Neurose na infância

A neurose na infância pode surgir quando a criança é afastada dos pais por algum tempo.

A neurose na infância pode surgir quando a criança é afastada dos pais por algum tempo. Muitas vezes o desespero e o medo crescem de tal forma que esse afastamento é visto como uma ameaça de abandono por parte dos pais.

Segundo as obras de Freud referentes à histeria, na psicanálise podemos afirmam que a explicação da histeria tem por base um trabalho de luto imaginário inacabado ou, ainda, uma luta em torno da perda (Neto, 2012). Ora, de acordo com esta teoria, podemos pensar que a ideia de trauma será compreendida na própria clínica, no histórico de muitas das doentes que sofriam de sintomas histéricos e ou desenvolveram uma personalidade histérica, que as mesmas tinham passado precisamente por este tipo de episódio traumático, por exemplo, em casos de morte de um dos progenitores, durante a infância da paciente (Neto, 2012).

Podemos ainda remeter para o campo edipiano em que a histeria será provocada pelo triângulo formado em torno da família (mãe, pai, fiho/a) (Neto, 2012) pois o complexo de Édipo, ou complexo de Electra, é formado numa fase de desenvolvimento da criança em que aparecem, de forma mais clara, as pulsões sexuais, vivenciadas da forma simbólica (Neto, 2012). No entanto, quando a criança passa pela situação de luto de um dos progenitores, esta fase de desenvolvimento sofre alterações, na medida em que é vivida no âmbito de um luto que pode levar à formação de um trauma (Neto, 2012).

A perda e o trauma

O que podemos dizer acerca da perda e do trauma é que o trama é inerente à perda, uma vez que pode ser desenvolvido no desenrolar de um luto. Nos dois casos falamos de elaboração, contudo, de forma diferente.

De forma muito geral, a construção do luto refere-se à retirada do investimento pulsional do objeto e à sua distribuição no eu e em outros objetos, o que não é feito sem ambivalência e conflitos com o objeto perdido. Já a elaboração do trauma refere-se à ligação de seus traços, mantidos estáticos e dissociados a outros elementos do psiquismo, sejam eles afetos ou representações.

A perda também propõe para o sujeito uma espécie de enigma, porque, do ponto de vista económico, é traumática, inclusive pelo excesso pulsional que provoca (Neto, 2012). O trauma em si, pelo seu excesso, já produz esse enigma.

Também podemos compreender as neuroses de transferência segundo o mesmo processo já que as perdas são realizadas de forma simbólica (Neto, 2012). Contudo, nas neuroses de transferência, alguns dos sintomas histéricos e obsessivos são originados por episódios de perda por morte, pelo que o trauma por questões de luto, é muito explícito, exatamente da forma como se apresenta (Neto, 2012).

Teoricamente, os eventos de perdas não deveriam produzir neuroses de transferência, mas de neuroses traumáticas ou, quem sabe, de lutos patológicos devido à formação do sintoma histérico ou, mesmo, do quadro histérico (Neto, 2012).

Propõe-se assim que o desenrolar do processo de histeria, é uma forma ou uma fase de vivência tanto do luto como do trauma, cuja explicação encontramos no contorno erótico característico à fase fálico-edipiana, que tem um papel importante na formação da histeria erótica (Neto,2012).

Contudo, interessa destacar que toda situação traumática, justamente por causa de um sentimento máximo de desamparo, pode fazer a criança responder também em decorrência de situações traumáticas mais antigas, talvez mesmo originárias e é, então, possível supor que a vivência atual do trauma possa produzir neuroses de transferência pelo fato de propor, de forma muito intensa, um enigma, como já foi indicado (Neto, 2012). Esse enigma surge pelo excesso e, ainda, pela impossibilidade de compreender as razões da situação (Neto, 2012).

Conclusão

Os estudos acerca da neurose infantil permitem que possamos compreender a sua origem no medo do abandono inerente à construção da personalidade da criança. Este medo ou ameaça constante levam a que a mesma desenvolva um trauma baseado no desespero da perda. Em casos extremos, a neurose poderá assumir contornos de histeria que poderá tornar-se difícil de compreender.

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References:

  • Neto, Gustavo Adolfo Ramos Mello. (2012). NEUROSE TRAUMÁTICA DE TRANSFERÊNCIA: UM RELATO AUTOBIOGRÁFICO DO HOLOCAUSTO. Psicologia em Estudo, Maringá, v.17, n.3, p.413-423, jul/set. 2012. Acedido em 31 de Agosto de 2016 em  http://www.scielo.br/pdf/pe/v17n3/a07v17n3.pdf.

 

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