Carlos Magno
Especula-se por falta de informação histórica que permita aferir com exactidão, que Carlos Magno terá nascido a 2 de Abril de 742 em local que nenhuma fonte da época menciona, mas pensa-se que terá sido em Jupille-sur-Meuse, filho do Rei Franco Pepino o Breve com Bertrada de Laon. Morreu a 28 de Janeiro de 814.
Não existe muita informação sobre Carlos Magno enquanto criança e jovem, apenas algumas menções sobre ele, enquanto filho de Pepino em acontecimentos públicos. Sabe-se que participou em diversas campanhas militares juntamente com o seu pai, o que lhe deu a experiência militar e mestria que iria caracterizar a sua governação.
A 24 de Setembro de 768 Pepino, o Breve morre e deixa em herança o Reino Franco aos dois filhos, Carlos com 26 anos e Carlomano com 17. O Reino é dividido territorialmente em partes iguais pelos dois irmãos, três anos mais tarde Carlomano morre e Carlos aproveita a oportunidade de unificar os francos, usurpando o trono do filho e viúva de Carlomano em 771, obrigando-os a procurar refugio no Reino Lombardo no norte de Itália.
A expansão muçulmana fragilizou a economia europeia, o ouro essencial para cunhar moeda, deixou de chegar a Europa após a perda por parte do Império Bizantino do controlo sobre o Mar Mediterrâneo para os árabes. As relações entre bizantinos e francos eram tensas, essencialmente pelo papado procurar apoio franco na protecção contra os Lombardos e os muçulmanos, anteriormente esse apoio era prestado por Constantinopla, mas as imensas perdas territoriais dos bizantinos para os árabes fragilizaram esta entidade politica.
Com a falta de dinheiro e riqueza, os Carolíngios optaram por uma política de constante expansão para apaziguar e recompensar os Senhores Ducais e Condais, mantendo assim a coesão territorial e lealdade dos mesmos, as terras tornavam-se a única fonte de riqueza, e a conquista a forma de as obter.
Eram constantes os conflitos entre o Papa e os Lombardos, no Verão 773 Carlos Magno atravessa com o seu exército os Alpes e invade o Reino Lombardo para auxiliar o Papa, em 774 termina a conquista deste Reino tornando-se Rei dos Francos e Lombardos.
A anexação deste espaço, teve várias consequências primeira, o fim dos Lombardos enquanto entidade politica, a confirmação dos Francos enquanto principal força da Europa Cristã em detrimento dos bizantinos, libertou o Bispo de Roma da influência bizantina, criando um poder sem igual para a Igreja, em que até um governante tão poderoso como Carlos estava submetido à autoridade papal.
A coroação de Carlos Magno a 25 de Dezembro de 800 é elucidativa desse novo poder papal. Carlos foi nomeado Imperador do Sacro Império Romano, pelo representante divino da Terra, o Papa Leão III, que obrigou Carlos a ajoelhar-se para receber a Coroa, num claro sinal de autoritarismo papal. Esta coroação foi mal recebida pelos bizantinos, que consideraram-na um acto ilegal e de rebelião contra o Império.
Em 772 iniciou a tentativa de conquista da Saxónia e conversão dos Saxões ao Cristianismo. Após múltiplas campanhas contra esta região, é definitivamente conquistada e incorporada no reino Franco em 786. Através de uma política de colonização franca da Saxónia, deportação de milhares de Saxões e pena de morte para quem mostrasse sinais de qualquer prática pagã, a Saxónia é cristianizada. A conquista deste espaço para além da expansão territorial visava a segurança das fronteiras do Reino.
A Península Ibérica ocupada pelos muçulmanos era outra preocupação para Carlos Magno, e a estabilização desta região. Para tal estabelece uma aliança com o líder árabe de Barcelona Suleyman Ibn al-Arabi em 777, que permitiria a captura de Saragoça. Em 778 os Francos atravessam os Pirenéus, mas contrariamente ao acordado com al-Arabi e temendo uma resposta do Emirado de Córdoba, abandona o cerco à cidade.
O grande rival muçulmano de Carlos era o Emirato de Córdoba, formado pela Dinastia Omíada, que havia sido deposta do seu Califado pelos Abássidas em 750. Carlos Magno mantinha boas relações com o Califado Abássida, que permitia a livre circulação de peregrinos cristãos à Terra Santa.
De forma a garantir uma boa administração do reino que tornou-se um Império, o soberano recorria a juramentos especiais de lealdade, mas esta política levantava outra questão, os condes deixaram de agir como representantes da coroa, para serem meros vassalos. Apesar das dificuldades na centralização do poder na Época Medieval, Carlos conseguiu relativamente atingir esse objectivo, através das diversas expansões que serviam os interesses da nobreza.
Dividiu o Império em diversos distritos, compostos por municípios, aos quais designava dois emissários imperiais, um religioso e outro público, que tinham como missão a fiscalização administrativa e financeira no Império. Promoveu igualmente alterações legislativas que visavam o distanciamento do direito germânico
Pela escassez de ouro a moeda passou a ser cunhada em prata durante o seu reinado. Procedeu a uma homogeneização monetária, dos pesos e das medidas.
A partir do 800 as campanhas militares reduzem-se drasticamente e a economia altera-se. O exército carolíngio era composto por homens livres, que faziam da guerra o seu sustento. Com o fim da economia de guerra tiveram que trabalhar para Senhores proprietários de terras ou ceder as suas terras. A escravidão era proibida entre cristãos, assim os homens livres trabalhavam as terras de um senhor como forma de sobrevivência, lançando as bases para o modelo económico medieval- o Feudalismo.
A governação de Carlos Magno, também ficou marcada pelo Renascimento Carolíngio, com uma forte aposta na educação, cultura e artes.
O legado de Carlos Magno que morreu em 814 perdurou e lançou as bases que caracterizaram a Época Medieval, o feudalismo e forte presença da Igreja no dia-a-dia governativo e quotidiano, mas também criou um bloco central forte que impediu qualquer tentativa muçulmana de expansão além Pirenéus
References:
BALARD, Michel (et alii); A Idade Média no Ocidente: dos Bárbaros ao Renascimento, D.Quixote, 1994
PACAUT, M.; Les Structures Politiques de l’Occident Médiéval, Armand Colin, 1969
