Conceito de Self
O Self diz respeito à experiência, reflexão e consciência do Eu, sendo um conceito integrativo em Psicologia. Várias são as teorias que versam sobre este conceito, por sua vez relacionado com variáveis intrínsecas e de autorreferência, como sejam a autorregulação, a agência, a responsabilidade pessoal e, de um modo global, com o desenvolvimento do autoconceito e da personalidade.
O desenvolvimento do Self
Segundo Wolfe, o Self pode ser conceptualizado enquanto sujeito ou Eu experiencial, e como objeto ou Eu racional, enfatizando por um lado a experiência no momento presente e, por outro, a capacidade reflexiva e avaliativa ao longo do fluir da experiência.
Da dinâmica entre os dois sistemas desenvolve-se o Self, organizado em esquemas cognitivo-emocionais que se originam na relação do Eu com os outros e consigo mesmo. É a experiência reflexiva de si mesmo que permite ao indivíduo dar sentido e coerência ao que experiencia, num funcionamento ou mais ou menos coeso. Este, por sua vez, revela-se essencial na organização da personalidade, nomeadamente na articulação das incongruências entre o modo como o indivíduo pensa, sente e age, na construção de narrativas que integram o passado, o presente e o futuro, e na regulação das discrepâncias do Eu.
O desenvolvimento do Self traduz-se assim na organização da personalidade, pela construção de significados, atribuições, expetativas, emoções e afetos, bem como pelas ações ou comportamentos, que ocorrem num contexto social e cultural, numa constante interação indivíduo-meio (e.g. experiências de vinculação; práticas educativas; aprendizagem social). Esta interação constitui o meio para o desenvolvimento da personalidade, enquanto padrão ou estilo relativamente estável de pensar, sentir e agir em contexto.
Estes estilos vão sendo construídos pela aprendizagem de estratégias e recursos em resposta às exigências internas (e.g. psicológicas, conflitos internos) e externas (e.g. sociais) que proporcionam ao Eu a capacidade de se regular (cognitiva e emocionalmente) e desta forma regular, escolher e concretizar ações conscientes. A sua capacidade de agência e responsabilidade pessoal tem lugar à medida que toma consciência daquelas que são as suas motivações, necessidades psicológicas e de como satisfazê-las em prol da sua adaptação.
Surge assim a autorregulação, a capacidade do indivíduo se regular, exercendo algum controlo sobre o meio, ao invés de ser tornar objeto passivo do mesmo e dos seus impulsos. O desenvolvimento da autorregulação assume relevo por sua vez no autoconceito, na autoestima e na autoeficácia percebida. O modo como o indivíduo se percebe ou mais ou menos capaz de se regular apresenta uma ponderação no modo como este se perspetiva, como se concebe, isto é, no seu autoconceito.
O Eu apresenta também uma valência emocional, a autoestima, relacionada com os afetos e as emoções dirigidas a si mesmo. Também a perceção de controlo e de ser ou não capaz de realizar um objetivo ou tarefa se afigura uma autorreferência importante, a autoeficácia.
O desenvolvimento do Self pode deste modo ser entendido como o desenvolvimento do Eu, repercutindo-se na personalidade do indivíduo, para a qual são relevantes não só as experiências precoces, mas também as experiências que vão pautando o desenvolvimento do indivíduo nos diferentes estádios ou etapas do ciclo de vida. É também através do equilíbrio estabilidade-mudança que o Self se vai adaptando e reorganizando face às exigências com que se depara.
Palavras-chave: Self; personalidade; autoconceito; vinculação; necessidades psicológicas
References:
Wolfe, B. (2005). Compreensão e tratamento de transtornos de ansiedade. Uma abordagem integrativa para a cura do self ferido. Washington DC: American Psychological Association.