Maré ou marés vermelhas é um termo coloquial usado para nos referirmos a uma das variedades de fenómenos naturais conhecidos como proliferações de algas nocivas ou HABs (Harmful Algae Blooms). O termo maré vermelha refere-se específicamente a grandes proliferações de apenas uma espécie de dinoglagelado conhecida como Karenia brevis. A densidade destes organismos durante um afloramento/bloom pode exceder as dezenas de milhões de células por litro de água do mar, e descoloram a água em tons castanho-avermelhados. Estes eventos ocorrem em águas de estuários, marinhas, ou doces, principalmente em zonas costeiras.
Ainda assim, a maior parte das vezes também se usa este termo para nos referirmos aos outros tipos de afloramentos (grandes proliferaçoes de microorganismos áquaticos) que provocam descolorações da água em tons amarelos, alaranjados, rosados, ou até verdes, uma vez que diferentes microalgas possuem diferentes pigmentos. Cerca de 75% das HABs (1) são causados maioritariamente por outros dinoflagelados, ainda que alguns sejam causados por outros tipos de microalgas (2).
O termo marés vermelhas encontra-se em desuso (está a ser eliminado gradualmente) entre os investigadores pelos seguintes motivos:
- As marés vermelhas não são necessariamente vermelhas e muitas não têm nenhuma descoloração em tudo;
- Não estão relacionados com os movimentos das marés;
- Este termo é imprecisamente usado para se referir a uma grande variedade de espécies de algas que são conhecidos como formadores de blooms.
Uma terminologia mais correcta para este fenomeno é o termo de proliferação de algas nocivas (HABs) ou só afloramento de algas, para se referir a espécies que não possuem toxinas.
Dinoflagelados e blooms
Dinoflagelados são um grupo muito variado de microalgas pertencentes ao fitoplâncton. Possuem células unicelulares e pertencentem ao reino Protista. Os seus pigmentos fotossintéticos são muito variados, o que se nota pelas diferentes descolorações de águas. Quando estas algas estão presentes em grandes concentrações, a superficie da água aparenta descolorada com uma cor de tons rosados, vermelhos ou até verdes e normalmente chama-se de “bloom”. Ainda assim, nem todos os blooms sao densos o suficiente para causar descoloração da água, e nem todas as descolorações da água devido a blooms contêm toxinas ou são prejudiciais (3) Adicionalmente, marés vermelhas não estão associadas com o movimento das marés, de modo que preferencialmente os investigadores usam o termo de HABs.
Algumas marés vermelhas estão associadas com a produção de toxinas, a eutrofização da água ou outros efeitos prejudiciais, e geralmente são descritas como HABs (Harmful algae blooms). Os efeitos mais notáveis das marés vermelhas estão associados com a mortalidade de animais marinhos como peixes, passáros ou mamíferos.
Karenia brevis
O dinoflagelado Karenia brevis produz uma neurotoxina muito forte, conhecida como brevetoxina (PbTx ou Ptychodiscus) que causa doenças e mortalidades em peixes, mamíferos marinhos e outros animais. O ser humano é suscetível ao efeito da exposição a brevetoxinas: quando come marisco contaminado; ou apresenta problemas respiratorios devido à inalação de aerossóis contaminados.
Por exemplo, no golfe do México, marés vermelhas são o resultado de quantidades elevadas da microalga Karenia brevis, que se encontra sempre presente mas em baixas concentrações. Em elevadas concentrações, a toxina desta alga paraliza o sistema nervoso central dos peixes, causando a sua mortalidade (4). Além disto, contaminam o marisco, e podem causar a mortalidade a mamíferos e outros animais marinos. Tudo isto causa danos económicos e por este motivo, os surtos de marés vermelhas são cuidadosamente monitorizados.
Ultimamente certos estudos têm tido como principal objectivo estudar dinoflagelados e a sua genómica. Alguns estudos incluem a identificação de genes produtores de toxinas, enquanto outros estudam o impacto que certas mudanças ambientais (temperaturas, luz, salinidades) possuem na expressão genética da alga.
Causas
Ainda que não exista uma causa especifica para os surtos de marés vermelhas, em alguns casos aparenta ser natural, (proliferações de algas ocorrem sasonalmente como resultado do upwelling de águas costeiras), enquanto que outras vezes parece ser devido ao resultado do aumento de nutrientes derivado de actividades antropológicas. A poluição de águas costeiras e o aumento sistemático da temperatura da superficie da água do mar, costumam ser implicadas como factores que contribuem para as proliferações de HABs ainda que nem sempre se encontre uma correlação precisa (1).
Prejudicio para saúde humana:
As marés vermelhas podem ser prejudiciais à saude humana devido ao consumo de ostras ou outro marisco contaminado com toxinas. Geralmente, os bivalves contêm uma elevada concentração de toxinas devido a bioacumulação. O marisco consome os organismos responsáveis pelas marés vermelhas e acumula toxinas nos seus tecidos. Uma das principais doenças denomina-se de NSP (Neurotoxic shellfish poisoning ou contaminação por marisco) e como o nome indica, é causada pelo consumo de marisco contaminado com brevetoxinas, que sao produzidas pelo dinoflagelado Karenia brevis. Sintomas de NSP aparecem como problemas gastrointestinais e neurológicos incluindo diarreia, nauseas, vómitos, formigueiro na face ou extremidades, desorientação e paralisia parcial. Os casos desta doenças são raros e geralmente ocorrem quando as pessoas consomem espécies de marisco não regulamentadas, ou recolhidos ilegalmente, ou quando os blooms se espalham para áreas geográficas não monitorizadas. As toxinas de K. brevis também podem ser aerossolizadas e espalhadas pelos ventos ou ondas. A inalação destas toxinas pode resultar em irritação conjuntival, corrimento nasal ou tosse. Em pessoas saudáveis, estes sintomas parecem desaparecer rapidamente uma vez que as pessoas deixam o local contaminado (praias). Pessoas que sofrem de asma severa parecem ser mais suscetíveis às toxinas das marés vermelhas, e estes indivíduos podem demonstrar sintomas durante vários dias (4).
Créditos de imagem: Woods Hole Oceanographic Institution
Bibliografia:
- Smayda, T.J. (1997) Harmful phytoplankton blooms: their ecophysiology and general relevance to phytoplankton blooms in the sea. Limnol. Oceanogr. 42, 1137–1153.
- Park, J., Jeong, H.J., Yoo, Y.D., Yoon, E.Y. (2013) Mixotrophic dinoflagellate red tides in Korean waters: Distribution and ecophysiology. Harmful Algae 30S: S28-S40.
- Langlois, G.W., Tom, P.D. (2001) Red tides: Questions and Answers. U.S. Government (Woods Hole Oceanographic Institute, in: http://www.whoi.edu/fileserver.do?id=47320&pt=10&p=18553
- Shumway, S.E. (1990) A review of the effects of algal blooms on shellfish and aquaculture. J.WorldAquacult.Soc.21: 65–102.