A agência é virtualmente uma categoria fundamental e fundacional em todas as ciências sociais e humanidades. Os debates sobre a agência emergiram paralelamente a estes campos, continuando inabaláveis atualmente, uma vez que não há resolução nem consenso à vista. Ao passo que inúmeros investigadores concordam que a agência, a ação e o ator, são conceitos básicos em certa medida, as controvérsias persistem quanto à definição, ao raio, e ao estatuto explicativo destes conceitos. Adicionalmente, a agência é contestada uma vez que interliga questões de peso na metafísica, filosofia e ética, tal como a problemática do livre arbítrio, a responsabilidade moral, a individualidade e os direitos subjetivos. Acrescente-se que a agência está associada ao legado do humanismo liberal que é parte do núcleo duro da cidadania democrática.
Na sociologia, o resultado deste conflito duradouro resultou numa divisão metateórica, isto é, na oposição entre agência e estrutura, micro e macro, e individualismo e holismo. No lado micro desta disputa, encontram-se os que defendem que, uma vez que os atores e as suas ações são reais, todas as coisas de cariz social devem, em última análise, ser reduzidas a ou explicadas em termos de agência. Por contraste, os arautos do lado macro defendem o estatuto emergente e irredutível das entidades sociais de grandes dimensões, como as organizações, os estados, e as estruturas sociais.
Subjacentes a estes desacordos estão alguns temas comuns. Por exemplo, a agência é a faculdade apta à ação. Esta faculdade talvez seja unicamente humana. A ação difere do mero comportamento de organismos não humanos, que são impulsionados por reflexos e instintos inatos ou condicionados. Estes organismos possuem pouco ou nenhum controlo sobre o comportamento, nem, aparentemente, apresentam consciência do Self, ou, caso contrário, não é reflexivo. Por estes motivos, o comportamento destas entidades orgânicas é provocado por forças que estes não podem compreender ou influenciar. Os atores humanos são diferentes porque têm consciência do mundo, de si próprios, e de outros atores. Em certa medida, o que fazem ou o que são, encontra-se nas suas mãos. São também abertos ao mundo, pelo que a identidade humana não está fixada de início. Tais fatores tornam o humano imprevisível, uma vez que segundo estes moldes, a ação é contingente, e o comportamento é necessário.
A faculdade para a agência está localizada na mente humana, uma vez que esta é reflexiva e deliberativa. Antes de agirmos, ensaiamos possibilidades e alternativas. A mente também alberga o sentido daquilo que somos enquanto pessoas individuais. Veja-se então a mente e o Self como as fontes para toda a ação humana.
References:
Emirbayer, M. & Mische, A. (1998) What is Agency? American Journal of Sociology 104: 962 1023.