Conceito de Psicoimunologia
A Psicoimunologia designa a área de estudo e investigação direcionada para a compreensão da influência de variáveis psicológicas no funcionamento e efetividade imunitária. Constitui-se assim como parte integrante da Psicologia da Saúde na interface entre a saúde física e psicológica que, deste modo, deve ser considerada no todo que é a pessoa.
Os estudos nesta área remetem para a relevância do impacto das experiências de stress na capacidade de resposta imunológica do organismo em situações de doença (e.g. doença oncológica) ou em situações de vulnerabilidade para o desenvolvimento de doenças (e.g. doenças infeciosas). Este impacto decorre da estimulação e regulação do sistema nervoso central e do sistema endócrino, que reagem aos estímulos stressores do meio, nomeadamente quando o indivíduo apresenta menor capacidade de confronto e de adaptação. A vivência de situações stressantes, traumáticas ou exigentes emocionalmente contribui assim para a vulnerabilidade psicológica e imunitária.
Neste sentido, importa salientar os estilos cognitivos, emocionais e comportamentais do indivíduo e o papel destes na regulação dos sistemas orgânicos. Os fatores psicológicos podem apresentar um impacto ou mais ou menos prolongado no organismo, verificando-se no entanto a ênfase da sua influência perante stressores crónicos, isto é, de longa duração e relacionados com o funcionamento da personalidade do indivíduo. Por exemplo, a tendência para o estilo cognitivo pautado por pensamentos negativos e destrutivos, bem como a negação ou supressão da experiência emocional funcionam, gradualmente, como elementos crónicos desestabilizares do sistema imunitário.
O suporte social e a percepção do mesmo afiguram-se, por sua vez, como factores protetores, na medida em que permitem a partilha de experiências emocionais agradáveis e desagradáveis, que humanizam a própria vivência e contribuem para a estruturação de uma narrativa que ajuda a dar sentido à experiência. Por oposição, verifica-se que o isolamento social ou a percepção de impossibilidade de partilha aumentam a susceptibilidade à doença. De facto, do ponto de vista celular, sabe-se que a produção e proliferação de linfócitos B e de linfócitos T é afetada pela repetida e prolongada ativação hormonal (eixo hipotalâmico-pituitário-adrenocortical, HPA) por sua vez provocada pela experiência de situações de elevado stress.
O conhecimento da importância das variáveis psicológicas legitima assim a área de atuação da Psicologia da Saúde, nomeadamente nos programas de promoção da saúde e prevenção da doença (e.g. doenças cardiovasculares), e nos programas de adaptação à doença (e.g. doença crónica) na gestão do stress motivado pela experiência desta. Neste âmbito, a experiência de uma situação de stress, como a de doença, encontra-se dependente não só do modo como o indivíduo avalia a situação, mas também como lida com esta.
A pertinência do acompanhamento psicológico não só na psicologia da saúde, mas também na psicologia clínica (e.g. somatização na ansiedade ou na depressão, sem doença física associada) destaca-se assim pela possibilidade de reestruturar o modo como o indivíduo interpreta uma determinada situação, já que esta influencia largamente o modo como este experiencia e regula as emoções e, consequentemente, como mobiliza recursos para agir.
Palavras-chave: Psicoimunologia; psicologia da saúde; stress; psicoterapia
References:
- Maia, A. C. (2002). Emoções e sistema imunológico: Um olhar sobre a psiconeuroimunologia. Psicologia: Teoria, Investigação e Prática, 2:207-225.
- Teixeira, J. C. (1991). Psico-Imunologia: Alguns pontos de vista psicológicos e psicopatológicos. Análise Psicológica, 9: 239-242.