Conceito de Luto Psicopatológico
O luto pode ser entendido como um processo de adaptação a uma perda significativa, distinguindo-se deste modo do desenvolvimento de perturbação psicológicas, como a depressão, o pânico ou a perturbação de stress pós traumático.
Neste âmbito, são diversas as teorias e autores que se têm debruçado sobre a temática do luto e dos seus desenvolvimentos complicados ou psicopatológicos, não se verificando um consenso entre os mesmos. De acordo com alguns teóricos, o desenvolvimento de perturbações psicológicas pode verificar-se na sequência de processos de luto ditos complicados (e.g. luto crónico, inibido, exagerado), nos quais o indivíduo apresenta marcada dificuldade de adaptação e reorganização do Eu na ausência do objeto perdido (segundo Horowitz, 1993, o luto complicado é considerado quando se verifica dificuldade de adaptação ao fim de 14 meses após a perda), podendo ainda em razão desta vulnerabilidade desenvolver sintomas característicos de psicopatologia, designando-se então por luto psicopatológico.
Fatores influentes no luto complicado/psicopatológico
Vários são os fatores que contribuem para o desenvolvimento de lutos complicados e, em certas situações, progressivamente percebidos como psicopatológicos, como sejam: a presença ou vulnerabilidade psicológica (e.g. manifestações de ansiedade) prévia ao momento da perda; a relação que o indivíduo mantinha (e.g. relação insegura, dependente, exclusiva) com o objeto perdido; as circunstâncias da perda (e.g. traumática, inesperada, violenta); ou o suporte social percebido (e.g. ausência de suporte percebido).
Não raras vezes, o desenvolvimento de perturbações psicológicas é confundido com as fases do processo de luto dito normal, contribuindo para a desvalorização de sintomas e manifestações psicopatológicas ou, por outro lado, interpretando como patológicos processos ditos normais de luto.
Desenvolvimentos psicopatológicos
A este propósito, os desenvolvimentos depressivos revelam-se uma das manifestações mais frequentes, associando-se a um desenvolvimento psicopatológico caracterizado pela presença de emoções e estados de humor disfóricas (e.g. tristeza, desesperança, culpa intensas) persistentes e generalizadas, acompanhados de uma visão negativa de si mesmo e do futuro, de apatia e frequentemente de ideação suicida.
Por sua vez, também a experiência de perturbações de ansiedade, sob a forma de ansiedade fóbica ou pânico, ocorre muitas vezes em resposta a dificuldades contínuas de adaptação e de ausência de reorganização face à perda e à experiência de luto, podendo culminar no desenvolvimento de hipervigilância generalizada, sentimento constante de perigo e vulnerabilidade enquadradas na perturbação de stress pós-traumático.
Esta perturbação distingue-se assim do processo de luto pela presença de imagens intrusivas relativas à morte e ao morrer, não necessariamente contingentes à evocação da memória do objeto perdido, apresentando-se mais generalizadas e dirigidas também a potenciais ameaças.
A identificação de perturbações psicológicas, enquanto desenvolvimentos psicopatológicos de processos naturais de luto, afigura-se assim importante tendo em vista uma adequada intervenção que promova a reorganização cognitivo-emocional do indivíduo no âmbito das fases e tarefas não resolvidas do luto, bem como das manifestações sindromáticas desenvolvidas na sequência desta vulnerabilidade.
References:
- Barbosa, A. (2010). Processo de luto. In A. Barbosa, & I.G. Neto (Eds.), Manual de Cuidados Paliativos (pp. 487-532). Lisboa: Núcleo de Cuidados Paliativos/Centro de Bioética/Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
- Rijo, D. (2004). Temas críticos do luto patológico: Diagnóstico, modelos e intervenção terapêutica. Psychologica, 35, 49-67.