhos consigo para Paris.

A sua reputação como pianista estava, nesta altura, no auge. Não obstante, continuou a compor, especialmente para piano. A sua visita à Hungria, em 1830-40, a primeira desde a sua meninez, foi fundamental para a renovação do interesse na música tipicamente húngara, a base para as conhecidas «Rapsódias Húngaras».

Weimar

Em Fevereiro de 1847, Liszt conheceu a princesa Carolyne Sayn-Wittgenstein em Kiev, de quem se tornou amante. Esta convenceu-o a abandonar a carreira nos palcos e a concentrar-se na composição. Em Setembro desse ano, o pianista deu o seu último concerto e assentou na corte de Weimar, na Alemanha, onde efectuava concertos desde 1843. Permaneceu ali até 1859.

Durante esta década, o compositor transformou Weimar num centro musical eminente, dirigindo um vasto número de obras, especialmente de Berlioz e Wagner, que tinha conhecido em 1842. Em 1850, dirigiu a estreia de «Lohengrin». Foram também anos de grande produção para o próprio Liszt: escreveu as sinfonias «Fauno» e «Dante», 12 poemas sinfónicos, três concertos para piano, além de ter revisto os «Estudos Transcendentais», os «Grandes Estudos de Paganini» e muitas outras obras que tinha esboçado no início dos anos 40.

Roma

Franz Liszt decidiu abandonar Weimar em 1860, por diversas razões: a cidade tinha-se tornado no centro da música moderna da altura, algo que não era bem visto pelos músicos mais académicas; alguns membros da corte estavam também insatisfeitos pelo facto do compositor continuar a apoiar Wagner, que tinha sido banido da Alemanha pelo activismo político; muitos opunham-se à relação aberta que mantinha com a princesa Sayn-Wittgenstein, casada; e, finalmente, o seu filho Daniel faleceu em 1859, com 20 anos, afectando profundamente o compositor que escreveu «Les Morts» em sua memória.

Seguindo a princesa que, em 1860, se dirigiu a Roma com objectivo de obter a aprovação papal para o seu divórcio, o músico instalou-se então em Itália. Esperavam casar no seu 50.º aniversário mas o papa voltou atrás na decisão; os dois acabaram por permanecer em Roma, em localizações separadas. Liszt, que viveria na capital italiana nos oito anos seguintes, dedicou-se neste período sobretudo à composição de música religiosa, incluindo as oratórias «A Lenda de S.Isabel», «Christus» e a «Missa da Coroação Húngara», que restabeleceu a ligação do músico à sua terra natal.

No aspecto privado, Liszt sofreu a morte da sua filha mais velha, de 26 anos anos idade, em 1862. Em 1864, apesar do falecimento do marido da princesa, os dois não voltaram a pensar no casamento e, no ano seguinte, o compositor recebeu quatro ordens menores da Igreja Católica Romana (nunca se tornando padre). Entretanto, a sua filha Cosima, que havia iniciado uma relação extra-conjugal com Wagner (era casada com um dos alunos favoritos do pai, Hans von Bülow), teve um filho deste. Toda situação conduziu a um conflito entre os dois compositores que duraria até 1872. Depois desta data passaria a frequentar todos os festivais de Bayreuth organizados por iniciativa de Wagner.

Últimos anos

Em 1869, foi convidado a regressar a Weimar, para uma masterclass de piano, sendo convidado a ir até Budapeste para o mesmo propósito. Liszt passou, então, a dividir o seu tempo entre Roma, Weimar e Budapeste, num período em que as suas aventuras amorosas continuavam a dar que falar em toda a Europa.

Nos últimos cinco anos de vida dedicou-se ao ensino e entrou numa nova fase de composição, marcada por uma espécie de experimentalismo. As suas inovações harmónicas deste período anteciparam aquilo que se viria a tornar o impressionismo de Debussy.

Em 1886, Liszt voltou aos palcos, numa digressão de jubileu para marcar o seu 75.º aniversário, voltando a visitar, assim, Paris e Londres. O seu último concerto aconteceu no dia 19 de Julho, no Luxemburgo, mas a sua fraca saúde, que se vinha a deteriorar há vários meses, levou a melhor no dia 31 de Julho desse ano, em Beyreuth, onde se tinha dirigido para assistir ao festival.

Liszt final de vida

Legado

Franz Liszt aparece-nos, com toda a certeza, como o maior virtuoso do piano do seu tempo e uma das maiores figuras, senão a maior, do romantismo musical. As suas obras para piano pertencem a uma categoria própria, desenvolveu uma nova forma de arte através da invenção dos poemas sinfónicos, as suas sinfonias são estimulantes e imaginativas, as obras religiosas comovedoras e as suas canções de grande qualidade. Inspirou-se em temáticas extra-musicais, nomeadamente literatura e natureza, e, sobretudo, expandiu a linguagem harmónica do seu tempo. O seu desenvolvimento da harmonia cromática conduziu, com toda a certeza, àquilo que se viria a tornar a revolução atonal do século XX.

Outra sua característica, não menos notável, foi a sua generosidade para com os outros músicos e amigos. Nos seus recitais divulgou e encorajou a música de Bach, Beethoven, Schubert, Berlioz, Wagner e Schumann, tendo transcrito para piano obras destes quando estas não eram suficientemente apreciadas. Auxiliou novos compositores, como Grieg, Balakirev, Borodin e Debussy, e ensinou um grande número de alunos que se tornariam, eles próprios, virtuosos.

Liszt foi uma figura controversa no seu tempo, atacado pelas suas inovações, ao mesmo que invejado pela adulação com que era recebido nos seus recitais e pela personalidade “brilhante” e vivaz. As suas composições demoraram algum tempo a conquistar o seu devido lugar, tendo sido consideradas, na época, superficiais, mas são hoje reconhecidas como ocupando um lugar elevado, não só pelas próprias virtudes, mas pela clara influência que tiveram em tantos compositores que se lhe seguiram. O músico foi, na verdade, um revolucionário, tendo antecipado muitos desenvolvimentos que marcariam as décadas seguintes.

 

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References:

Kennedy, M. (1994). Dicionário Oxford de Música. Publicações Dom Quixote.

Searle, H. (2017). Franz Liszt. Em https://www.britannica.com/biography/Franz-Liszt

 

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