Adufe

Adufe: origem, morfologia e simbologias associadas a este instrumento de percussão tradicional no folclore português.

Origem e morfologia

O adufe, conhecido também como pandeiro, é um instrumento de percussão português, cujo termo de origem árabe não comprova nem desmente se este já seria utilizado na Península Ibérica antes do século VIII. Crê-se, modo geral, que este foi introduzido entre os séculos VIII e XII. O que se sabe, factualmente, é que a reconquista cristã foi alicerçada na adaptação e incorporação das culturas conquistadas.

Morfologicamente, de acordo com o sistema Hornbostel-Sachs, o adufe é parte da família dos membranofones, dentro da categoria dos tambores. De acordo com Ernesto Veiga de Oliveira, na obra «Instrumentos Musicais Populares», o adufe é classificado como um “bimembranofone do tipo pandeiro, quadrangular, de percussão directa com a mão e idiofone de percussão a soalhas (ou pequenos grãos) soltas ou presas no interior. É um instrumento percutivo de aro muito baixo, e em que as membranas cosidas uma à outra e/ou ao aro, não permitem a alteração ou graduação da tonalidade por variedade da tensão” (Dias, 2011, p.3). As membranas são, geralmente, pele de cabra, ovelha ou borrego.

O adufe, embora com pequenas diferenças na sua construção, pode ser encontrado hoje em dia na faixa raiana do país, nomeadamente a faixa oriental entre o Alentejo Além-Guadiana e Trás-os-Montes. É tradicionalmente tocado por mulheres, embora nalguns casos também o seja por homens, conhecidas como as adufeiras. São particularmente famosas as adufeiras de Monsanto e de Idanha-a-Nova.

Adufe

Simbolismos

O adufe, e as adufeiras, estão envoltos em diversas simbologias que reforçam de forma mítica a ancestralidade do instrumento.

Nos versos de algumas canções acompanhadas pelo adufe é possível encontrar referenciada a madeira do instrumento como sendo “pau de laranjeira”. Esta referência é simbólica pela ligação entre o matrimónio e a flor da laranjeira (castidade), sendo reforçada pelo facto de uma das membranas ser originária de um animal macho e outra de um animal fêmea. As adufeiras defendem que esta constituição é responsável pela harmonia do som do instrumento. Este testemunho oferece pistas quanto à sua construção e utilização, tradicionalmente reservada a executantes femininas. Sabe-se que as mulheres na Península, anteriores ao período da reconquista, eram detentoras de educação musical.

O toque do adufe relaciona-se com um vário leque de tradições relacionadas com a religião, com o paganismo, com a vida comunitária e a agricultura, sendo estas variáveis entre regiões e lugares. Na Beira-Baixa, o instrumento está fortemente associada às romarias católicas tradicionais; na Beira Interior e em Trás-Montes era costume tocar-se o adufe, bem como outros instrumentos, no final de determinadas actividades agrícolas, como a colheita da azeitona ou do trigo; em lugares como Monfeita e Vilarinho da Cova da Lua (Bragança) e Santa Eulália (Pinhel) diz-se que à noite as feiticeiras andam pela terra a tocar adufe; no São João, festividade tanto católica como pagã, em Monforte e Rosmaninhol, acendem-se fogueiras em frente às casas e faz-se um cortejo chamado cavalhadas ou cavaladas, com cânticos tradicionais ao som do adufe; em Teixoso, na Covilhã, era tradição fazerem-se as danças arraianas, que seguiam pelas ruas também ao som do adufe, também no São João.

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References:

Dias, A.C.M. (2011). O Adufe: contexto histórico e musicológico. Dissertação de mestrado, Universidade do Algarve.

O Adufe e Pandeiro. Em Folcore de Portugal. Em http://www.folclore-online.com/instrumentos/instrumentos-musicais/membranofones/adufe-pandeiro.html#.WiSOONJl9dh

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