Perturbação Esquizotípica

Conceito de Perturbação Esquizotípica

A perturbação esquizotípica é uma perturbação de personalidade que integra o grupo das perturbações de personalidade com características excêntricas ou bizarras (Grupo A, no Eixo II do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais). Indivíduos com perturbação esquizotípica da personalidade apresentam dificuldades constantes no relacionamento interpessoal, expressas em isolamento social e pela ausência de relacionamentos próximos e/ou desinvestimento nos mesmos.

Associado ao isolamento e ao embotamento afectivo (e.g. ausência de resposta à comunicação dos outros; experiência emocional desajustada) manifestam ainda aparência, crenças e comportamentos bizarros, não integrados no contexto sociocultural ou no nível intelectual e emocional da pessoa (e.g. maneirismos; superstições, crenças na telepatia e na leitura da mente e do futuro). A estes acrescem ainda experiências perceptivas de ilusão (e.g. experiência de estar fora do próprio corpo).

Conceptualização

Segundo alguns autores, a organização esquizotípica da personalidade é pautada por um self imaturo, no qual a experiência da fantasia e da realidade se fundem, na sequência da desorganização do pensamento, da anedonia e da alienação social e emocional. Deste modo, os indivíduos com perturbação esquizotípica desenvolvem uma lógica subjetiva, baseada confusão mental, nas suas crenças e ideias de referência, resultando num mundo interno não compreensível pelos outros, bem como em dificuldade na compreensão das normas e condutas sociais. Gera-se assim um ciclo disfuncional que perpetua o comportamento bizarro do indivíduo, já que este se retira do mundo, esmorecendo ou não desenvolvendo a sua capacidade crítica face aos conteúdos irracionais do pensamento, assim como as competências sociais.

No que concerne à história e desenvolvimento, os indivíduos com perturbação esquizotípica parecem assim ter construído uma identidade desorganizada no seio de contextos familiares incoerentes na sua comunicação e que constituíram modelos de pensamento mágico ou bizarro, como seja a atribuição de significados supersticiosos, fantasiosos ou ritualistas. São também considerados os contextos abusivos, particularmente no que respeita à tendência para o evitamento e suspeição. Estas experiências contribuem para representações deficitárias dos outros, para a ausência de motivações fundamentais e para lacunas na sensibilidade face às próprias necessidades psicológicas.

Enquanto perturbação da personalidade, a perturbação esquizotípica só pode ser diagnosticada como tal no início da idade adulta, no entanto o isolamento social bem como as dificuldades de adaptação à escola são muitas vezes experienciadas em fases mais precoces do desenvolvimento, mantendo-se na idade adulta nos contextos laborais.

De um modo geral, as características de personalidade do indivíduo evidenciam dificuldades na construção e consolidação de um self coerente e integrado, resultando em vulnerabilidade cognitivo-emocional. As experiências de desrealização e despersonalização tornam-se assim frequentes, decorrentes do vazio e ausência de significado que caracterizam as suas vivências. Acrescendo à retirada social, verifica-se a alienação e a experiência de desintegração do self, o qual é preenchido com fantasias e ilusões.

Avaliação diferencial e comorbilidade

A perturbação esquizotípica da personalidade pode ser entendida como uma perturbação integrante do espetro da esquizofrenia, não obstante se distinguir desta. A primeira pode assim constituir uma estrutura de personalidade vulnerável ao desenvolvimento da esquizofrenia, sendo a primeira considerada, num continuum designado por esquizotipia, como uma forma menos severa desta. Por outro lado, a esquizofrenia distingue-se da perturbação esquizotípica pela presença de evidentes sintomas psicóticos, já que o pensamento mágico e as crenças bizarras dos indivíduos com perturbação esquizotípica não configuram ideias delirantes ou alucinações. Contudo, em situações de stress e de despersonalização severa, a vulnerabilidade ao nível da personalidade pode facilitar o desenvolvimento de síndromes psicóticas, nas quais se verifica um agravamento da dificuldade de distinção entre fantasia e realidade bem como uma maior severidade na adaptação ao funcionamento social.

No que respeita às perturbações de personalidade, revela-se importante a distinção entre perturbação esquizotípica e esquizoide, sendo que nesta última não se verificam características de pensamento mágico; e entre a perturbação esquizotípica e paranoide, verificando-se que na primeira a suspeição dos indivíduos não resulta, regra geral, em comportamentos agressivos face aos outros e as ideias de referência remetem para as capacidades excêntricas (e.g. leitura da mente) do próprio, por oposição à suspeição das intenções malévolas dos outros.

Palavras-chave: perturbação esquizotípica; perturbação da personalidade; pensamento mágico; ideias de referência

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References:

Millon, T., & Grossman, S. (2007). Moderating Severe Personality Disorders. A personalized psychotherapy approach. New Jersey: John Wiley & Sons, Inc.

Millon, T., Grossman, S., Millon, C., Meagher, S., & Ramnath, R. (2004). Personality Disorders in Modern Life. New Jersey: John Wiley & Sons, Inc.

Rodrigues, V., & Gonçalves, L. (2009). Patologia da Personalidade. Teoria, clínica e terapêutica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

 

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