A Operação Puerto é o nome dado a uma investigação sobre o uso de doping em grande escala em Espanha e no Ciclismo e que teve o seu inicio em 2006.
Era uma rede de doping generalizada em Espanha, com o Doutor Eufemiano Fuentes no epicentro da investigação, tendo ele como clientes diversos desportistas, tais como ciclistas, futebolistas, tenistas e outros atletas. À altura, a utilização de doping não era crime em Espanha mas o que estava em causa era um crime de saúde pública. Assim sendo, só os responsáveis pela rede iriam responder pelo crime e não os seus clientes. Desportivamente, houve casos de ciclistas que foram suspensos tais como Alejandro Valverde, Michele Scarponi ou Jan Ullrich.
Origem da Operação Puerto:
A investigação apenas se começou a desencadear no inicio de 2006 mas as sementes para a investigação tinham começado antes, em 2004, quando um ex-ciclista Jesus Manzano confessou a utilização generalizada de doping no ciclismo, dando nomes, contextos e práticas.
Jesus Manzano fazia parte da equipa Kelme e denunciou a dopagem na equipa através dos médicos da equipa, com Eufemiano Fuentes à cabeça, e dos métodos utilizados que consistia em transfusões sanguíneas. Recebeu ameaças de morte, foi interrogado mas a investigação não avançou em 2004 por falta de provas. Em Fevereiro de 2006, começaram a investigar a fundo, utilizando gravações e conhecimentos sobre a rede de doping que se baseava, sobretudo em Madrid, e em 3 meses, conseguiram estabelecer quem eram os responsáveis pela rede e os clientes.
Resultado da Operação Puerto:
No dia 23 de Maio, a Policia Espanhola decidiu avançar para a detenção de vários elementos. O cabecilha da rede, Eufemiano Fuentes, médico reputado em Espanha, assim como José Luis Merino, outro médico, os directores desportivos de equipas de ciclismo, Manolo Saíz e José Ignacio Labarta e Alberto León, um ex-ciclista que funcionava como “correio” da rede, um facilitador e transportador de medicamentos e bolsas de sangue para as transfusões. Comprovou-se a utilização de dopagem em grande escala, com relevo, para as auto-transfusões sanguíneas. Basicamente, era retirado sangue numa determinada altura e conservava-se para mais tarde, ser novamente reintroduzido. Facilitava a regeneração sanguínea e, assim, os atletas saiam a ganhar. Com o beneficio da maior parte das vezes não ser detetado em controlos anti-doping. Mas, também, existiam outros métodos como a CERA, uma Eritropoietina de 3ª geração, Hormonas de Crescimento, Anabolizantes e Corticosteroides. Tudo isto com planeamentos e tratamentos estipulados para cada cliente e mediante as competições onde queriam brilhar.
Os Clientes e as Sanções (ou falta delas):
A repercussão que o caso teve em Espanha e um pouco por toda a Europa aconteceu, basicamente, no ciclismo, em que se identificaram 58 ciclistas como clientes de Eufemiano Fuentes. Duas equipas espanholas tinham a maioria dos seus ciclistas implicados nesta rede, sendo que ciclistas de outras equipas, estavam também implicados. E nomes reputados e importantes no nome do ciclismo. Assim sendo, as principais instâncias do ciclismo queriam iniciar os procedimentos disciplinares para fazer a acusação aos ciclistas. O juíz do processo não facultou as bolsas de sangue nem o material apreendido para que os agências anti-doping, as federações nacionais e a UCI pudessem realizar as validações necessárias. Sobretudo, na Alemanha e em Itália, havia pressão para que lhes fosse passada as provas sobre ciclistas desses mesmos países para comprovar se esses ciclistas estavam implicados, o que viria a acontecer para alguns casos, já que foi facultado algumas das provas para respectiva confirmação mais tarde.
Em 2007, na Alemanha conseguiram provar que Jan Ullrich era um dos implicados na rede de doping e estava confirmado o primeiro cliente da rede. Jorg Jaksche, ciclista alemão, confessou que era cliente de Fuentes e os métodos utilizados. Em Itália, Ivan Basso, Giampaolo Caruso e Michele Scarponi confessaram utilizar os serviços de doping de Eufemiano Fuentes e tiveram suspensos por 2 anos. O Comité Olimpico Italiano teve acesso a mais bolsas de sangue e comprovaram que, entre elas, existia de um outro ciclista, Alejandro Valverde, e pediram a suspensão do atleta por 2 anos em território italiano e que poderia ser alargado a todo o mundo, o que veio a acontecer, segundo decisão do Tribunal Arbitral do Desporto.
Dois ciclistas portugueses viram o seu nome implicado nesta operação, no caso, Sérgio Paulinho e Nuno Ribeiro, então ciclistas da equipa espanhola da Liberty Seguros. Apesar do nome constar no processo, não faziam parte desta rede. Fuentes elaborou o planeamento desportivo da equipa de Manolo Saiz para todos os ciclistas, nos quais, estavam incluídos os portugueses, mas sem referências a produtos ou esquemas de doping para ambos.
Repercussão da Operação Puerto no Ciclismo:
O problema da Investigação da Operação Puerto é que não incidia no caso de doping mas sim num crime de saúde pública e como tal para o juiz apenas interessava saber quem o praticava. Por isso, evitou sempre que os investigadores da policia analisassem toda a prova documental das mais de 200 bolsas de sangue que existiam como prova e daí só se ter conhecimento de 58 atletas, curiosamente, todos ciclistas. Mas sabia-se que não eram só ciclistas a recorrer a Fuentes para melhorar o rendimento desportivo. Rafael Nadal (Ténis), Kiko Martínez (Boxe) e futebolistas do Real Madrid, Barcelona, Real Sociedad, Bétis e Valência foram falados como possíveis implicados na rede mas sem acusação formal.
Consequências da Operação Puerto:
A Organização da Volta a França de 2006 retirou o convite à Comunidad Valenciana e não deixou correr a equipa que se baseava na Liberty Seguros-Wurth. As duas equipas eram as mais implicadas na Operação Puerto e a Liberty Seguros retirou de imediato o seu patrocínio, tendo sido substituído por outro patrocinador, a Astana. Ainda assim, sem sucesso para a corrida francesa. Os ciclistas Ivan Basso, Francisco Mancebo, Jan Ullrich e Oscar Sevilla e o diretor desportivo, Rudy Pevenage foram impedidos de participar no Tour porque também tinham os seus nomes como clientes de Fuentes no material apreendido.
Na Alemanha se decidiu deixar de transmitir a Volta a França depois de confirmado que havia ciclistas alemães, também, envolvidos.
Em Espanha, a Operação Puerto serviu para a criação de uma nova lei anti-doping, pelo que agora, o doping é considerado crime no direito penal.
A maior parte dos ciclistas que viu o seu nome aparecer na Operação Puerto mesmo sem ter sido suspenso desportivamente, foi afectado por este caso, seja porque foram para equipas de escalões inferiores ou não encontraram equipa alguma que os quisesse contratar.
Em 2013, a sentença confirmou Eufemiano Fuentes como culpado de crime de atentado à saúde pública, com pena de prisão curta. Todas as provas utilizadas pela investigação teriam de ser destruídas. Depois de vários recursos, em 2016, Fuentes é ilibado de todas as acusações, sendo que foi dada autorização às instituições desportivas para fazer validações às bolsas de sangue.