Ciúme patológico
O ciúme patológico trata-se de uma preocupação exagerada do enciumado, em manter a pessoa amada por perto. A patologia provoca graus insuportáveis de dor para ambos pelo que deve ser alvo de intervenção terapêutica.
O ciúme é inerente à condição humana na maioria dos casos, seja entre irmãos, entre muitas situações o mesmo é visto como uma demonstração de amor (Piccinin, & Sehnem, 2014).
De acordo com os dados da literatura, o ciúme patológico trata-se de uma condição, na qual, o indivíduo é dominado por sentimentos, pensamentos e emoções que o levam a comportamentos inaceitáveis, devido à ideia obsessiva de traição por parte do/a parceiro/a e que acaba por vitimizar ambas as partes (Val, Nicolato, Salgado, & Teixeira, 2009).
É, por esse motivo, de suma importância, compreender o processo de raciocínio adotado pelo ciumento, bem como o seu estado psíquico e a forma como manifesta a patologia, no sentido de verificar a gravidade da situação (Piccinin, & Sehnem, 2014).
Devido aos contornos obsessivos que se registam em diferentes contornos persistentes e que podem chegar ao delírio, podemos falar mesmo de perturbação obsessivo-compulsiva (POC) associada ao ciúme patológico (Val, Nicolato, Salgado, & Teixeira, 2009).
A análise destes sintomas é vista segundo diferentes graus de ciúme patológico, que vão desde o “sentir-se enciumado” até à paranoia total, expressa em forma de delírio, como já foi mencionado, que é a maior fonte de sofrimento vivida tanto pelo ciumento como da pessoa amada e que pode tornar-se perigosa devido aos eventuais episódios agressivos (Piccinin, & Sehnem, 2014). Nestes casos é importante ficar atento a qualquer risco de agressão, pois o mesmo pode chegar a resultar em crime passional (Piccinin, & Sehnem, 2014).
Para além destes sintomas patológicos o indivíduo pode apresentar ainda sintomas de paranóia semelhantes aos da psicose e, aquando do tratamento terapêutico à base de neuropléticos, pode aparecer ainda um delírio relacionado com a ideia sistemática de traição (Val, Nicolato, Salgado, & Teixeira, 2009).
No que concerne aos sintomas associados à POC, os estudos indicam que uma intervenção psicoterapêutica no âmbito da terapia cognitivo-comportamental combinada com antipsicóticos, será a estratégia de intervenção mais adequada (Val, Nicolato, Salgado, & Teixeira, 2009).
Para a maioria dos autores, é comum que o ciúme patológico despolete sintomas depressivos, pelo que, por exemplo, podem acontecer episódios de perseguição acérrima do doente em relação à pessoa amada, acompanhados de fortes sentimentos de dor emocional e interferência no dia a dia do mesmo, pelo que uma das opções farmacológicas possíveis de maior eficácia, pode ser a sertralina (grupo dos antidepressivos) (Val, Nicolato, Salgado, & Teixeira, 2009).
Nestes casos em que se observam sintomas de depressão e de POC associados ao ciúme patológico, alguns dos comportamentos mais comuns são preocupações exageradas com a opinião alheia, culpa, certificação constante de que tudo se mantem controlado na reação, mas também poucos episódios de agressão devido à depressão (Val, Nicolato, Salgado, & Teixeira, 2009).
“…o ciumento não se sente somente incapaz de manter o amor e o domínio sobre a pessoa amada, de vencer ou de afastar qualquer possível rival, sobretudo, sente-se ferido ou humilhado em seu amor próprio.” (Piccinin, & Sehnem, 2014).
Pelos estudos de Piccinin e Sehnem (2014) o indivíduo que sofre de ciúme patológico entende o mesmo como uma prova de amor, orientando-se pela ideia de “quem ama cuida”. No entanto há que compreender que o amor é um sentimento que produz preocupação e valorização de parte a parte em que a prioridade é o bem-estar de ambos (Piccinin, & Sehnem, 2014).
No caso do ciúme patológico, há uma distorção desta preocupação e valorização da relação de parte a parte, uma vez que se baseia em preocupação individual, cujo objetivo principal é assegurar a presença da pessoa amada por perto (Piccinin, & Sehnem, 2014).
Habitualmente, a perturbação que causa mais danos ao paciente é a POC devido aos contornos através dos quais a mesma é expressada (Val, Nicolato, Salgado, & Teixeira, 2009).
Conclusão
O ciúme patológico, associado, na maioria dos casos, a sintomas de POC e de depressão, leva o indivíduo a perder o controlo dos seus atos no sentido de manter por perto a pessoa amada. A patologia provoca um enorme sofrimento tanto para o ciumento como para a pessoa amada, pelo que é importante avaliar o grau de gravidade da patologia, que pode, em situações extremistas, levar à consumação de crime passional.