A perturbação alimentar infantil está associada à educação alimentar a que a criança é exposta, a qual é, maioritariamente, controlada pela mãe. No entanto, ela sofre outros tipos de influência como a genética, sociocultural e familiar.
Viana, Candeias, Rego e Silva (2009) consideram que a alimentação que fazemos é determinada por questões biológicas, económicas, sociais, culturais, familiares, psicológicas e emocionais, mas, principalmente, adquiridas.
Não podemos ainda deixar de referir a influência dos media, uma vez que a TV emite, constantemente, anúncios associados a alimentos com grande carga energética ao mesmo tempo que o faz em relação a atividades que associamos ao sedentarismo, como por exemplo, jogos de computador, internet, entre outros (Viana, Santos, & Guimarães, 2008). A união entre estes dois fatores, traduz-se nas perturbações alimentares de que as crianças sofrem (Viana, Santos, & Guimarães, 2008).
Estes fatores culturais e sociais acabam por alterar as condições em que cada um de nós gere a sua alimentação (Viana, Candeias, Rego, & Silva, 2009). Eles nascem no nosso seio familiar e na forma como os nossos pais regulam a nossa alimentação, não só através da forma como nos alimentam mas também através da forma como se alimentam a si mesmos (Viana, Candeias, Rego, & Silva, 2009).
Diferenças entre a educação alimentar de crianças com e sem perturbação alimentar
Ao contrário daquilo que seria esperado, é mais comum haver maior controlo na alimentação de crianças obesas do que na alimentação de crianças não obesas, no entanto, há um denominador comum em ambas as situações pelo que as mães seguem, regra geral, a forma como elas mesmas se alimentam para alimentar os seus filhos (Viana, Candeias, Rego, & Silva, 2009). O que acontece nestas situações é que as mães procuram sempre estabilizar ao máximo possível nos seus filhos, as lacunas existentes nelas mesmas, como por exemplo, quando uma mãe vive uma ingestão emocional, ela tende a promover a alimentação emocional dos seus filhos, o que os leva à tendência para uma alimentação mais abundante quando vivem uma situação stressante (Viana, Candeias, Rego, & Silva, 2009).
Indo ao encontro da influência exercida pela mãe, Viana, Santos e Guimarães (2008) aperceberam-se, nos seus estudos, que a escolaridade das mães também tende a influenciar a educação alimentar exercida com os seus filhos. Estes estudos constataram que as mães com maior escolaridade, procuram alimentos que sejam mais saudáveis para os seus filhos ao contrário das mães com menos escolaridade que eram mais permissivas nessa situação (Viana, Santos, & Guimarães, 2008).
Todos estes fatores se traduzem em características de desenvolvimento que se distinguem de acordo com as necessidades e das capacidades de cada um (Viana, Candeias, Rego, & Silva, 2009). Se algumas crianças conseguem regularizar a ingestão de alimentos em função das calorias ingeridas na refeição anterior, outras não o conseguem fazer, que faz que nem todas sejam capazes de controlar o seu peso (Viana, Candeias, Rego, & Silva, 2009).
A investigação acerca desta capacidade ou incapacidade para conseguir gerir a alimentação feita pelas crianças, obesas ou não, está sempre diretamente ligada à forma como as suas mães gerem a própria alimentação e é isso que vai definir a presença ou não de uma perturbação alimentar na infância (Viana, Candeias, Rego, & Silva, 2009).
Costumam ser as crianças com mais restrições alimentares aquelas que demonstram maior dificuldade nesta gestão da alimentação e que a perturbação alimentar está diretamente associada a influencias familiares, principalmente, por parte da mãe, e de estatuto (Viana, Candeias, Rego, & Silva, 2009).
De acordo com os mesmos estudos de Viana, Candeias, Rego e Silva (2009) são também as crianças mais novas que têm maior capacidade de controlar a sua capacidade de equilibrar a alimentação. Contudo, esta capacidade vai diminuindo ao longo do crescimento, muitas vezes devido a atitudes mais controladoras das mães no que concerne à sua alimentação, o que também influencia no desenvolvimento de uma perturbação alimentar infantil e que, frequentemente, se traduz em quadros de anorexia, bulimia nervosa e síndrome de ingestão compulsiva (Viana, Candeias, Rego, & Silva, 2009).
Estas doenças são inevitavelmente associadas à obesidade que, por sua vez, leva a complicações do foro sociocultural, principalmente no caso das raparigas (…) “Talvez por essa razão a associação entre restrição da mãe e excesso de peso ou perturbação do apetite seja maior no caso da rapariga” (Viana, Candeias, Rego, & Silva, 2009, p. 12).
No que diz respeito à obesidade, Viana, Santos e Guimarães (2008) constataram, nos seus estudos, que a mesma se define pelo desiquilíbrio entre a ingestão energética proveniente da alimentação e a atividade física que a criança exerce.
Conclusão
Verifica-se que a perturbação alimentar infantil, além de todos os fatores sociais, culturais, genéticos, familiares, entre outros, está, essencialmente, associada à educação alimentar promovida pela mãe. Isto significa que a mesma é a principal responsável pelo desenvolvimento saudável ou pelo desenvolvimento de quadros de obesidade, anorexia ou bulimia.
A perturbação alimentar acaba por ser definida pela razão entre a ingestão de alimentos com alto teor energético e a prática de atividade física.
References:
- Viana, V, Candeias, L, Rego, C, & Silva, D. (2009). COMPORTAMENTO ALIMENTAR EM CRIANÇAS E CONTROLO PARENTAL: UMA REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA. Alimentação Humana, Revista da SPCNA;
- Viana, Victor, Santos, Pedro Lopes dos, & Guimarães, Maria Júlia. (2008). Eating behavior and food habits in children and adolescents: A literature review. Psicologia, Saúde, & Doenças, 9(2), 209-231. Recuperado em 10 de setembro de 2017, de http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?pid=S1645-00862008000200003&script=sci_arttext&tlng=en.