Reabsorção e secreção tubulares

Conceito de reabsorção e secreção tubulares; Principais sustâncias reabsorvidas e secretadas ao longo do túbulo renal…

Conceito de reabsorção e secreção tubulares

A reabsorção e a secreção tubulares são processos que ocorrem a nível dos nefrónios e que formam, em conjunto com a filtração glomerular, os processos renais básicos.

Após a filtração do plasma sanguíneo no glomérulo de Malpighi, o filtrado glomerular, também chamado urina primitiva, flui pelos túbulos renais e tubos coletores e é excretado sob a forma de urina definitiva.

Os processos de reabsorção e secreção tubulares correspondem à transferência de substâncias entre os túbulos renais e os capilares peritubulares (Fig.1.); transferência que permite quer a reabsorção de substâncias essenciais ao equilíbrio do organismo quer a excreção de substâncias em excesso, inúteis ou perigosas, reabsorvidas ou não filtradas.

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Fig.1. Representação esquemática de um nefrónio e dos capilares peritubulares

Mecanismo

Os processos de reabsorção e secreção tubulares são processos altamente seletivos (ao contrário da filtração glomerular, processo esse não seletivo). As substâncias têm que atravessar duas paredes, a do túbulo do renal e a dos capilares peritubulares. O movimento pode ocorrer quer de forma passiva, por difusão osmótica (reabsorção da água) ou por transporte passivo de acordo com o gradiente químico ou eletroquímico (transporte de cl ou de ureia), quer de forma ativa (transporte de glucose), contra o gradiente químico ou eletroquímico, necessitando de uma grande quantidade de energia.

Principais sustâncias reabsorvidas e secretadas ao longo do túbulo renal

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> Reabsorção tubular

A reabsorção tubular é um processo que pode ser quer ativo quer passivo e permite a transferência de substâncias do lúmen do túbulo renal para os capilares peritubulares.

  • Iões sódio (Na+) – 65% do Na+ filtrado é reabsorvido no túbulo contornado proximal através de transportadores específicos, as bombas Na+-K+ (Na+/ K+ATPase), presentes em todas as células do organismo. A reabsorção do Na+ é essencial no mecanismo de reabsorção de outras substâncias, tais como a água, o Cl, a glucose, os aminoácidos, etc.

25% do Na+ é reabsorvido na ansa de Henle, principalmente na porção ascendente uma vez que a secção descendente é impermeável ao cloreto de sódio (NaCl).

No túbulo contornado distal e no tubo coletor, a reabsorção de Na+ é facultativa e dependente de uma hormona produzida pelas glândulas suprarrenais, a aldosterona. Esta reabsorção controlada é dependente das reservas em Na+ do organismo, isto é, em caso de falta de Na+, a reabsorção na porção distal do túbulo renal é estimulada de forma a não desperdiçar e conservar o Na+ no organismo;

  • Água (H2O) – 80% da água é reabsorvida por osmose no túbulo contornado proximal (65%) e no ramo descendente da ansa de Henle (15%). Esta quantidade reabsorvida é fixa e independente da quantidade de água presente no organismo. O ramo ascendente da ansa de Henle é impermeável à água que é então retida nessa porção. Por fim, uma quantidade variável é reabsorvida no túbulo contornado distal e no tubo coletor sob controlo da hormona antidiurética (ADH), consoante as necessidades do organismo;
  • Iões cloreto (Cl) – A reabsorção de Cl acontece de forma passiva devido ao gradiente eletroquímico criado pela reabsorção do Na+. A quantidade de Cl reabsorvida é deste modo dependente da quantidade de Na+ reabsorvida;
  • Glucose, aminoácidos, vitaminas, etc. – 100% da glucose, dos aminoácidos e das vitaminas são reabsorvidos no túbulo contornado proximal, por transporte ativo, utilizando a força criada pelo gradiente de reabsorção do sódio, através de um sistema de cotransporte com Na+;
  • Iões cálcio (Ca2+), fosfato (PO43-), etc. – A reabsorção de numerosos eletrólitos acontece sob controlo da hormona produzida pelas glândulas paratiroides, a paratormona (PTH), que os mantem dentro de níveis normais e também altera esses níveis, adaptando-os às necessidades momentâneas do organismo;
  • Ureia – A ureia é um resíduo azotado que é parcialmente reabsorvido. A reabsorção da água por osmose faz com que substâncias como a ureia estejam cada vez mais concentradas ao longo do túbulo. Essa diferença de concentração dentro e fora do túbulo provoca a reabsorção passiva da ureia. Contudo, a membrana do túbulo é pouco permeável a esse resíduo pelo que menos de 50% volta para a corrente sanguínea.

> Secreção tubular

O processo de secreção tubular é um mecanismo de transporte ativo de substâncias, que utiliza transportadores específicos, dos capilares peritubulares para o lúmen do túbulo renal.

  • Iões hidrogénio (H+) – A secreção de H+, nos túbulos contornados proximal e distal e no tubo coletor, é essencial na regulação do pH interno (homeostasia ácido-base). Em caso de acidez excessiva, a secreção de H+ aumenta e diminui em caso contrário;
  • Iões potássio (K+) – A secreção de K+ é dependente da reabsorção do Na+, através do funcionamento das bombas Na+-K+. No túbulo contornado distal e no tubo coletor é variável e dependente da aldosterona. O aumento da concentração de K+ no plasma estimula a produção de aldosterona pelas glândulas suprarrenais que vai estimular a secreção de K+ e a reabsorção de Na+;
  • Ureia, creatinina, ácido úrico, drogas, etc. ­– Os resíduos metabólicos e xenobióticos não filtrados ou reabsorvidos passivamente também são secretados e excretados na urina.

Concentração da urina

Devido a vários fatores, os rins conseguem fazer variar o nível de concentração da urina e a excreção da água consoante as necessidades do organismo. A excreção de uma urina mais ou menos concentrada é um processo dependente da disposição anatómica das ansas de Henle. Quanto maiores as ansas de henle e maior o número de nefrónios justamedulares, ou seja, quanto mais profundamente mergulharem na medula renal, maior será a capacidade de concentrar a urina. Sendo a medula renal hiperosmótica, a água flui por osmose do túbulo para a medula.

A hiperosmolaridade da medula é então um fator essencial no processo de concentração da urina e é conseguida através da reabsorção do NaCl e da ureia. A hormona antidiurética (ADH) participa também neste processo, uma vez que aumenta a permeabilidade do túbulo à água (aumenta a reabsorção) e aumenta a permeabilidade à ureia na porção terminal (aumenta a hiperosmolaridade da medula).

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References:

  • Applegate, E.. (2012). Sistema urinário e líquidos corporais. In: Applegate, E. Anatomia e fisiologia. 4th ed. Rio de Janeiro: Elsevier Brasil. p343-362.
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  • Widmaier, E.P., Raff, H. & Strang, K.T.. (2004). The kidneys and Regulation of water and inorganic ions. In: Widmaier, E.P. et al. Vander, Sherman & Luciano’s Human Physiology: The Mechanisms of Body Function . 9th ed. Boston: Mcgraw-Hill. P513-562.
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