Comportamento inconsciente
O comportamento inconsciente diz respeito a atos adotados sem noção do mesmo e que, muitas vezes, é originado por traumas passados.
Pelos estudos de Loparic (2001) acerca do comportamento inconsciente e à luz da psicanálise, de Sigmund Freud, podemos compreender que o mesmo diz respeito a tudo aquilo que não pode ser apontado como consciente e que fica filtrado na mente, nos conteúdos irracionais.
Segundo a teoria de Freud, o comportamento do inconsciente é expressado através de lacunas que podemos encontrar no comportamento consciente, e que se apresentam sob a forma de histeria e outras perturbações psíquicas (Loparic, 2001).
Apesar de se tratar de uma teoria contestada por vários estudiosos e pesquisadores, o estudo do comportamento inconsciente, à luz da psicologia, não pode ser posto de parte, uma vez que ele é necessário para compreender questões associadas às falhas que todos temos, saudáveis ou portadores de perturbações psíquicas (Loparic, 2001).
Indo ao encontro desta mesma teoria, os estudos de Lipps (2001) indicam que a teoria do comportamento inconsciente, não se trata de uma questão de suposições associadas à lei da metafísica, apontada por muitos estudiosos, mas a fatos reais, existentes na mente humana.
No entanto, o mesmo está associado a experiências, às quais, nem sempre se pode ter acesso, uma vez que a existência de um inconsciente, no que concerne à expressão da mente humana, tem o objetivo de estabelecer o equilíbrio necessário à saúde mental do indivíduo.
É importante compreender estas questões inconscientes, porque as mesmas existem, no entanto, não são acessíveis ao ser humano, de forma consciente (Loparic, 2001).
O objetivo de Freud em defender a existência do inconsciente, nos momentos em que intervia com os seus pacientes, vinha no sentido de aceder ao seu comportamento inconsciente e poder explicar o mesmo (Loparic, 2001).
O autor percebeu, contudo, que o seu objetivo de trazer as memórias acerca de comportamentos inconscientes, para o consciente, encontrava obstáculos, na medida em que os mesmos tinham lacunas de memória acerca desses comportamentos, ou então experienciavam sensações que lhes causavam sofrimento (Loparic, 2001).
Segundo Peres, Mercante e Nasello (2005) é possível observar este processo quando se avalia vítimas de experiências traumáticas que despoletaram perturbações psíquicas. A esse respeito, os seus estudos focam, igualmente, a teoria de Freud, quando enfatizava a tendência do indivíduo para repetir comportamentos traumáticos, de forma inconsciente, por não ter recordação do trauma aquando da repetição da ação.
“…o paciente não tem consciência da dinâmica psicológica que dispara o comportamento atual relativo ao trauma.”
(Peres, Mercante, & Nasello, 2005, p.134).
Alguns estudos sugerem também que o comportamento inconsciente é constituído por vários comportamentos tidos de forma consciente, no passado, que, atualmente, não são acessíveis ao indivíduo de forma consciente (Lipps, 2001).
Salienta-se a importância de que comportamentos inconscientes, repreendidos pelas memórias conscientes e de difícil transferência para a superfície, têm, na maioria das vezes, origem em questões relacionadas com o desenvolvimento da vida sexual e das experiências passadas durante a infância do paciente (Loparic, 2001).
Trata-se, aqui, de comportamentos cuja expressão não foi notada pelo indivíduo, pelo que o mesmo não os experienciou de forma física mas apenas mentalmente (Lipps, 2001).
Habitualmente, os comportamentos relacionados com o desenvolvimento sexual, que se tornaram inconscientes, focam-se, maioritariamente na fase de Édipo, em que o ser humano fica mais propício ao aparecimento de neuroses (Loparic, 2001).
É comum, ainda, que, ao desenvolver perturbações psíquicas, traduzidas no comportamento inconsciente, o indivíduo enverede ainda por desenvolvimento de compulsões e proliferação de comportamentos de autodestruição como o abuso de substâncias ilícitas e, em casos extremos, a própria automutilação (Peres, Mercante, & Nasello, 2005).
Por outro lado, os comportamentos inconscientes vividos em experiências passadas, podem não ser necessariamente experiências traumáticas, mas, pelo contrário, experiências sem qualquer relevância que não foram captadas de forma consciente devido à sua insignificância e que acabaram por ficar filtrados, isoladamente, no nosso inconsciente psíquico (Lipps, 2001).
Além disso, é também durante fase de desenvolvimento correspondente ao complexo de Édipo, proveniente da infância, que o indivíduo começa a dar os primeiros passos na construção de relacionamentos sociais, propícios ou não, à experiência de situações que podem ficar ou não retidas no inconsciente, dependendo do grau de intensidade e da sensação que proporcionam (Loparic, 2001).
Conclusão
Não podemos descurar do comportamento inconsciente ao estudar a mente humana, uma vez que este deve ter sido em conta quando se avalia o indivíduo. Assim, a presença de um comportamento inconsciente, junto de um comportamento consciente, é a possibilidade de manter o equilíbrio necessário ao bom funcionamento da mente humana, que, muitas vezes, acumula traumas tornados inconscientes por uma questão de mecanismo psicológico de defesa.
References:
- Lipps, Theodor. (2001). O conceito de inconsciente na psicologia. Natureza humana, 3(2), 335-356. Recuperado em 27 de outubro de 2016, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1517-24302001000200005&script=sci_arttext&tlng=es;
- Loparic, Zeliko. (2001). Além do inconsciente: sobre a desconstrução heideggeriana da psicanálise. Natureza humana, 3(1), 91-140. Recuperado em 27 de outubro de 2016, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302001000100004;
- Peres, J.F.P., Mercante, J.P.P., & Nasello, A.G. (2005). Resiliência em vítimas de trauma psicológico. Revista psiquiatria RS maio/ago 2005; 27(2): 131-138.