Introdução
O conceito de envelhecimento, não raras vezes, na sua definição concentra formas de preconceito e discriminação face aos idosos. Por exemplo, se as mulheres são oprimidas como resultado do sexismo, e as minorias apresentam desvantagens como fruto do racismo, de forma semelhante a idade é usada contra as camadas populacionais mais velhas. Assim se consolida o que sociologicamente foi definido como discriminação etária.
No entanto, a ordem social dominante das sociedades contemporâneas tem sido radicalmente desafiada pelas campanhas contra o sexismo e racismo, e muitos países apresentam já uma legislação concebida para terminar com modos de discriminação e garantir oportunidades iguais independentemente do género ou etnicidade. Por contraste, existe um aparato legal mínimo no que toca à idade enquanto problemática sociológica.
A discriminação etária acontece quando são vetados aos indivíduos recursos e oportunidades, restrição cujo critério se baseia principalmente na idade. Este preconceito dá-se quando os indivíduos mais velhos são percepcionados segundo estereótipos pré-concebidos e olhares negativos. No plano individual, estas acções são despoletadas pela idade cronológica ou pela aparência da pessoa: a cara, o corpo e as roupas. No plano colectivo, o envelhecimento torna-se evidente na forma como os serviços são organizados, localizados, ou descritos.
Na sua definição clássica de envelhecimento como conjunto de estereótipos e preconceitos contra os indivíduos por serem velhos, Robert Butler (1975) não concebeu o “ser velho” como problemático. No entanto, como bem observou, as pessoas velhas são categorizadas como senis, rígidas nos pensamentos e maneiras, tradicionais nas aptidões e mundividências morais, e a própria palavra “velho”, implícita ou explicitamente, exclui e homogeneiza esses grupos.
Na literatura sociológica mais recente, ao invés do termo “velho”, tem-se optado pela expressão “mais velho”, ainda que a última seja um eufemismo para o primeiro. Para os especialistas nesta matéria, tal enuncia a dificuldade de discriminar o que revela ser uma categoria por especificar. Porém, a opção por “mais velho” reflecte uma visão mais ampla do envelhecimento, isto é, um conjunto de crenças deterministas sobre a forma como as pessoas mudam biologicamente durante o curso da vida inteira. Esta conceptualização é de certa forma paralela às teorias que caracterizam o racismo e o sexismo, na medida em que às diferenças biológicas subjazem pressupostos preconceituosos, mas diferindo conquanto todas as pessoas de idade mais avançada sofrem ou podem sofrer o preconceito. Além disso, estas crenças legitimam o uso da idade cronológica na determinação das expectativas relacionadas com o crescimento pessoal e capacidade física.
No mundo moderno, tanto as crianças como os idosos mais frágeis constituem um grupo que necessita de cuidados constantes. De modo semelhante, e partindo do ponto assente de que uma sociedade organizada e avançada assim agirá, assim como as crianças necessitam de educação, também os mais idosos necessitam de uma pensão. Este e outros benefícios semelhantes são indicadores de um envelhecimento positivo. Mas se a idade cronológica é usada para determinar quem precisa de cuidados, educação, ou de uma pensão, então deparamo-nos com políticas humilhantes, isto é, indicadores de um envelhecimento negativo.
Em suma, os investigadores lidam com a seguinte tensão: será o envelhecimento um conceito que auxilia a explicar a desigualdade e a discriminação, ou um fenómeno político e cultural? No primeiro caso, deve se considerar minuciosamente como definir e estudar o tópico, ou seja, conceptualizar o envelhecimento como algo que alberga crenças erróneas sobre os factos associados a este processo biológico, alcançável por intermédio de mais conhecimento e uma melhor educação. No segundo caso está implicado que qualquer indivíduo ou organização pode agir contra as imagens preconceituosas do envelhecimento.
References:
Beauvoir, S. de (1979) Old Age. Penguin, Harmondsworth.
Butler, R. N. (1989) Dispelling Ageism: The Cross-Cutting Intervention. Annals of the American Academy of Political and Social Science 503: 138 47.