Umberto Eco, o filósofo das massas
Umberto Eco foi um escritor, filósofo e semiólogo italiano. Um dos mais reconhecidos intelectuais europeus foi, também, autor de grandes romances, como O nome da rosa. Diz que sempre sentiu um forte impulso narrativo, mesmo antes de escrever romances.
Umberto Eco nasceu em Alessandria, Itália, no dia 5 de janeiro de 1932, e morreu a 19 de fevereiro de 2016 em Milão.
Estudou filosofia na Universidade de Turim e terminou o seu doutoramento em 1954 com a apresentação de uma tese sobre a estética de São Tomás de Aquino: «O problema estético em São Tomás de Aquino».
Entre 1955 e 1958 trabalhou ao serviço da televisão estatal italiana, a RAI, como editor em programas culturais. Ao mesmo tempo, lecionou nas universidades de Turim, Milão e Florença. Em 1971 passa a ser professor na Universidade de Bolonha que o nomeia professor catedrático de Semiótica aos 39 anos.
Umberto Eco, académico
Os seus primeiros estudos incidem fundamentalmente no campo da Estética, sendo que mais tarde se alargam à teoria da literatura, aos estudos da comunicação e, com grande enfoque, à semiótica.
Em 1962 publica «Obra Aberta», obra de destaque na área de semiótica, onde Eco defende que cada obra é passível de numerosas interpretações pelo simples facto de integrar em si uma infinidade de signos. Esta «Obra Aberta» constitui um marco porque, pela primeira, vez, é refutada a ideia da ‘leitura única’ que então proliferava – existe uma intenção do autor, sim, mas o leitor, na sua receção, assume um papel transformador da própria obra. A expressão ‘obra aberta’ é ainda hoje bem conhecida por entre os alunos das faculdades de ciências sociais e humanas.
Bastante reconhecido é também o ensaio «Como se faz uma tese em ciências humanas», publicado em 1977, citado frequentemente em defesas de teses e dissertações académicas. Além destes, muitos foram os estudos académicos que Umberto Eco publicou. Seguem alguns dos mais reconhecidos:
- «Apocalíticos e Integrados» (1964)
- «A definição de arte» (1968)
- «A estrutura ausente» (1968)
- «As Formas do Conteúdo» (1971)
- «Mentiras que parecem verdades» (1972)
- «Tratado geral de Semiótica» (1976)
- «O super-homem das massas» (1978)
- «Viagem na irrealidade quotidiana» (1983)
- «O conceito de texto» (1984)
- «Sobre o espelho e outros ensaios» (1985)
- «Arte e Beleza na Estética Medieval» (1987)
- «Os limites da interpretação» (1990)
- «Interpretação e superinterpretação» (1992)
- «Sobre a literatura» (2002).
Atenção especial para «Apocalíticos e Integrados», ao longo do qual Umberto Eco analisa aquela que é a cultura dita elitista e a cultura apelidada de popular. Sobre este assunto, afirma numa entrevista dada ao The Guardian, em 2002: “Não sou um fundamentalista, dizendo que não há diferença entre Homero e Walt Disney. Mas o rato Mickey pode ser perfeito da mesma forma que um haiku japonês” (poema breve japonês). O seu interesse pela cultura popular é de conhecimento geral: em «O Super-Homem das massas» analisa as características e transformações da figura do super herói desde o Conde de Monte Cristo, passando por Tarzan e chegando ao James Bond dos dias de hoje.
Umberto Eco, contador de histórias
Umberto Eco foi um genuíno contador de histórias. Dois dos seus livros mais reconhecidos foram «O Nome da Rosa», publicado em 1980, e «O Pêndulo de Foucault», em 1988.
«O Nome da Rosa» é uma história pautada de enigmas, passada numa abadia medieval, no ano de 1327. Uma das personagens principais, o franciscano Guilherme de Baskerville, acompanhado pelo noviço Adso, procura decifrar as misteriosas ocorrências que parecem todas girar em torno do desmedido valor de uma obra.
«O Nome da Rosa» foi adaptado para cinema, em 1986, por Jean-Jacques Annaud. No filme, Sean Connery faz o brilhante papel do frade franciscano Guilherme de Baskerville.
«O Pêndulo de Foucault» é um romance que gira em torno de sociedades secretas e de um plano, formulado no ano de 1312, cuja finalidade é a governação da humanidade. A narrativa está recheada de referências exotéricas.
Eco foi autor de outros romances: «A Ilha do Dia Antes» (1994), «Baudolino» (2000), «A Misteriosa Chama da Rainha Loana» (2004) e «O Cemitério de Praga» (2011). O último, editado em 2015, foi «O número Zero».
Sobre o trabalho de romancista, Eco afirmou por diversas vezes que a pesquisa que antecede o ato de escrita é fase mais prazerosa. Para escrever «O Nome da Rosa», a pesquisa durou apenas dois anos – no caso de «O pêndulo de Foucault» foram precisos oito anos de investigação. O arranque de um novo romance era impulsionado, geralmente, por uma imagem mental – no caso de «O Nome da Rosa», a imagem de um monge a ser envenenado enquanto lia um livro.
Umberto Eco defende que, ao escrever-se um romance histórico, deve obedecer-se à verdade histórica que, segundo ele, por vezes é mais ficcional do que a própria ficção.
Apesar do prazer especial que sentia em contar histórias, afirma que escrever romances era uma atividade de fim de semana. O trabalho académico era a sua atividade principal.
Foi ativista pela importância do pensamento crítico, aproveitando o seu mediatismo para promover projetos educativos e de investigação. Fundou a Escola Superior de Estudos Humanísticos de Bolonha e a Associação Internacional de Semiótica.