Psicoterapia no processo de luto
A importância da psicoterapia no processo de luto deve-se primeiro ao facto de que a morte é a maior certeza da vida. É preciso compreender se há necessidade de recorrer ao apoio profissional, para que o enlutado seja capaz de continuar a sua vida normal, após a assimilação do desaparecimento da figura perdida.
Diogo (2015) diz-nos que a morte faz parte da nossa existência e deve ser compreendida cronologicamente, desde o período medieval – vista como um fenómeno natural e comum – até aos dias de hoje – negada pela sociedade.
Oliveira e Lopes (2008) referem a influência dos modelos de perfeccionismo e de ideal de juventude eterna, que levam a sociedade a recusar aceitar a velhice associando-a ao termino natural da vida, como se não fosse uma condição da existência humana.
“A morte e a perda fazem parte de toda a nossa existência humana…”
(Diogo, 2015, p.2).
Os estudos de Diogo (2015) descrevem a vida e a morte como o processo de realização e individualização da pessoa e o medo da destruição que incomoda e desafia a vida.
Contudo, na época medieval a morte era natural, e quando alguém estivesse doente e morria, era colocado em valas comuns ao lado da igreja, facto este que mudou na Baixa Idade Média, com o poder da Igreja, quando a morte passa a ser vista como castigo divino do qual as pessoas tinham medo e faziam de tudo para prevenir na esperança de obter a misericórdia de Deus (Diogo, 2015).
Na Idade Moderna a morte ganha uma nova atenção e passam a existir cemitérios, separados das igrejas, até chegarmos aos dias de hoje em que a morte é recusada pela sociedade, vista como estranha, como se não fizesse parte da vida, porque provoca medo e sofrimento ao ser humano (Diogo, 2015).
Oliveira e Lopes (2008) referem que a sociedade evita o assunto da morte, tentando esconde-la, evitando demonstrar a dor da perda por parte de quem entra em processo de luto.
É por esse motivo que Diogo (2015) refere a importância do psicólogo no que concerne ao enfrentar da morte porque a sua função é orientar o paciente e os seus familiares para a aceitação da morte quando esta é inevitável.
Oliveira e Lopes (2008) consideram importante que os enlutados exponham os seus sentimentos de choque, desejo, desorganização e organização, que fazem parte do processo desde que a morte acontece até ser compreendida como real.
É preciso compreender a diferença entre luto não patológico e luto patológico, no processo psicoterapêutico, isto é, quando se trata de luto não patológico, a ajuda psicoterapêutica só deve acontecer quando o próprio enlutado a solicita por não conseguir sozinho superar a perda. Quanto ao luto patológico é necessário tratamento, através do qual a pessoa deve ser encorajada a expressar os seus sentimentos, para que possa desbloquear e seguir em frente (Oliveira, & Lopes, 2008).
Almeida, Leitune, Seger, Terner e Silva (2015) corroboram esta ideia, quando mostram que as suas pesquisas referem a dificuldade em superar, numa situação em que o enlutado se encontra permanentemente na dor, ressalvando, contudo, que o luto é normal e necessário dentro de condições naturais.
É imperativo compreender as necessidades do enlutado permitindo que este viva o luto com os rituais necessários que variam de cultura para cultura e de pessoa para pessoa (Oliveira, & Lopes, 2008).
A par disso, o luto não é vivido sempre da mesma forma, nem a intervenção é igual em todos os casos, sendo frequentemente preciso o apoio da família para contornar a perda (Oliveira, & Lopes, 2008).
Para compreender como se dá o processo de luto em cada pessoa, e importante saber como ela se relaciona com os entes queridos afectivamente, para depois compreender de que forma se desencadeia a dor sofrida aquando da perda dos mesmos (Almeida et al., 2015).
Algumas das formas mais comuns de viver o luto são a duração invariável (horas, dias, semanas ou até meses) em que a pessoa sente raiva, irritabilidade, amargura e dor que a levam a afastar-se de todos, frequentar lugares anteriormente frequentados pela figura perdida, ou chamar pela mesma, como se fosse possível recupera-la dessa forma (Oliveira, & Lopes, 2008).
Estas circunstâncias provocam desespero e desorganização que poderão acontecer em mais ou menos intensidade, que varia mediante a personalidade e o apoio da família e dos amigos (Almeida et al., 2015; Oliveira, & Lopes, 2008).
Conclusão
A morte e o luto nem sempre foram fenómenos compreendidos da mesma forma. Se na época medieval, a morte era algo esperado, ao longo do tempo isso mudou devido aos ideais de perfeição juvenil da sociedade. É necessário compreender que o luto é vivido de forma diferente de pessoa para pessoa e que no que concerne ao apoio psicoterapêutico, é preciso perceber se é ou não patológico, verificando-se isso através dos comportamentos do enlutado ao longo do tempo. Permitir que se exponham sentimentos e emoções, é fundamental para que o luto aconteça de forma equilibrada, embora não seja possível saber exactamente a partir de que momento é que o mesmo se torna patológico, o que nos permite concluir que existe uma linha ténue entre o luto natural e o patológico. Cabe ao psicólogo compreender a personalidade do indivíduo, bem como os recursos disponíveis quer por parte da família quer por parte do contexto.
References:
- Almeida, E.J., Leitune, C.S., Seger, A.C.B.P., Terner, M.L., & Silva, D.A.R. (2015). DOR E PERDA: ANÁLISE DO PROCESSO DO LUTO. Revista de Psicologia da IMED, 7(1): 15-22.
- Diogo, J.S. (2015). UM OLHAR SOBRE A FINITUDE E O ADOECIMENTO NO CONTEXTO HOSPITALAR. [em linha]. PT. O PORTAL DOS PSICÓLOGOS. www.psicologia.pt. Acedido a 24 de Fevereiro de 2016 em http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0951.pdf
- Oliveira, J.B.A., & Lopes, R.G:C. (2008). O PROCESSO DE LUTO NO IDOSO PELA MORTE D CÔNJUGE E FILHO. Psicologia em Estudo. N13, nº2, p.217-221. Acedido a 26 de Fevereiro de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/pe/v13n2/a03v13n2