Sofrimento
O sofrimento diz respeito à sensação de dor e de mal-estar provocado por um ou mais estímulos com que o indivíduo tem dificuldade em lidar.
De acordo com os trabalhos de Dittrich (1998) o sofrimento é uma sensação essencialmente mental que, na maioria das vezes, não se trata de uma situação patológica, mas que não deve deixar de merecer a atenção de psicólogos e técnicos de direitos humanos.
É importante perceber que o sofrimento se trata de um sentimento que, variavelmente, acompanha o nosso ciclo vital, em diferentes fases do mesmo, de diferentes formas e em diferentes graus (Dittrich, 1998).
Para Dittrich (1998), devido às características ligadas ao sofrimento e que dizem respeito a sentimentos, ou seja, a capacidade de amar, de odiar, de conhecer, de aprender, entre outras, o mesmo é uma criação da própria condição humana como forma de conseguir relacionar-se com o que o rodeia, estando presente de forma contínua.
Trata-se de uma sensação que, por ser rica em variação de características, pode ser experimentada por diferentes razões como as emocionais, as fantasias e até mesmo sensações que colocam o indivíduo em situação incapacitante (Oliveira, Maugin, Oliveira, Melo, & Fer, 2005).
O sofrimento está ainda diretamente relacionado ao ambiente em que o indivíduo se insere, o qual está carregado de representações, simbologias históricas e sociais e vários estímulos, fazendo, todas estas variáveis, com que haja diferentes tipos de reações a cada uma delas (Dittrich, 1998).
No que diz respeito ao ambiente, especificamente, o sofrimento acarreta aspetos do dia a dia, profissionais, sociais e familiares que, devido às suas características levam o indivíduo a sofrer consequências orgânicas como alterações no ritmo de sono, do apetite e nas atividades de lazer que ficam condicionados quando existe uma alteração (Oliveira, Maugin, Oliveira, Melo, & Fer, 2005).
Nestas circunstâncias, com o objetivo de minimizar o sofrimento causado pela dor orgânica, em situação de doença, por vezes, administram-se medicamentos com efeito anestésico ao indivíduo (Oliveira, Maugin, Oliveira, Melo, & Fer, 2005). Alguns casos são alvo de hipnose por parte do profissional cuja técnica implica o controlo consciente do hipnotizador, sobre o inconsciente do hipnotizado, uma vez que a sensação de dor é registada no cérebro (Oliveira, Maugin, Oliveira, Melo, & Fer, 2005).
Alguns estudos referem-se ao sofrimento do ponto de vista da associação deste em relação à dor, pelo que, de acordo com Oliveira, Maugin, Oliveira, Melo e Fer (2005) e que corroboram as teorias acerca do ambiente, são originados pelas experiências passadas do indivíduo e pelas memórias acerca das mesmas, cuja compreensão se traduz nas sensações mencionadas.
Quanto aos estímulos do meio, uma vez que estamos constantemente sujeitos aos mesmos, isso, frequentemente, acarreta a necessidade de tomar decisões, o que faz com que priorizemos determinado aspecto em detrimento de outro e, comumente, essa necessidade de decidir, acarreta dúvida, angústia e sofrimento (Dittrich, 1998).
“Determinadas escolhas podem trazer imenso sofrimento ao homem, seja por suas consequências diretas ou pelos inevitáveis dilemas morais que apresentam” (Dittrich, 1998).
Na mesma linha de raciocínio, Oliveira, Maugin, Oliveira, Melo e Fer (2005) indicam que situações provocadoras de incerteza, de perdas materiais e sociais fazem com que o indivíduo sinta medo e que este se traduza em sofrimento.
A origem deste sofrimento associa-se às relações estabelecidas entre o indivíduo e a sociedade envolvente, como a família, os amigos e os companheiros de trabalho que o levam a ter de agir de diferentes e específicas formas (Dittrich, 1998).
Contudo, o mesmo faz-se necessário de conviver, nas diferentes situações decisivas a ele associadas (Dittrich, 1998).
Segundo a teoria de Foucault (1984, p.76-7, cit in Dittrich, 1998), o sofrimento é inerente à condição humana em qualquer fase da evolução histórica da civilização, o que demonstra que não se trata de uma questão da sociedade moderna por desleixo originado pela tecnologia ou pela desvalorização da família. Diferentes situações ao longo de toda a história, causam e causaram sofrimento (Dittrich, 1998).
Por outro lado não podemos descurar a importância de ciências como a filosofia, a psicologia ou a psiquiatria, quando falamos de sofrimento mental, pelo que o mesmo, em algumas situações, poderá estar associado a determinadas patologias (Dittrich, 1998).
Conclusão
O sofrimento é uma sensação complexa, caracterizada, essencialmente, pela diversidade de sensações a que deixa o indivíduo exposto. É inerente à condição humana e pode ser mental e orgânico, já que, na maioria das vezes, as duas variáveis se relacionam simultaneamente. Habitualmente ele é provocado pela interação entre o indivíduo e o meio e pela presença, na memória, de situações passadas que causaram dor e cuja lembrança se traduz em sofrimento. Em algumas situações, devido aos contornos do mesmo, o sofrimento pode tornar-se patológico, o que o leva a ser motivo da necessidade de intervenção profissional.
References:
- Dittrich, Aexandre. (1998). Psicologia, direitos humanos e sofrimento mental: ação, renovação e libertação. Psicologia: Ciência e Profissão, 18(1), 46-55. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98931998000100006;
- Oliveira, C.C., Maugin, C., Oliveira, E.C.F., Melo, F.D.P., & Silva, F.C.A. (2005). A dor e o controle do sofrimento (II). [em linha] PT O PORTAL DOS PSICÓLOGOS. www.psicologia.pt. http://www.psicologia.pt/artigos/ver_artigo_licenciatura.php?codigo=TL0021&area=d2.