Normopatia
A normopatia diz respeito à ausência de subjetividade de alguém para reagir perante o que acontece à sua volta, numa atitude extrema de conformismo. As organizações e empresas de consultoria, são, habitualmente, os locais onde este tipo de personalidade se observa com mais frequência.
Segundo Saraiva, Mendes, Siqueira e Rodrigues (2010) a normopatia, conceituada por psicopatologistas tais como MCDOUGALL (1992) diz respeito à normalidade extrema de algumas personalidades em relação a regras de comportamento social e profissional.
Saraiva, Mendes, Siqueira e Rodrigues (2010) dizem que o conceito de normopatia ganha forma especialmente em contextos organizacionais e de consultoria devido ao funcionamento da organização, baseado numa filosofia de lógica extrema que acaba por desorganizar a estrutura individual de cada pessoa. Este fenómeno acontece devido à obsessão em adaptar-se ao modus operandi do cliente, que leva, muitas vezes a atitudes menos adequadas por parte das empresas (Saraiva, Mendes, Siqueira, & Rodrigues, 2010; Saraiva, & Mendes, 2014).
Nestas circunstancias, o normopata age com naturalidade, sem imaginação nem criatividade, sem culpa e sem a noção de que os outros não reagem da mesma forma (Saraiva, Mendes, Siqueira, & Rodrigues, 2010).
De acordo com os estudos de Saraiva, Mendes, Siqueira e Rodrigues (2010) a normopatia é vista como um mecanismo de defesa que permite o afastamento do sofrimento, e da indignação que poderia mudar determinadas realidades menos corretas, principalmente nas organizações, o que o leva a transformar-se no “colaborador ideal” porque não se sente afetado pelos obstáculos do mercado de trabalho.
A obsessão por números e o assédio moral, chegam a assumir contornos desumanos devido à total indiferença e negligência pelo sofrimento humano, assumindo-o como natural e normatizado (Saraiva, Mendes, Siqueira, & Rodrigues, 2010).
Nas organizações predomina o individualismo, a lógica extrema e a normopatia, num clima de injustiça social frequente e normalizado (Saraiva, Mendes, Siqueira, & Rodrigues, 2010; Saraiva, & Mendes, 2014).
“Ser humano, nesse sentido, é uma fraqueza porque significa ter sentimentos, lidar com emoções e incertezas, ser sujeito a erros e limitações, a algo terminantemente fora de questão na esfera organizacional. Só há espaço para super homens e mulheres maravilhas, seres que, com foco nos resultados, minimizam ou ignoram a humanidade em prol da organização.”
(Saraiva, Mendes, Siqueira, & Rodrigues, 2010, p.2).
No caso do normopata, é tarefa fácil o desembaraço perante regras absurdas, já que não sente qualquer tipo de compaixão pelo sofrimento alheio, além de considerar as regras absolutamente lógicas e passíveis de adaptação (Saraiva, Mendes, Siqueira, & Rodrigues, 2010).
Para Saraiva, Mendes, Siqueira e Rodrigues (2010) e Saraiva e Mendes (2014) as alterações económicas que proliferam nas últimas décadas levam a que o pensamento único seja visto como natural, na competição pelo espaço, independentemente das condições em que essa competição é feita.
A partir destes contornos naturalizam-se e banalizam-se comportamentos completamente focados em normatização e racionalidade que não permitem a humanização do indivíduo, ao que associam à fraqueza (Saraiva, & Mendes, 2014).
Características do indivíduo normopata
- Pensamento operatório;
- Pobreza de linguagem;
- Asfixia afetiva;
- Indiferença em relação ao mundo;
- Cumplicidade com o mal por atitude ou por falta dela;
- Pensamento estereotipado “faço porque toda a gente faz.”
- Ausência de atividade fantasmática consciente.
(Saraiva, Mendes, Siqueira, & Rodrigues, 2010, p.6).
Saraiva, Mendes, Siqueira e Rodrigues (2010) dizem que este indivíduo não somatiza mas torna-se agressivo perante algumas pessoas ou aspetos da vida, de forma irritável.
O indivíduo normopata, de acordo com Saraiva, Mendes, Siqueira e Rodrigues (2010) usa uma normalidade falsa e estereotipada que nada tem de normal, daí o termo “normopatia”. Ao contrário do psicótico, o normopata não tem capacidade subjetiva, de fantasiar, de sonhar, pois não sente motivação interna, pelo se move apenas e sempre por fatores externos (Saraiva, Mendes, Siqueira, & Rodrigues, 2010). Podemos dizer que se trata de um indivíduo anormalmente normal (Saraiva, Mendes, Siqueira, & Rodrigues, 2010).
A revisão bibliográfica levada a cabo por Saraiva e Mendes (2014) diz ainda que o indivíduo normopata se limita a produzir e a reproduzir discursos e desejos organizacionais, sem qualquer percepção da sua própria ausência de subjetividade.
Conclusão
Verifica-se que o indivíduo normopata age segundo fatores externos porque não tem capacidade de competências subjetivas, sendo desprovido de qualquer tipo de sentimento de motivação ou injustiça perante o mal que acontece à sua volta. Podemos observar estes indivíduos, frequentemente, em organizações ou empresas de consultoria devido à obsessão pelos números, pela normatização e pelo foco no cliente que desumaniza o colaborador.
References:
- Saraiva, L.A.S., Mendes, A.M., Siqueira, M.V.S., & Rodrigues, R.N. (2010). Lógica Perversa de Gestão e Normopatia: Uma Análise do Trabalho de Consultores de Mercado. [DVD]. In XXXIV Encontro do EnANPAD. Rio de Janeiro/RJ-25 a 29 de novembro de 2010;
- Saraiva, L.A.S., & Mendes, A.M. (2014). Consultores de Mercado, sua Lógica Perversa de Gestão e Normopatia. Market Cnsultants, their perverse Management Logic and Normopathy. Consultores de Mercado, su Lógica Perversa de Gestión e Normopatia. Revista Polos e Psique, 4(1): 128-145.