Psicose Maníaco-Depressiva

A Psicose Maniaco-Depressiva é um termo criado na psiquiatria do inicio do século XX, a partir das noções de psicose, mania e depressão. A rigor, quer designar uma psicose especifica, ao lado da paranoia e da esquizofrenia.

Descreve-se como as perturbações do humor que assumem a forma de uma alternância entre os estados de agitação maníaca ou de exaltação e os estados melancólicos ou de tristeza e depressão exacerbadas. A marca desta perturbação psicopatológica, tal como em outras perturbações é invariavelmente o exagero (não teatral), o excesso, a intensidade continua.

O médico inglês Thomas Willis (1961 – 1975) foi o primeiro a ligar mania e melancolia para definir os ciclos maníacos-depressivos, definindo desta forma, esta perturbação de personalidade. A génese da noção da psicose maníaco-depressivo na nosografia psiquiátrica está presente no ICD-10 e no DSM-IV e na clinica psicológica, mais propriamente na clinica psicanalítica está presente em Sigmund Freud (1856-1939) e Mélanie Klein (1882 – 1960) em particular.

No ICD-10 – a perturbação maníaco-depressiva é definida como Perturbação Afetiva Bipolar

No DSM – IV encontramos a Perturbação Bipolar I, a Perturbação Bipolar II e a descrição dos seus componentes que devem e podem ser descritos como episódios isolados.

A Perturbação Bipolar I descreve-se na ocorrência, de um ou vários episódios maníacos ou mistos (com episódios depressivos major). A perturbação Bipolar II descreve-se na ocorrência de um ou vários episódios depressivos majores acompanhados pelo menos por um episódio hipomânico

Algumas características de diagnóstico para um episódio maníaco:

– Período diferente ou considerado anormal de humor expansivo ou irritável,

– Auto-estima grandiosa,

– Pouca necessidade de dormir

– Muito falador – (exemplo: verborreia)

– Fuga de ideias ou experiência subjetiva de aceleração do pensamento

– Dificuldade em manter a concentração

– Aumento da atividade

Entre outras.

A diferenciação entre episódios maníacos e episódios hipomaníacos é efetuada pela duração – pelo menos uma semana em episódios maníacos, três a quatro dias para os episódios hipomânicos

Algumas características dos Episódios Depressivos Majores:

– Humor depressivo a maior parte do dia

– Desinteresse ou dificuldade em obter prazer em quase todas as atividades que anteriormente davam satisfação e prazer

– Perda de peso, insónia ou hipersónia

– Agitação psicomotora

– Fadiga

-Sentimentos de desvalorização, de culpa, habitualmente inapropriada

Entre outras.

 

A Psicose Maniaco-Depressiva evolui por fases, ciclos ou sucessão de episódios maníacos versus episódios depressivos, separados por intervalos livres que são comumente chamados de regresso à normalidade.

Em Psicologia Clínica ,na vertente psicanalítica, a Psicose Maniaco-Depressiva é explicitada nas características da Psicose, em especial através dos textos de Sigmund Freud acerca da melancolia (Luto e Melancolia, 1917) e com Melanie Klein, na Teoria de Desenvolvimento Precoce (Psicanalise de Crianças, 1933)

Sem dispensar a bibliografia recente sobre a psicose Maníaco-depressiva e as características impares da Estrutura psicopatológica das Psicoses, em Luto e Melancolia, Sigmund Freud explicita que sem trabalho de luto – perda de um ente querido ou de um objeto- não se não melancolia. O trabalho de luto implica uma rutura, desligamento ou separação do objeto dado como perdido – na realidade -. Trata-se de um trabalho pelos investimentos afetivos e libidinais que estão envolvidos nesse. A perda de um objeto implica que haja uma espécie de absorção do eu nessa perda, no recuperar daquilo que se perdeu, realizando-se em esforço, com dor e sem prazer. Parte da libido está investida no objeto antigo e este já foi dado e consciencializado como perdido, o trabalho requer diminuir os danos, os sofrimentos, as dores e libertar essa parte da libido para ser reinvestida noutros objetos. Na melancolia, não se dá esse trabalho de luto, a perda é subtraída à consciência que sabe que perdeu – o objeto está perdido – mas o individuo que o perdeu, não sabe o que perdeu. Não é consciencializado. Observa-se então diminuição da auto-estima, queixas auto-referentes e hétero-referentes. Uma parte do Eu torna-se o objeto perdido. A libido livre não é deslocada para novos reinvestimentos, serve apenas para procura de identificação com o objeto que se perdeu. Isto é, não se separa realmente de um objeto perdido, morto.

Na melancolia o que se observa é o mecanismo inverso no delírio de perseguição, isto é, o perseguido projeta a sua própria agressividade – inconscientemente – no objeto, desliga-se então de uma parte de si e não do objeto.

Com Melanie Klein, explicita-se a relação objetal traduzida como triunfo maníaco sobre a perda. Não há respeito pelo objeto, pelas suas características, há sim uma solução rápida e ineficaz a longo termo. Há um controlo sobre a perda e esse controlo implica uma recusa. Segundo esta autora a perturbação maníaco-depressiva situa-se ao nível da passagem da posição esquizoparanoide para a posição depressiva. Influencia a escolhas de objeto partir das relações precoces, nas quais a origem da psicopatologia reside. A escolha de objeto será do tipo narcísica.

Palavras-Chave: Psicose Maniaco-Depressiva, Thomas Willis, Sigmund Freud, Melanie Klein, Luto, Teoria do Desenvolvimento Precoce, DSM – V, ICD-10,

Bibliografia:

American Psychiatric Association (1996). DSM – IV – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (4ª Edição) –. Lisboa: Climespi Editores (obra original publicada em 1994)

Freud, S (1917). O Luto e Melancolia. Obras Completas, Vol. XIV. (pp. 145 – 159)

Klein, M. (1997). A Psicanalise de Crianças. Rio de Janeiro: Imago Editora. (obra original publicada em 1975)

Laplanche, J. & Pontalis, J.-B. (1990) Vocabulário de Psicanalise. Lisboa: Editorial Presença (obra publicada em 1967)

Roudinesco, E. & Plon, M. (2000). Dicionário de Psicanalise. Lisboa: Editorial Inquérito. (obra original publicada em 1997)

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