Psicologia do lazer
A psicologia do lazer visa a promoção de atividades que estimulem o bem-estar e a qualidade de vida dos indivíduos. Deste modo, pretendemos compreender em que ela pode promover tais benesses.
Pondé e Caroso (2003) observaram, nas suas pesquisas, que cada vez mais é notória a influência do lazer para a saúde mental, a satisfação e a qualidade de vida.
Do mesmo modo, outros estudos indicam que atividades intra e interpessoais de contato com a natureza, associadas à componente lúdica, ajudam a promover o relaxamento, a alegria e o divertimento, o que facilita a construção de afetos entre as pessoas e, por conseguinte, estimulam a vivência do lazer (Gáspari, & Schartz, 2005).
Esculcas e Mota (2005) consideram ainda, no campo educacional, que, de acordo com os seus estudos junto de adolescentes, a percepção que os mesmos têm sobre as atividades de lazer, influenciam a sua saúde mental e que esta sofre também alterações ao longo do desenvolvimento dos adolescentes.
Outro fator ainda que não podemos deixar de valorizar, é o fato de as atividades de lazer quando realizadas ao ar livre, estimulam e promovem a educação, devido ao contato direto com a natureza, que estimula o desenvolvimento do seu pensamento crítico, a criatividade e as competências sociais (Gáspari, & Schartz, 2005).
O lazer e a saúde mental
Do ponto de vista psiquiátrico a literatura vem demonstrando que as perturbações mentais afetam a qualidade de vida do indivíduo e a sua capacidade para sentir prazer em realizar atividades sociais, traduzindo-se no isolamento e ausência de participação em grupos de lazer, chegando mesmo a sentir ansiedade ao enfrentar as mesmas (Pondé, & Caroso, 2003).
Partindo deste pressuposto, facilmente se pode concluir que a ausência de atividades de lazer empobrece a qualidade de vida do indivíduo, pelo que é imprescindível a promoção de atividades lúdicas junto de pacientes psiquiátricos no sentido de prevenir comportamentos agressivos e autodestrutivos (Pondé, & Caroso, 2003).
Os autores observaram ainda nas suas pesquisas que estudos realizados juntos de universitários demonstram uma relação inversa entre atividades de lazer e stresse, ou seja, os alunos que participam em atividades de lazer, sofrem menos stresse do que os que não participam (Pondé, & Caroso, 2003).
No que concerne ao campo da educação, estudos levados a cabo por Esculcas e Mota (2005) permitiram também concluir que o género (feminino/masculino) influencia o significado de lazer entre adolescentes, uma vez que o prazer que lhe é associado não é percepcionado pelas mesmas atividades entre rapazes e raparigas.
Os rapazes sentem mais prazer quando realizam atividades de lazer ligadas ao risco (desportos radicais), enquanto as raparigas associam o lazer a atividades culturais, sociais e educacionais (discotecas, conversar com amigos).
Da mesma forma, se tivermos atenção ao fator faixa etária, concluímos a mesma tendência para melhor qualidade de vida devido às atividades de lazer, se observarmos alguns estudos feitos junto de idosos numa clínica geriátrica, que se mostram mais satisfeitos com a vida (Pondé, & Caroso, 2003).
A participação em atividades que permitem experimentar diferentes vivências, abrem novas oportunidades à população idosa, facilitando o seu acesso ao lazer e a assumir-se como cidadão com direito a fazer parte das atividades sociais (Gáspari, & Schartz, 2005).
As atividades de lazer, de acordo com as pesquisas de Pondé e Caroso (2003) são ainda responsáveis pela diminuição do stresse, principalmente quando as mesmas são realizadas em grupo, estimulando também a área emocional.
Uma vez que já falamos das benesses associadas às atividades de lazer, não podemos deixar de referir alguns fatores que prejudicam a possibilidade de participação nas mesmas, que, muitas vezes se relacionam com a pobreza e a desigualdade social, e que chegam a interferir com a saúde mental mesmo em termos coletivos.
Por vezes a sobrecarga de trabalho que muitos indivíduos têm, impede de ter qualquer atividade de lazer (Pondé, & Caroso, 2003).
É por esse motivo que Pondé e Caroso (2003) apontam fatores de ordem individual, grupal e cultural quando falam de saúde mental pelo que as experiências de vida do indivíduo podem despoletar sofrimento.
Indo ao encontro destes fatores, os estudos de Gáspari e Schartz (2005) quando falam de população idosa, fazem referência a esta questão da participação em atividades grupais e ao cuidado com a alimentação bem como a prática de exercício físico que diminuem o isolamento, sedentarismo, fadiga, indisposição, etc e melhoram a qualidade de vida dos mesmos.
Conclusão
Tendo em conta as linhas acima, é possível perceber que a possibilidade de participar em atividades de lazer, interfere positivamente com o bem-estar psicológico e mental do indivíduo porque estimula a sensação de relaxamento, alegria e diminui o stresse. Duas das fases de desenvolvimento que parecem necessitar mais da estimulação das atividades de lazer, são a adolescência e a velhice. Os estudos apontam para benesses ao nível da educação, da inteligência e da criatividade, no que concerne à promoção de atividades de lazer entre adolescentes, e para benesses no que concerne à saúde mental, qualidade de vida, diminuição da fadiga e do sedentarismo, junto da população idosa. Vale ainda referir que as mesmas benesses se encontram quando se experimenta a implementação de atividades lúdicas junto de doentes psiquiátricos, uma vez que se verifica diminuição de comportamentos agressivos.
References:
- Esculcas, C., & Mota, J. (2005). Actividade física e práticas de lazer m adolescentes. Revista Portuguesa de Ciências do Despoto, vol.5, nº1, 169-761. Acedido a 17 de março de 2016 em http://www.fade.up.pt/rpcd/_arquivo/RPCD_vol.5_nr.1.pdf#page=71
- Gáspari, J.C., & Schartz, G.M. (2005). O Idoso e a Resignificação Emocional do Lazer. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Vol.21, nº1, p.069-076. Acedido a 17 de março de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/%0D/ptp/v21n1/a10v21n1.pdf
- Pondé, M.P., & Caroso, C. (2003). LAZER COMO FATOR DE PROTEÇÃO DA SAÚDE MENTAL. LEISURE AS A PROTECTIVE FACTOR FOR MENTAL HEALTH. Ciênc. Méd., 12(2): 163:172