Alcoolismo na adolescência
O alcoolismo na adolescência dá-se, quando os indivíduos fazem consumos exagerados do álcool. Este consumo e as suas consequências passam muitas vezes despercebidos devido ao facto de que o mesmo é uma droga lícita.
Se recuarmos no tempo, compreendemos que o consumo de álcool vem de tempos remotos, nomeadamente da Roma e da Grécia antiga, cuja mitologia já mencionava deuses do vinho, como era o caso do deus Baco (Lepre, & Martins,2009).
Segundo Araújo e Gomes (1998) do ponto de vista da atualidade, as crenças relacionadas com o consumo de álcool, na adolescência, começam a formar-se mesmo antes de existir contato com o mesmo e, de certa forma, influenciam o comportamento que o próprio adolescente vai ter no que concerne a esse assunto.
Estes comportamentos consumistas em relação ao álcool acontecem muito devido ao facto de o mesmo ser a droga lícita mais consumida em todas as idades, a começar entre os 10 e os 12 anos, e a aumentar desde que o álcool começou a ser produzido à escala industrial, acompanhado de uma enorme abundância de publicidade nesse sentido (Lepre, & Martins,2009).
A noção dos efeitos do álcool começa a ser construída com os exemplos parentais e com os grupos de pares, além da publicidade que existe sobre o tema e todas estas variáveis, entre si, farão o seu impacto no adolescente, quer nessa fase de desenvolvimento quer depois, no estado adulto (Araújo, & Gomes, 1998).
Indo ao encontro destas ideias Lepre e Martins (2009) referem que o consumo de álcool entre adolescentes é iniciado em casa, comumente em reuniões de família tais como festas de aniversários e, normalmente, com o objetivo de relaxar e socializar, no entanto, o que acaba por acontecer é que este tipo de habito acaba por se estender ao dia-a-dia, com objetivo de ficar um pouco mais “bem disposto”.
Os estudos levados a cabo por Araújo e Gomes (1998) demonstram ainda que existem diferenças de comportamento entre adolescentes que consomem álcool e adolescentes que não consomem álcool, sendo que os primeiros apresentam mais habitualmente atitudes de agressividade, redução da tensão, melhor desempenho sexual, maior sensação de poder, entre outros. Já no caso dos adolescentes não consumidores verifica-se, principalmente, maiores expetativas no que diz respeito ao aumento do prazer (Araújo, & Gomes, 1998).
Verifica-se ainda que as expectativas criadas pelos adolescentes em relação ao consumo do álcool são um dos maiores indicadores de maior ou menor consumo, uma vez que, muitas vezes, o consumo é associado ao bem-estar e à confiança, maioritariamente em adolescentes com expectativas altas (Araújo, & Gomes, 1998). Os adolescentes que têm menores expectativas em relação ao consumo do álcool têm também menores expectativas no que diz respeito às variáveis acima mencionadas (Araújo, & Gomes, 1998).
Uma das características mais acentuadas que se podem observam no consumo de álcool por adolescentes, é que quanto maior o consumo, mais intenso fica o teor de álcool ingerido o que significa uma relação positiva e direta entre o consumo de álcool e o aumento do seu teor, principalmente em adolescentes que se excedem com mais frequência (Araújo, & Gomes, 1998).
Lepre e Martins (2009) nas suas pesquisas, concluíram que este aumento cada vez mais abusivo do consumo de álcool entre os adolescentes, traz ainda repercussões ao nível dos seus relacionamentos inter e intrapessoais, uma vez que, a partir do momento em que o corre o abuso de consumo, ocorrem maiores problemas associados ao mesmo, que, por sua vez, vão levar a um maior consumo, transformando a situação num círculo vicioso.
“O abuso de álcool é essencialmente um padrão de ingestão que resultou em efeitos deletérios à saúde, dificuldades sociais e/ou problemas legais” (Dimeff, Baer, Kivlahan, & Marlat, 2002, p.19, cit in Lepre, & Martins,2009, p.2).
O consumo é, habitualmente, mais precoce em rapazes do que em raparigas (Araújo, & Gomes, 1998), e, associado ao mesmo, verificam-se históricos de problemas escolares como baixo rendimento, ausências nas aulas, bem como dificuldades de concentração devido ao cansaço provocado pelo álcool, o que provoca danos na memória dos adolescentes, quer em relação a situações passadas quer em relação ao afetar a memória em relação a situações futuras (Lepre, & Martins,2009).
Conclusão
O consumo de álcool na adolescência é, essencialmente, previsto ao nível dos hábitos parentais e das relações entre pares, já que os adolescentes convivem entre si em grupos, principalmente no contexto escolar. Podemos observar que o consumo é mais atribuído a adolescentes que demonstram maiores problemas ao nível escolar, mas que, por outro lado, também demonstram maior sensação d poder e de controlo. Os adolescentes que não têm por norma consumir álcool, revelam-se com menos expectativas em relação aos efeitos do mesmo, em todos os sentidos acima mencionados.
References:
- Araújo, Lisiane B. Gomes, Wiliam, B. Adolescência e as expectativas em relação aos efeitos do álcool. Psicologia: Reflexão e crítica [online] Porto Alegre. Vol. 11, n.1 (1998), p.5-33. Disponível em http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/25650;
- Lepre, Rita Melissa. Martins, Raul Aragão. Raciocínio moral e uso abusivo de bebidas alcoólicas por adolescentes. Paideia [online]. Jan-abr. 2009, Vol.19, No.42, 39-45. [citado 2016-08-07]. Disponível em www.scielo.br/paideia.