Conceito de comportamento adaptativo
O comportamento adaptativo diz respeito à funcionalidade do indivíduo, promotora da sua adaptação nos contextos de vida. A adaptação do ser humano implica a articulação de fatores internos (e.g. psicológicos) e externos (e.g. sociais, culturais), expressa no desenvolvimento e implementação de estratégias que permitam a satisfação das suas necessidades psicológicas (e.g. perceção de controlo, autoeficácia, autoestima, autonomia, relacionamento interpessoal).
Comportamento adaptativo nas Teorias Cognitivo-Comportamentais e Integrativas
Num sentido lato, o comportamento adaptativo pode englobar não só comportamentos, mas também pensamentos e emoções. De acordo com as teorias cognitivas, os pensamentos, emoções e comportamentos podem ser percebidos como funcionais ou adaptativos, significando que são promotores da adaptação e do bem-estar do indivíduo. Por outro lado, quando estes não se revelam conducentes à adaptação, são designados por não adaptativos, desadaptativos ou disfuncionais, contribuindo para o mal-estar psicológico.
O conceito de comportamento (des)adaptativo é assim amplamente utilizado no âmbito da Psicologia Clínica e da Saúde, nomeadamente nas abordagens cognitivo-comportamentais e integrativas, sendo empregue em situações diversas, desde comportamentos ditos normais a comportamentos considerados psicopatológicos.
Os comportamentos ditos normais ou não clínicos são assim considerados na medida em que não se referem a sintomas ou perturbações, não obstante poderem ser adaptativos (e.g. comportamento assertivo numa situação de conflito) ou não adaptativos (e.g. comportamento agressivo numa situação de conflito, na sequência de experiência de frustração).
Deste modo, considera-se que a presença de comportamentos não adaptativos não configura a existência de psicopatologia ou perturbação, porém quando estes se tornam generalizáveis, frequentes e intensos (e.g. comportamento agressivo invariavelmente na resposta a situações de frustração) são considerados disfuncionais e a par de outras manifestações podem em certas situações configurar perturbações psicopatológicas (isto é, constelações de diversos sintomas).
Quer na presença, quer na ausência de sintomatologia ou perturbação, é fundamental o desenvolvimento e consolidação de estratégias que promovam os comportamentos adaptativos e deste modo o bem-estar psicológico do indivíduo.Entre estas estratégias podem destacar-se a autorregulação (automonitorização, autoavaliação, autorreforço), a resolução de problemas, a assertividade, o pensamento alternativo e consequencial, a experiência, regulação e expressão emocional (ao invés da supressão ou evitamento emocional).
Estas estratégias podem ser desenvolvidas e/ou consolidadas no âmbito de um processo psicoterapêutico quando se verifica uma insuficiente estimulação das competências do indivíduo (e.g. dificuldades na resolução eficiente de problemas sociais) ou quando este pretende promover o seu autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.
Comportamento adaptativo nas Perturbações de Desenvolvimento intelectual
O conceito de comportamento adaptativo é ainda mencionado noutro âmbito, no estudo e avaliação das perturbações de desenvolvimento intelectual na infância, isto é, na deficiência mental.
A par da avaliação do funcionamento intelectual, a avaliação contempla três áreas do comportamento adaptativo, sendo estas: a) Competências conceptuais, que envolvem o desenvolvimento e a capacidade de usar a linguagem, a leitura, a orientação espacial, bem como o conhecimento dos conceitos de número e tempo; b) Competências sociais ou socioemocionais, que se caracterizam pela autoestima, capacidade de interagir socialmente, capacidade de resolução de problemas interpessoais, bem como a capacidade de agir com responsabilidade, cumprindo regras sociais; e c) Competências práticas, que envolvem as atividades instrumentais da vida diária, como os cuidados de saúde, a autonomia na deslocação e as atividades ocupacionais.
A avaliação do comportamento adaptativo é realizada através de escalas de avaliação, sendo considerado o estádio de desenvolvimento no qual a criança se enquadra em razão da sua idade cronológica. É também o conhecimento do que é esperado (em termos normativos) que a criança seja capaz de realizar na sua idade que vai auxiliar no despiste da perturbação de desenvolvimento intelectual.
Palavras-chave: Comportamento adaptativo; terapias cognitivas; deficiência mental
References:
Carvalho, R., Pocinho., M., & Silva, C. (2010). Comportamento Adaptativo e Perspectivação do futuro: Algumas evidências nos contextos da Educação e da Saúde. Psicologia: Reflexão e Crítica, 23(3), 554-561.
Spruill, J. (1998). Assessment of mental retardation with the WISC-III. In A. Prifitera, & D. Saklofske (Eds.) WISC-III: Clinical use and interpretation. Scientist-practitioner perspectives. New York: Academic Press.