Mutismo seletivo

O mutismo seletivo diz respeito à incapacidade para falar provocada por situações ansiogénicas.

O mutismo seletivo diz respeito à incapacidade para falar provocada por situações ansiogénicas. Esta dificuldade traz consequências negativas para o desenvolvimento da criança pelo que implica a procura de ajuda psicoterapêutica para desbloquear a condição limitativa.

De acordo com os trabalhos de Campos e Arruda (2014) a primeira vez que se falou de mutismo seletivo foi em 1877 pelo médico Adolf Kussamul que definiu esta perturbação como uma afasia voluntária que levava as crianças a não falar em determinados contextos. Mais tarde, em 1934, um psiquiatra suíço, Moritz, denominou a mesma de mutismo eletivo, pelo facto de a criança escolher o momento em que se aquieta (Campos, & Arruda, 2014).

A denominação passou a chamar-se mutismo seletivo através do DSM-IV-TR, pela APA, em 2000 pelo facto de estar associado a momentos que potenciam a ansiedade na criança e não, como se a mesma escolhesse quando fica quieta (Campos, & Arruda, 2014).

Também de acordo com o DSM-IV-TR (2006) a característica mais vincada do mutismo seletivo é a incapacidade constante para falar, que se torna limitativa para a criança, em determinados contextos sociais, como por exemplo, na escola ou numa brincadeira entre amigos.

Segundo vários autores, é bastante complexa a avaliação e o diagnóstico do mutismo seletivo, uma vez que se inicia por volta dos dois anos e sete meses a quatro anos e um mês, no entanto, só mais tarde, pela altura em que a mesma inicia a instrução primária é que começa a ser compreendido e notado, maioritariamente, por volta dos cinco anos de idade (Campos, & Arruda, 2014).

O que leva à preocupação com esta limitação no desenvolvimento da criança é a forma como ela condiciona a qualidade de vida da mesma, nomeadamente no que concerne ao rendimento escolar, que, em situações futuras, poderá levar a dificuldades no desempenho laboral, ou ainda na capacidade de comunicação social (DSM-IV-TR, 2006).

Os vários estudos já realizados acerca do assunto compreendem ainda que não existe apenas um fator que propicia o mutismo seletivo, mas vários, tanto particulares como ambientais (Campos, & Arruda, 2014). Estes resultam de vários conflitos intrapsíquicos que não são resolvidos no momento correto e acabam por trazer consequências negativas no desenvolvimento, já que a criança fica, inconscientemente, marcada pelos mesmos (Campos, & Arruda, 2014).

Por outro lado, a American Psychiatric Association estabeleceu, no DSM-IV-TR (2006) que é importante compreender que não se pode diagnosticar esta perturbação num contexto em que a criança deixa de ser comunicativa por questões de vergonha, como por exemplo, no primeiro mês de escola, ou numa situação em que a mesma não conheça o tipo de linguagem utilizada.

Pela natureza e contornos desta perturbação, alguns autores acreditam que a melhor forma de acompanhamento seja a psicoterapia individual, assente na empatia entre a criança, a família e os educadores envolvidos (Campos, & Arruda, 2014).

Importa compreender os motivos que levam aos surtos de silêncio, mais do que, propriamente, procurar que a criança fale, já que o silêncio se trata de um mecanismo de defesa utilizado por ela para não adotar uma conduta mais agressiva e negativa (Campos, & Arruda, 2014).

A criança com mutismo seletivo, vai utilizar, essencialmente, acenos afirmativos ou negativos com a cabeça e utilizar expressões monossilábicas (DSM-IV-TR, 2006). De referir que é mais habitual verificarmos quadros de mutismo seletivo em crianças do sexo feminino do que em crianças do sexo masculino (DSM-IV-TR, 2006).

Mais importante do que promover a fala da criança, é, portanto, promover sentimentos de segurança e proteção para que a ansiedade deixe, gradualmente, de ter lugar e, após esta etapa, começar, então, a promover a normalização do diálogo (Campos, & Arruda, 2014).

Conclusão

O mutismo seletivo diz respeito a uma incapacidade da criança para se comunicar verbalmente e que está, normalmente, associado a questões de ansiedade, as quais são resolvidas pelo silencio. Esta situação trata-se de um mecanismo de defesa inconsciente que a criança encontra para controlar respostas de agressividade a situações que lhe causam desconforto. Por esse motivo, é necessário fazer uma correta avaliação, diagnóstico e acompanhamento psicoterapêutico porque, mais do que procurar levar a mesma a falar, é importante perceber o que despoleta o silencio. Para tal, a empatia psicoterapêutica é totalmente imprescindível.

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References:

  • AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. (2006). DSM-IV-TR. MANUAL DE DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICA DAS PERTURBAÇÕES MENTAIS. 4ª Edição. Lisboa: Climepsi editores;
  • Campos, Lia Keuchguerian Silveira, & Arruda, Sérgio Luiz Saboya. (2014). Brincar como meio de comunicação na psicoterapia de crianças com mutismo seletivo. Estudos interdisciplinares em Psicologia, 5(2), 15-33. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236-
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