A partenogénese é uma estratégia reprodutiva a partir da qual, ovos não fertilizados se desenvolvem em indivíduos adultos. Entre os organismos partenogénicos estão incluídas espécies de invertebrados, vertebrados e, até mesmo plantas. Ocorre por exemplo em rotíferos, tardígrados, nematodes, gastrópodes, insectos e diversos crustáceos. Contudo, mesmo os grupos onde a partenogénese é mais frequente como os afídios ou os cladóceros, não possuem apenas esta estratégia reprodutiva. Vão alternando a partenogénese com períodos em que se reproduzem sexuadamente. Os rotíferos (organismos aquáticos de dimensões microscópicas) pertencentes ao grupo Bdelloidea são uma excepção, já que, não se conhece a ocorrência de machos nesta ordem.
Dentro dos invertebrados, a partenogénese ocorre em pequenos organismos parasitas ou em organismos de vida livre que colonizam habitats extremos ou muito instáveis, como charcos e lagoas temporárias. Há um padrão de maior prevalência de espécies partenogénicas em habitats extremos ou em altitudes elevadas.
Pseudogamia
Alguns peixes e anfíbios são partenogénicos, porém, o desenvolvimento dos ovos necessita do estímulo do esperma para se iniciar. Assim, as fêmeas partenogénicas acasalam com machos de outras espécies para que o esperma introduzido produza o estímulo necessário ao desenvolvimento dos ovos. Este comportamento é designado por ‘pseudogamia’. O macho contribui com o seu esperma para estimular o ovo a desenvolver-se num embrião mas não contribui com o seu património genético.
Curiosamente, em algumas espécies de lagartos, a partenogénese desenrola-se sem a ocorrência de nenhum estímulo proveniente do esperma de qualquer macho.
Alternância da partenogénese com a reprodução sexuada
Em muitas das espécies com comportamento partenogénico, há uma alternância entre esta estratégia reprodutiva e a reprodução sexuada. Em habitats de água doce de regiões temperadas, estes animais adoptam a partenogénese durante os meses de Verão e retomam a reprodução sexuada à medida que se aproxima o Inverno. Em algumas espécies o período em que se verifica a partenogénese pode durar por diversos anos intercalados por episódios de reprodução sexuada.
Em alguns grupos de rotíferos a partenogénese é a estratégia utilizada até a população atingir um determinado tamanho populacional. A partir desse ponto crítico, poderão começar a surgir indivíduos do sexo masculino na população e ocorrência de episódios de reprodução sexuada.
Algumas espécies de parasitas como nematodes, por exemplo, possuem formas livres que se reproduzem sexuadamente e formas parasitas que se reproduzem por partenogénese.
Partenogénese nas abelhas
As abelhas constituem um exemplo interessante, já que, a rainha é fertilizada por um ou mais machos apenas uma única vez durante toda a sua vida. O esperma desses machos é armazenado nos receptáculos seminais da rainha e, caso seja libertado no momento em que ela coloca os ovos, ocorre a fertilização e os ovos dão origem a fêmeas. Se os ovos não forem fertilizados, desenvolvem-se por partenogénese, dando origem a machos.
Será que existem espécies que só optem pela partenogénese?
A identificação de espécies nas quais a partenogénese seja a única estratégia reprodutiva tem sido um dos grandes desafios dos investigadores que estudam estes grupos de organismos. Muitas espécies que se pensava serem apenas partenogénicas demonstraram optar também por outros comportamentos reprodutivos, após estudos mais aprofundados. Nalgumas espécies parece haver populações completamente partenogénicas apenas nalgumas regiões. Contudo, existem alguns animais partenogénicos para os quais nenhum macho foi identificado. Possivelmente, estas serão espécies apenas clonais, ou seja, sem reprodução sexuada, dado que o património genético vai sendo herdado de geração em geração sem a ocorrência de mecanismos de recombinação génica (mecanismos sexuados).
Por esta razão, a partenogénese parece ser um ‘fim de linha’ do ponto de vista evolutivo. A ausência de mecanismos de recombinação génica origina populações com baixa diversidade genética e mais susceptíveis a sucumbir a alterações ambientais. No entanto, existe possivelmente algum mecanismo evolutivo ainda pouco claro que permite que os diversos grupos de organismos partenogénicos, como alguns insectos ou lagartos, sejam capazes de colonizar uma imensa diversidade de habitats.
Referências bibliográficas
Kardong, Kenneth. (2006). Vertebrates – Comparative Anatomy, Function, Evolution. 4th Edition. McGraw-Hill.
Brusca, Richard C. and Brusca, Gary J. (2002). Invertebrates. Sinauer Associates, 2ª Edição.