Gryllus campestris (Grilo Campestre)

Apresentação do Grilo Campestre: o grilo campestre é um grande grilo preto brilhante com uma distinta cabeça grande, especialmente no macho…

Gryllus campestris (Grilo Campestre)
Reino Filo Classe Ordem Família Género Espécie
 Animalia Arthropoda Insecta Orthoptera  Gryllidae Gryllus G. campestris

 

Distrib. Geográfica Estatuto Conserv. Habitat Dieta Longevidade Predação
Europa Central e do Sul
Ásia Ocidental
Norte de África
 Pouco preocupante Solo quente, seco e poroso com vegetação baixa; tocas Omnívoro <1 ano Aves (ex. picanço-real) e lagartos

 

Características Físicas
Anatómicas  Corpo rijo e cilíndrico preto; base das tégminas é de cor amarela
Dimorfismo Sexual  Cabeça e asas anteriores maiores no macho; as fêmeas têm o corpo acastanhado e a base das tégminas não é amarela; os machos apresentam dois apêndices na zona terminal e as fêmeas três.
Tamanho  2,5 cm (máx.)

 

Sistemática e distribuição geográfica

O grilo campestre encontra-se distribuído pela Europa Central e do Sul, Ásia Ocidental e Norte de África. Contudo, durante as ultimas décadas a população de grilos campestre mostra um grande declínio em muitas zonas da sua distribuição geográfica. Em Portugal encontra-se por todo o continente e no Arquipélago dos Açores.

Distribuição geográfica do Gryllus campestris. Fonte: IUCN Red List

Distribuição geográfica do Gryllus campestris.
Fonte: IUCN Red List

Comparando o grilo campestre com o seu parente próximo, Gryllus bimaculatus (grilo-provençal), (embora muito semelhante morfologicamente) poderemos constatar que o grilo campestre apresenta cabeça grande e asas curtas.

Estatuto de conservação

O grilo campestre está classificado, de acordo com o livro vermelho do IUCN, como pouco preocupante (“Least Concern”). Contudo, em muitas partes da Europa, esta espécie está em declínio devido à perda, destruição e fragmentação do seu habitat que se deve essencialmente à intensificação da agricultura e ao aumento da eutrofização (poluição da água devido ao excesso de nutrientes das plantas), bem como a sua deslocação do seu habitat natural por seres humanos. Outro fator responsável pela redução da fonte de alimentação é o pastoreio de animais como as ovelhas, os cavalos e gado.

No Reino Unido e na Alemanha estão a ser feitas ações de conservação para reintroduzir o grilo campestre.

Morfologia

Trata-se de um inseto de tamanho médio, pois não ultrapassa os 2,5 cm no seu estado adulto e o seu corpo é rijo, de forma quase cilíndrica.

Gryllus campestris (macho) Fonte: Francisco Barros

Gryllus campestris (macho)
Fonte: Francisco Barros

Este inseto é de cor preta (macho) / castanha (fêmea) com uma cabeça grande (em proporção com o resto do corpo e de forma arredondada). As antenas são filiformes e o seu tamanho pode ultrapassar o comprimento total do corpo, possuindo recetores sensoriais relacionados com a deteção de odores. Os olhos são grandes e de cor preta, proporcionando uma boa capacidade de visão. A boca é mastigadora e tem mandíbulas grandes e fortes (sobretudo nos machos), necessárias para a alimentação e para as lutas entre rivais durante o período de reprodução.

Por trás da cabeça, situa-se o pronoto (escudo duro que protege o tórax do grilo). Seguidamente ao pronoto, encontram-se os dois pares de asas (o segundo par de asas são membranosas e relativamente compridas e permanecem protegidas pelas tégminas, primeiro par de asas). As tégminas, nos machos, são um pouco endurecidas e funcionam como órgãos de estridulação (para produzir os sons durante a época de reprodução).

As extremidades abdominais do macho e da fêmea apresentam grandes diferenças. No caso da fêmea, existe um oviscapto ou ovopositor (apêndice através do qual as fêmeas levam a cabo a postura dos ovos) comprido. Em ambos os lados do ovopositor encontram-se dois cercos, que se encontram cobertos por uma grande quantidade de pêlos sensoriais. O macho, carece de ovopositor e possui uma placa subgenital mais desenvolvida.

Gryllus campestris (fêmea). Fonte: Gilles San Martin

Gryllus campestris (fêmea).
Fonte: Gilles San Martin

Os três pares de patas locomotoras são relativamente robustas, em especial as ultimas. É este pare que os grilos utilizam para saltar, embora a sua capacidade de salto não se compara com a dos gafanhotos.

Alimentação

Os grilos são insetos omnívoros, isto é, podem comer tanto a matéria vegetal como animal. Na sua dieta é predominante o consumo de vegetais, embora também consomem larvas e pequenos insetos que capturam durante as suas deslocações à noite, devido à sua rapidez de movimentos e às suas fortes mandíbulas.

O grilo campestre alimenta-se de sementes, outras partes de plantas ou insetos (vivos ou mortos). Praticam também o canibalismo.

Este inseto fornece serviços benéficos para o ecossistema através do consumo de ovos e pupas de insetos que são consideradas pestes.

Reprodução

Todos os anos, no inicio do Outono, ninfas no penúltimo instar do grilo campestre cavam tocas no solo e hibernam até final de Abril e início de Maio. Quando as ninfas emergem, elas continuam o seu desenvolvimento até à última muda (fazem cerca de doze mudas no total) e iniciam a época de reprodução.

A época de reprodução desta espécie univoltina (reproduz-se apenas uma vez por ano) dura de Maio a Julho. O macho escava uma toca, e à entrada desta atrai a fêmea através do seu canto (som reproduzido através das suas asas anteriores). A proximidade de uma fêmea estimula o macho, que acelera o seu canto e começa a realizar uns movimentos compassados de atração, sem perder a cautela, uma vez que a fêmea também possui mandíbulas que poderiam provocar danos graves ao seu pretendente. Mas quando a fêmea aceita o seu galã, é ela que desenvolve quase todo o processo de aproximação final que terminará com a cópula. Para isso, aproxima-se do macho e toca-lhe com as suas antenas antes de se virar de costas e deslizar para debaixo do seu corpo. Deste modo, o macho fica por cima dela e pode colocar o seu órgão copulador em contacto com o aparelho genital feminino. A cópula não dura muito tempo, e durante o processo, o macho deposita um espermatóforo (recipiente onde se encontram os espermatozoides) dentro do trato feminino. Uns dias depois da cópula, a fêmea leva a cabo a postura dos ovos, introduzindo o seu extenso oviscapto no solo e, mediante movimentos rítmicos das valvas que o constituem. Pouco tempo depois (em Junho até meados de Julho) aparecem as primeiras ninfas, de pequeno tamanho, mas muito parecidas em vários aspetos com os adultos, uma vez que os grilos são insetos hemimetábolos, isto é, não levam a cabo uma metamorfose completa.

Depois do acasalamento, o macho associa-se com a sua companheira, e executam o chamado comportamento de guarda e depois da cópula a parceira sexual permanece na arena (entrada da toca) do macho. No final do Verão, os grilos adultos morrem, e os únicos que sobraram são ninfas, que se reproduzem no próximo Verão.

Habitat e utilização de espaço

O grilo campestre vive em habitats oligotróficos (com baixa concentração de nutrientes) secos, como charnecas e campos secos com um microclima variável.

Gryllus campestris (macho) a sair da toca. Fonte: João Bica

Gryllus campestris (macho) a sair da toca.
Fonte: João Bica

Muitas espécies do género Gryllus cavam tocas ou usam lacunas e fendas que ocorrem naturalmente como abrigo. As tocas não são apenas usadas como abrigo de predadores como as aves ou lagartos, mas também para a época da reprodução, postura dos ovos, como também como locais de atração e local de hibernação. São também locais adequados para o desenvolvimento dos ovos, devido ao constante ambiente húmido das tocas.

O grilo campestre sai normalmente à noite para se alimentar, ou seja, tem atividade crepuscular. 

Curiosidades

Os grilos possuem um dos sistemas acústicos mais complexos do mundo animal. Cada espécie apresenta um canto com características especiais que estão ligadas fundamentalmente á estrutura das tégminas e dos elementos raspadores. Apenas os machos dos grilos cantam, as fêmeas são “mudas”.

A criação de grilos constitui uma atividade destinada à alimentação de animais de terrário (ex. aranhas, escorpiões, anfíbios, repteis, mamíferos e aves).

Em muitas zonas, é frequente as crianças fazerem excursões noturnas com o objetivo de capturar machos de grilos que introduzem em gaiolas especiais.

A abundância de grilos em determinadas regiões, como África e Ásia fez deles uma fonte de alimentação de muitas pessoas, de maneira que constituem uma importante fonte de proteínas.

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References:

  • Bellmann, H. (1988) A field guide to the grasshoppers and crickets of Britain and northern Europe. Collins, London
  • David N. et al. (2015). Dynamics of among-individual behavioral variation over adult lifespan in a wild insect. Behavioural Ecology 26 (4):975-985
  • Gawałek, M. et al. (2014). Ecology of the field cricket (Gryllidae: Orthoptera) in farmland: the importance of livestock grazing. North-western Journal of Zoology 10 (2): 325-332
  • Holzer et al. (2002). Condition-dependent signaling affects male sexual attractiveness in field crickets, Gryllus campestris. Behavioral Ecology Vol. 14 No. 3: 353–359.
  • IUCN Red List (n.d.) Species of the Day: Field Cricket. Acedido em 30 de Dezembro de 2015 em: http://www.iucnredlist.org/sotdfiles/gryllus-campestris.pdf.
  • World Association of Zoos and Aquariums (n.d.) Field cricket (Gryllus campestres). Acedido em 2 de Janeiro de 2016 em: http://www.waza.org/en/zoo/pick-a-picture/gryllus-campestris
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